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Após 32 anos, Chico Pinheiro deixa a Globo: 'Graças a Deus, é sexta-feira'

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O jornalista e apresentador Chico Pinheiro no Mais Você, da Globo

Chico Pinheiro no Mais Você, da Globo; jornalista se aposenta do trabalho nesta sexta (29)

GABRIEL VAQUER E KELLY MIYASHIRO

vaquer@noticiasdatv.com

Publicado em 29/4/2022 - 10h40
Atualizado em 29/4/2022 - 11h17

Após 32 anos de casa, Chico Pinheiro deixa a Globo nesta sexta-feira (29). A saída do âncora do Bom Dia Brasil foi comunicada internamente por Ali Kamel, diretor-geral de Jornalismo da emissora. Na despedida, o executivo relembrou o bordão do apresentador nos encerramentos do telejornal às vésperas do fim de semana: "Graças a Deus, é sexta-feira!". 

O Notícias da TV teve acesso ao texto escrito por Kamel, que anunciou a saída de Pinheiro da emissora em comum acordo. A reportagem apurou que a relação do jornalista com a Globo estava desgastada há alguns meses devido a comentários de Pinheiro a favor do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. A dispensa do apresentador já era esperada nos bastidores.

Por enquanto, ainda não há um substituto para dividir a bancada do Bom Dia Brasil com Ana Paula Araújo. A escolha de quem ocupará o lugar do âncora vai ter influência direta na dança das cadeiras da GloboNews, que perdeu José Roberto Burnier para o SP2 nesta semana --após Carlos Tramontina também deixar a empresa, na qual estava prestes a completar 44 anos.

Chico Pinheiro fez as transmissões do Carnaval na semana passada, algo que havia sido acordado para uma honrosa despedida.

Nascido em Santa Maria da Boca Monte, no Rio Grande do Sul, Chico Pinheiro foi criado em Minas Gerais e se formou em Jornalismo pela PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) em 1976. O jornalista começou a estagiar em redações em 1971 no Diário de Minas e na sucursal mineira do Jornal do Brasil. 

Em 1977, Pinheiro foi trabalhar na Globo Minas, onde começou como chefe de reportagem e se tornou repórter em Belo Horizonte do Jornal Nacional após uma pós-graduação em Navarra, na Espanha.

Entre suas entrevistas mais marcantes estão Ulysses Guimarães (1916-1992); o ex-ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel, essa última censurada pela Ditadura Militar (1964-1985); e Niceia Pitta, ex-mulher do então prefeito Celso Pitta, além de coberturas de visitas de papas ao Brasil. 

O profissional teve uma passagem pela Band, entre 1989 e 1995. Em 1996, retornou à Globo como âncora do Bom Dia São Paulo, depois foi para Bom Dia Brasil e SPTV. 

Famoso por seu amor ao Carnaval, Chico Pinheiro também entrevistou grandes nomes do samba, como Zeca Pagodinho e Dona Ivone Lara (1921-2018). 

Protocolar, Ali Kamel exaltou a personalidade bem-humorada do agora ex-colega em seu texto de despedida e lamentou a partida de Pinheiro. 

"Sem perder o sotaque mineiro nem o bom humor, Chico saúda o início das semanas com um entusiasmado 'Coragem!'! E a chegada do fim de semana com 'Graças a Deus, hoje é sexta-feira!'. Este carisma transborda para a equipe, que sempre para, atenta a suas histórias", descreveu o executivo. 

"Chico decidiu deixar o dia a dia da vida de repórter, como ele faz questão de se definir. Pretende se dar um sabático e, mais adiante, se dedicar a atividades num ritmo mais espaçado. E combinou comigo que esperaria o fim de mais uma brilhante transmissão do Carnaval, a que se dedica há vinte anos, para que esse anúncio fosse feito, numa sexta-feira", explicou o diretor.

"De nós, seus colegas e amigos, fica o reconhecimento de ter convivido na redação com um dos grandes jornalistas que a televisão brasileira já produziu e uma das pessoas “boa gente” com quem já compartilhamos histórias e experiências", encerrou Kamel. 

Confira o comunicado de Ali Kamel sobre a saída de Chico Pinheiro na íntegra: 

Chico Pinheiro conquista de imediato o público em casa e seus colegas no trabalho com duas características marcantes: a língua afiada contra as mazelas do Brasil e uma simpatia contagiante. Este mineiro, cujo amor pelo jornalismo só encontra paralelo na paixão pelo Galo, não é mineiro. Nasceu em Santa Maria da Boca Monte, cidadezinha do Rio Grande do Sul. Mas foi criado em Minas Gerais, conquistou o coração dos paulistas e fez grandes amigos no Rio. Para nossa sorte, desistiu do curso de engenharia na UFMG depois de quatro anos e se formou em jornalismo na PUC-MG em 1976 (mas já estagiava em redações desde 1971, primeiro no Diário de Minas e, depois, na sucursal mineira do Jornal do Brasil). Em 1977, veio para a Globo Minas como chefe de reportagem a convite de Eduardo Simbalista, com quem trabalhara no JB. Inquieto, foi para Navarra fazer uma pós-graduação e, na volta, tornou-se repórter em Belo Horizonte do Jornal Nacional. Fez entrevistas de que se orgulha: entre muitas, com Doutor Ulysses Guimarães e o então ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel, essa última censurada pela ditadura militar.

