ANÁLISE
Estevam Avellar/TV Globo
Regina Casé, Supla e Heslaine Vieira nos bastidores da estreia da sitcom Tô Nessa
Historicamente conhecida por seu padrão de qualidade, a Globo vez ou outra desliza e comete atrocidades em sua programação. Foi assim, por exemplo, com o humorístico Divertics (2013-2014) e com o game Zig Zag Arena (2021), produtos que a emissora gostaria de deletar de seus arquivos. A sitcom Tô Nessa, lançada no domingo (13), tem tudo para se juntar a essa lista seleta (e infame) de fracassos --a atração estrelada por Regina Casé é a pior comédia que a emissora já produziu.
O curioso é que a série chegou com pedigree. Regina, além de interpretar a protagonista Mirinda, também criou Tô Nessa em parceria com o cineasta Jorge Furtado (do premiado Ilha das Flores e da elogiada Mister Brau). No elenco, nomes como Luana Martau, Heslaine Vieira e Valentina Bandeira, que já provaram seus talentos em outros projetos.
Só que, aqui, a comédia simplesmente não funciona. A tentativa de construir situações engraçadas fracassa, as supostas "piadas" não têm graça e até o roteiro não faz muito sentido --a "resolução" do primeiro episódio, com uma aparição de Xande de Pilares, não trouxe nenhuma conclusão efetiva à trama desenvolvida no dia.
Para piorar, os atores parecem desconfortáveis com a missão quase impossível de transformar aquele material em um compromisso semanal para o público. E as duas grandes inovações do formato --a presença de uma banda e o palco em 360°, com a plateia no centro-- não foram exploradas. Para o espectador, aliás, o "formato revolucionário" do cenário sequer ficou claro.
A impressão que se tem ao ver o primeiro episódio é de que até a equipe compreendeu que tinha um produto confuso nas mãos. Tanto que Regina surgiu logo no início do episódio para explicar quem é quem, em vez de deixar o público descobrir a personalidade de cada um no decorrer da história.
As comparações com o Vai que Cola são inevitáveis, mas a comédia exibida pelo Multishow tenta, pelo menos, construir uma narrativa a cada episódio --e o elenco consegue arrancar algumas risadas do público quando foge do roteiro e cai no riso dos próprios improvisos.
A coerência de Tô Nessa ainda se tornou vítima da própria edição. Fica a dúvida se o roteiro era longo demais e precisou ser cortado às pressas --no mesmo esquema do Esquenta! (2011-2017), também comandado por Regina Casé na Globo, que gravava horas de material bruto para tentar encaixar tudo em 90 minutos (com intervalos).
Apesar de todos os defeitos, o programa teve uma estreia decente na audiência. Em São Paulo, marcou 9,5 pontos, um aumento de 6% em relação aos quatro domingos anteriores --desconsiderado o de eleições municipais. Resta saber se esse público vai voltar para os próximos episódios...
O programa marca a volta dos investimentos da Globo no Humor --setor que tinha subido no telhado após o escândalo envolvendo Marcius Melhem--, e toda iniciativa em conteúdo original deve ser valorizada. Infelizmente, a primeira empreitada do núcleo liderado por Patricia Pedrosa sob a gestão de Amauri Soares não passa de um tiro na água.
Fica a expectativa de que a diretora consiga se sair melhor nas próximas empreitadas. Porque, depois de ver apenas um episódio de Tô Nessa, posso afirmar, com toda a certeza, que eu não quero mais estar nessa.
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