Nicole Puzzi
Divulgação/Canal Brasil
Nicole Puzzi em gravação da quarta temporada do Pornolândia, programa do Canal Brasil
FERNANDA LOPES
Publicado em 9/6/2017 - 5h31
Boa parte da vida profissional de Nicole Puzzi foi ligada ao sexo. A atriz de 59 anos começou a carreira nos anos 1970 e ficou conhecida como musa da pornochanchada. Hoje, apresenta o programa Pornolândia, no canal Brasil, é autora de cinco livros e produz uma peça de teatro. Ela confessa que já sofreu muito preconceito na carreira e até ficou deprimida, mas não se abala mais com as críticas.
"Por eu ter sido muito bonita, ligada à sensualidade, sofri discriminação que talvez nem prostituta sofra no Brasil hoje em dia. Eu sofri muito preconceito. Se eu falo que escrevi um livro, as pessoas vão dizer: 'A Nicole Puzzi escreveu um livro, pelo amor de Deus'. Acham que obrigatoriamente eu tenho que ser burra, desinformada e depravada. Eu sou totalmente o contrário disso. Embora as pessoas tenham mudado muito, o meio [artístico] ainda discrimina bastante as pessoas que lidaram com a sexualidade e não estavam na Globo", declara.
Nicole chegou a atuar em quatro novelas da Globo e conta que é reconhecida por isso até hoje, mas enfrentou tempos difíceis na década de 1990. Sem papéis na TV e no cinema e desprezada por seu passado, entrou em depressão.
"No final dos anos 1990, fui afetada pelo preconceito que tinha em cima de mim por eu ter sido atriz da pornochanchada. Me deixei abater, até porque eu trabalhava muito, não tirava férias, não parava um minuto. Quando eu entrei em depressão, escrevi um livro, fui morar na Itália e voltei com tudo. Mandei tudo para o quinto dos infernos, mandei todos os preconceitos para as putas que os pariram, a verdade é essa", conta.
divulgação/Canal Brasil
Nicole Puzzi entrevista Chico César em episódio da quarta temporada do Pornolândia
Volta ao trabalho
Em seu retorno ao Brasil, Nicole atuou em duas novelas do SBT (Marisol, em 2002, e Amor e Revolução, em 2011), escreveu livros [espíritas, de autoajuda e um sobre a história da região conhecida como Boca do Lixo, em São Paulo], peças de teatro e virou apresentadora.
No próximo dia 14 estreia a quarta temporada de Pornolândia, que ela comanda no canal Brasil. Na atração, entrevista anônimos com histórias curiosas e personalidades da arte, da sociedade e da política. Sempre sobre sexualidade.
"Eu fui achando que ia fazer um ano [do Pornolândia] e pronto. Mas o programa tomou projeção muito boa. O que tem de fãs, pessoas que vêm falar comigo, comentar, é uma coisa impressionante. [Do início para cá] Houve evolução em todos os sentidos, minha como apresentadora, da mensagem, da sexualidade", diz.
Nesta temporada, as entrevistas mais marcantes para Nicole foram com os cantores Zeca Baleiro, Chico César e com uma professora da USP que estuda a assexualidade (ausência de desejo sexual). Mas a apresentadora conta que já recebeu convidados bem mais inusitados.
"Já tivemos padre, pai de santo, todos são pessoas abertas, não tive nenhuma restrição. Faço perguntas que eu faria na minha casa. Falamos de sexo com respeito à sexualidade da pessoa que está ali naquele momento. Entrevistei uma menina que era prostituta, fazia filmes eróticos, tinha um relacionamento lésbico e era evangélica. Eu vou criticar? De forma alguma. Não tenho problemas de conversar com ninguém, a pessoa me aceita do jeito que eu sou porque eu aceito a pessoa do jeito que ela é", afirma.
reprodução
Cena do filme erótico Eu (1987), com Monique Lafond, Nicole Puzzi e Tarcísio Meira
Erotismo social
Para Nicole, o preconceito com orientações e opções ligadas à sexualidade ainda é muito forte porque "tem muito fiscal de sexo alheio no Brasil. A pessoa pode tudo que ela quiser no sexo, mas fiscaliza o sexo alheio. Você não pode usar uma saia e a pessoa já está falando, mas às vezes ela não tem nem caráter. Eu não sou fiscal de ninguém. Acho que quem não respeita a sexualidade alheia está mal consigo mesmo", alfineta.
O passado no cinema de pornochanchada fez com que ela encarasse de frente o machismo e o conservadorismo, mas Nicole procura deixar as mágoas para trás e exaltar o trabalho feito nessa época.
Ela se prepara para escalar duas antigas colegas de filmes para uma peça que produz (sobre mulheres que foram estrelas de um cabaré de Santos), e também faz questão de levar atores, diretores e técnicos de seus longs para participarem do Pornolândia.
"Acho que vai ser o único registro histórico que eles vão ter na televisão. É uma homenagem e uma gratidão que eu tenho com esse pessoal. Eu nunca fui tão feliz profissionalmente na minha vida quanto fui na época da pornochanchada e estou sendo agora com esse programa", revela.
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