A mudança para São Paulo foi em 1989 para apresentar o Jornal da Band, o carro-chefe da emissora. Lá foi premiado pela cobertura do impeachment de Fernando Collor e ancorou os principais telejornais da Band até 1995. O retorno à Globo, em 1996, foi como apresentador do Bom Dia São Paulo, com participação no Bom Dia Brasil, e os plantões na bancada do JN. Logo depois, Chico conquistou os corações paulistanos no SPTV - uma bancada onde brilhou por 13 anos.

Dessa época, se destaca a entrevista histórica com Niceia Pitta, ex-mulher do então prefeito Celso Pitta, sucessor de Paulo Maluf. Niceia revelou para Chico as entranhas do esquema de corrupção e pagamento de propina na prefeitura numa reportagem exibida num Globo Repórter especial sobre o caso.

Chico é sempre atento a causas sociais. Na Globo, desenvolveu o movimento “Sou da Paz”, pelo desarmamento, que se transformaria depois no instituto de mesmo nome com forte influência no que viria a ser o Estatuto do Desarmamento. É também conselheiro do movimento Todos Pela Educação e do Instituto Ayrton Senna. Graças ao trabalho no jornalismo comunitário da em SP, recebeu o título de Cidadão Honorário da capital paulista. Depois, foi agraciado com o título de cidadão honorário de Águas de Lindóia, terra de sua mulher, a jornalista, Leda Rielli, nossa colega, terra onde pretende viver um dia.

Chico cobriu as visitas ao Brasil dos Papas João Paulo II, Bento XVI e seu xará Francisco. Dessa última, tenho uma lembrança muito afetuosa, pois fui testemunha do carinho que sempre teve pelo pai, seu Antônio, católico fervoroso que gostaria de receber uma benção de Francisco. O Papa receberia convidados de pessoas ligados de alguma forma aos organizadores da Jornada da Juventude, que a Globo apoiou. Era tudo muito restrito, mas o empenho de Chico era tão comovente que consegui um convite para o seu Antônio. Ocorre que Chico estava preocupado com o bem-estar do pai, já idoso, que chegara muito cedo ao Palácio São Joaquim. Apesar de saber que ele seria bem cuidado, Chico não conseguia descansar: queria estar por perto para cuidar do pai, algo quase impossível, mesmo para ele. De repente, quando olho para o lado, lá estava Chico, ao lado do pai. Como ele entrou? Ele gosta de dizer que fez como a água, que sempre encontra um caminho por onde passar.

Em sua trajetória, entrevistou grandes nomes das artes no Espaço Aberto da Globonews, como Dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Walmor Chagas, Nathalia Timberg e tantos talentos dos palcos. Dessa experiência, nasceu o Sarau, programa que é ainda hoje um dos maiores arquivos de gênios de nossa música, entrevistados com habilidade, elegância, deixando sempre o convidado se sentindo em casa.

A competência e a popularidade trouxeram Chico para o Rio em 2011, para assumir a bancada no Bom Dia Brasil. Chico já participava do programa entrando de São Paulo e passou a ancorar o telejornal, primeiro ao lado de Renata Vasconcellos e depois de Ana Paula Araújo. No Bom Dia, cobriu eleições presidenciais no Brasil, as manifestações de 2013, Copas, Olimpíadas, guerras, desastres e tudo mais que tenha sido notícia nesses onze anos.

Sem perder o sotaque mineiro nem o bom humor, Chico saúda o início das semanas com um entusiasmado “Coragem!”! E a chegada do fim de semana com “Graças a Deus, hoje é sexta-feira”. Este carisma transborda para a equipe, que sempre para, atenta a suas histórias.

Depois de 51 anos de jornalismo diário, 32 deles na Globo, em comum acordo com a emissora, Chico decidiu deixar o dia a dia da vida de repórter, como ele faz questão de se definir. Pretende se dar um sabático e, mais adiante, se dedicar a atividades num ritmo mais espaçado. E combinou comigo que esperaria o fim de mais uma brilhante transmissão do Carnaval, a que se dedica há vinte anos, para que esse anúncio fosse feito, numa sexta-feira. Talvez para poder dizer com força o seu bordão, cuja origem, apesar do significado mais ligeiro, ele explicou assim, numa entrevista: “As pessoas me perguntam por que eu digo isso, me perguntam se eu não gosto de trabalhar. O motivo na verdade é outro. Na sexta, a gente cumpriu o dever, a gente navegou pela vida durante a semana, conhecendo coisas, aprendendo coisas e procurando melhorar. E sexta-feira, claro, é o começo de estar mais com os amigos, de estar mais relaxado e de se sentar à mesa para partilhar o que foi vivido durante a semana com o companheiro, aquele com quem como o pão, aqueles com quem divido a minha mesa. Essa alegria do encontro, em geral, acontece na sexta-feira”.

De nós, seus colegas e amigos, fica o reconhecimento de ter convivido na redação com um dos grandes jornalistas que a televisão brasileira já produziu e uma das pessoas “boa gente” com quem já compartilhamos histórias e experiências.

Entre mim e Chico fica carinho e amizade, e muitas sextas feiras por vir.

A ele, agradeço em nome da Globo por toda a contribuição que deu ao nosso jornalismo.

Ali Kamel


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