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SÉRIE DE ESPIÃ

Com espionagem e reviravolta, Queen Sono é a primeira produção africana da Netflix

REPRODUÇÃO/NETFLIX

A atriz Pearl Thusi com um vestido rosa de um ombro só e o cabelo preso em coque em cena da série Queen Sono

A atriz Pearl Thusi em cena como Queen Sono, protagonista da primeira série africana da Netflix

HENRIQUE HADDEFINIR

Publicado em 2/3/2020 - 5h16

Queen Sono, a espiã vivida pela atriz Pearl Thusi, é uma mulher forte e que joga conforme as próprias regras, mesmo que isso não seja o melhor para si. A série que leva o nome da protagonista e é cheia de ação e reviravoltas é a primeira produção da Netflix feita inteiramente na África.

Esse é um dos aspectos mais marcantes da atração, criada por Kagiso Lediga e disponível na gigante do streaming no mundo todo. Além de ser a primeira série construída inteiramente no continente, elenco e equipe são formados por nativos. A história trata de temas que se correlacionam diretamente com a rotina política e social da África do Sul, mais especificamente.

A produção da série em território africano não deixa de ser um grande avanço para a ampliação do mercado, que pode afetar positivamente o consumo nas grandes áreas do continente em que o acesso à internet ainda é um problema.

No Congo, por exemplo, uma parcela muito pequena da população tem uma rede forte o suficiente para serviços de streaming. A Netflix chega, também, para impulsionar o mercado em várias vertentes.

O investimento não foi em vão. Queen Sono chegou ao cátalago da plataforma com uma trama enxuta, mas correta. A protagonista de Pearl Thusi é uma espiã controversa que carrega o legado da mãe revolucionária que morreu quando ela era uma menina. O país inteiro reverencia essa mulher, enquanto ela mesma tem uma relação truncada com essas memórias.

Ainda assim, Queen sabe que alguma coisa de muito errada aconteceu no dia fatídico em que sua mãe foi morta. Com o assassino prestes a sair em condicional, ela resolve tirar algumas dúvidas.

Branca cruel

O que acontece em seguida deflagra uma série de tensões entre a agência para qual a mocinha trabalha e dois outros eixos narrativos: o governo e uma empresa prestradora de serviços envolvida com atividades terroristas.

A série divide bem essas duas linhas dramaturgicas, fazendo com que uma rivalidade lenta e gradual se crie entre a protagonista e a vilã, dona da empresa prestadora de serviços, que é, não por acaso, uma das poucas pessoas brancas do elenco. Ekaterina Gromova (Kate Liquorish) é a típica malvada das histórias de espionagem: fria, cruel e russa.

De fato, Queen Sono é uma série construída em torno de obviedades do gênero. Toda a paleta de dados e detalhes de uma "história de espiões" é copiada e colada dentro da realidade africana. Mas, exatamente por estarmos falando dessa realidade, é que podemos considerar a vitória da série em imprimir sua marca em um exercício tão claro de reprodução.

Há na história uma discussão válida que também costumamos ver em outras produções em que o patriotismo é tensionado por causa da interferência de outras nações, como na série Homeland, por exemplo.

Queen está trabalhando numa agência que luta pelo país e, ao lado dela, terroristas agem em pontos extremos pensando estarem fazendo a mesma coisa. Essa dinâmica é bastante positiva.

Línguas nativas

Além disso, a direção dos episódios privilegia as paisagens africanas com muita competência, e os roteiros têm o cuidado de manter um equilíbrio entre o inglês (falado na África do Sul) e línguas nativas como o zulu, o afrikaans e o swahili.

Conforme a história avança, o pouco valor de produção aparece na maneira como as histórias fogem de conflitos muito eloquentes que pudessem gerar muitos gastos. Isso é compensado com embates bem ensaiados da protagonista com seus inimigos, no melhor estilo ação, tiros e pancadaria. A personalidade de Queen e sua audaciosidade são sempre muito bem marcadas nos roteiros.

Sobretudo em seu último episódio a série cresce bastante, toma decisões difíceis e prepara um terreno de conflitos que podem ser ainda maiores em uma segunda temporada. Fica a sensação de que a Netflix tomou a decisão certa ao dar ao continente africano uma voz ativa no mercado do entretenimento.

Ainda que atrelada a clichês do gênero espião, Queen Sono está à altura da beleza e complexidade que exalam de seu solo. Os seis episódios da primeira temporada já estão disponíveis na Netflix desde 28 de fevereiro.


Este texto não reflete necessariamente a opinião do Notícias da TV.

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