American Crime
Fotos: Divulgação/ABC
O ator Benito Martinez faz um imigrante ilegal nos EUA na 3ª temporada de American Crime
JOÃO DA PAZ
Publicado em 20/6/2017 - 6h01
A frase que sintetiza o sonho americano, que diz que todo homem é criado com direitos iguais à vida, à liberdade e à busca da felicidade, cravada na Declaração da Independência, é totalmente desconstruída na terceira e última temporada de American Crime, que estreia no canal AXN nesta terça (20), às 22h. Nela, os imigrantes sofrem com trabalho forçado e humilhação. E as crianças e os jovens são viciados em drogas e inseridos numa rede de prostituição.
Assinada por John Ridley, vencedor do Oscar por 12 Anos de Escravidão (2013), American Crime faz jus ao rótulo de série mais polêmica da TV ao encerrar seu ciclo. Já falou de racismo às avessas e injustiça social na primeira temporada. No segundo ano, foi a vez de estupro masculino e homossexualidade. Agora, toca em um assunto desconfortável não só para os EUA, mas para dezenas de países.
Quem, afinal, aceitaria trabalhar em uma plantação colhendo tomates no sol a pino? Na série, para cortar custos e não perder o lucro, uma família rica no Estado da Carolina do Norte contrata imigrantes ilegais para fazer essa tarefa ingrata, em condições desumanas, que beiram a escravidão.
Os homens, em sua maioria mexicanos, recebem pouco pela alta carga horária de trabalho. Acatam as brutalidades dos seus chefes e chegam a ser agredidos. No fim do dia, tentam descansar em um trailer no qual dormem 20 trabalhadores.
É também apresentada uma imigrante haitiana que chega à "terra dos livres", como diz o hino norte-americano, para ser empregada de uma família de classe alta. A humilde Gabrielle (Mickaëlle X. Bizet) não fala inglês, apenas francês, e rouba a cena nesta temporada. Ela trabalha no lar do empresário Nicholas Coates (Timothy Hutton) e de sua mulher, a dona de casa Claire (Lili Taylor).
As duas formas de imigração e trabalho ilegal são apresentadas de uma maneira pontual para levar o telespectador a questionar os próprios valores e opiniões sobre o tema. Esse é um dos trunfos de American Crime, o que faz dela ser uma série única na TV. Não há como se sentir indiferente a cada história contada.
A jovem de 17 anos Shae Reese, interpretada por Ann Mulvoy Ten, é uma prostituta na trama
Essa sensação se repete ao acompanhar a rotina dos jovens na trama. Enquanto uma, com apenas 17 anos, está presa em uma rede de prostituição, outro é viciado em medicamentos, usados para aguentar o trabalho braçal na plantação.
Baixa audiência, mas aclamada
American Crime foi considerada uma série de TV fechada exibida em rede de sinal aberto, por trazer palavrões (censurados por uma tarja preta), além de temas mais pesados. A rede ABC até se esforçou para manter a série no ar, mas teve de anunciar o cancelamento após a terceira temporada.
A produção terminou a temporada 2016-2017 com a pior audiência da emissora. Entre o público adulto, também ficou com a lanterna em comparação com as outras três rivais diretas (NBC, Fox e CBS).
"Eu agradeço imensamente a ABC por apostar em uma série como essa", disse Ridley, em painel no seminário da TCA (Associação dos Críticos de Televisão dos Estados Unidos), em janeiro. "É incrível como uma empresa que depende de audiência abriu espaço para uma série que realmente tem importância."
Ao matinal Good Morning America, da própria ABC, a atriz Felicity Huffman tocou em um ponto importante que ajuda a entender a relevância da série.
"Como atriz, não temos a oportunidade de usar nossa arte para fazer parte da mudança, de integrar um movimento", falou. "Eu me sinto sortuda de estar em American Crime, porque eu acho que é isso [participar da mudança] que eu estou fazendo."
Pelas duas primeiras temporadas, American Crime recebeu 14 indicações ao Emmy. Foram duas vitórias na premiação, ambas de Regina King, na categoria melhor atriz coadjuvante em minissérie ou telefilme.
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