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NA NETFLIX

Explosiva, Ozark retorna mais House of Cards do que nunca e coloca personagens no limite

REPRODUÇÃO/NETFLIX

A atriz Laura Linney aponta uma arma em cena como Wendy em Ozark

A atriz Laura Linney em cena como Wendy em Ozark, série disponível na Netflix

HENRIQUE HADDEFINIR

Publicado em 31/3/2020 - 5h53

Há algo de triste a respeito da vida do pobre Marty Byrde (Jason Bateman), protagonista de Ozark, cuja terceira temporada chegou à Netflix na última sexta (27). Ele foi parar na vida do crime para se salvar porque não havia nada mais que pudesse fazer. Trabalhou arduamente para conseguir proteger a família. Agora, inebriada pela chance de ter controle sobre algo, é sua mulher quem está prestes a implodir tudo.

Com isso, Ozark segue os passos de The Sopranos (1999-2007), que mostrava o crime sob a perspectiva da família. Mafiosos sociopatas também se preocupam com a mensalidade dos filhos e têm mulheres que precisam de satisfações sobre o que estiver acontecendo. Elas, aliás, em algum momento vivem o conflito de continuar casadas ou não; ou simplesmente de como se aproveitar disso.

Isso ocorreu, por exemplo, com as mulheres de Mad Men (2007-2015), Breaking Bad (2008-2013), House of Cards (2013-2018), entre outras. E, como ocorreu no drama político, que aos poucos foi dando mais destaque à presença de Claire (Robin Wright), a ponto de os roteiristas a elevarem ao cargo de maior importância da série. Aparentemente, Wendy (Laura Linney) quer o mesmo para si em Ozark.

Quando a segunda temporada terminou, Marty tinha encontrado uma forma mais rápida e eficiente de continuar lavando dinheiro: a administração de um cassino. Uma ótima solução, pois se tratava de um negócio lícito, com muito fluxo de dinheiro, e Ruth (Julia Garner) poderia cuidar de tudo tranquilamente.

O problema é que desde que todo o drama da família Byrde começou, Wendy não foi só seduzida pela ideia de se envolver no processo, como começou a ter aspirações megalomaníacas. Basta prestar atenção em seu olhar cínico e sua postura arrogante nos novos episódios, quando ela começa a trabalhar para tentar comprar outros cassinos, mesmo que pelas costas de Marty. De fato, ela cria até mesmo uma relação com o chefe do cartel.

É bem verdade que --como todos os maridos desse tipo de ficção-- Marty começa a tentar atrapalhar a mulher, e isso vai causar consequências mais graves. A proximidade com Helen (Janet McTeer) é preocupante, e a chegada de Ben (Tom Pelphrey), irmão bipolar de Wendy, é o mesmo que aguardar uma bomba-relógio.

Como sempre acontece todos os anos, os episódios iniciais preparam as tensões. É impressionante como o descontrole dos personagens vai piorando o cenário, e tudo chega a um extremo inédito. Ozark, que nunca foi covarde na hora de eliminar personagens, reinventa essa regra ao "matar" vários deles de dentro para fora.

Há uma nova narrativa para Darlene (Lisa Emery), mas a personagem é um ponto que ficou um pouco adormecido esse ano. A trama envolvendo o FBI se arrasta um pouco, embora haja alguns corpos providenciais pelo caminho. Mas isso é parte do DNA do gênero, e nada soa negativamente aleatório.

Jason Bateman (vencedor do Emmy de melhor direção) e Julia Garner (que ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante) continuam fazendo um bom trabalho, mas a performance de Laura Linney é impressionante. Quando a personagem chega ao ponto de perceber de verdade onde se meteu, Laura encontra o apogeu da própria atuação. O penúltimo episódio, sobretudo, é sensacional.

Essa reta final, inclusive, vai fazer o telespectador se revirar na poltrona, gritar com os personagens, sofrer por antecipação e levar uns bons sustos. A dramaturgia da série se conduz tão seguramente que as tensões enchem os episódios de embates maravilhosos. Há apenas um pequeno e desnecessário exagero, que se situa na condução de um dos filhos de Marty. Nada que prejudique o resultado final.

Com um encerramento totalmente aberto, que tornará a espera angustiante, a terceira temporada de Ozark termina sem deixar nada a desejar às outras duas. Há até uma vantagem: ela revira as zonas de conforto dos personagens, nos faz enxergá-los sob outras perspectivas e cria uma deliciosa alternância de torcidas. Bons dramas, que sabem manipular referências, são assim.

As três temporadas de Ozark estão disponíveis na Netflix.


Este texto não reflete necessariamente a opinião do Notícias da TV.

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