Volta ao armário de Xana escancara conservadorismo em Império

No começo de Império, causou certa estranheza ver Ailton Graça dando vida à cabeleireira Xana Summer. Exuberante, Xana marcou sua presença pelo exagero: figurino esvoaçante, mal ajambrado, maquiagem carregada e o ator um tom acima com gritinhos que lembravam grunhidos de gato. Aos poucos, porém, foi ganhando espaço na trama e a composição de Graça foi se tornando, se não natural, ao menos aceitável.

Xana tem um pé na comédia e outro no drama, que ameaçou ser intensificado com a disputa pela guarda do menino Luciano (Yago Machado), mas até agora, nada. Airton protagonizou monólogos emocionantes em cenas nas quais se martirizava por ter entregue o garoto ao juizado de menores. A história, entretanto, parece ter ficado de lado. 

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Embora Santa Tereza seja o núcleo da protagonista Cristina (Leandra Leal), é Xana quem centraliza todas as outras tramas que se passam por lá: da vilã Cora (Drica Moraes) a Ismael (Jonas Torres), o catador de lixo coadjuvante. Sua casa abriga, ainda, mais cinco personagens: Naná (Viviane Araújo), Vicente (Rafael Cardoso), Juju Popular (Cris Vianna) e seu filho, e Lorraine (Dani Barros).

Interessante, a personagem tem várias facetas que vão sendo reveladas aos poucos. Foi capoeirista e enfermeiro, conforme já dito em cena. Também mostrou o bom coração que tem ao abrigar Luciano, filho de uma amiga que antes de morrer lhe pediu para que cuidasse do garoto. Seu senso de justiça é enorme e não hesita em defender até mesmo quem não lhe desce, como é o caso de Cora, a quem chama de Dona Cobra.

Sem contar quando Adalberto, o homem que existe dentro dela, resolve aflorar e descer uns sopapos em que se mete com ela, como Robertão (Rômulo Arantes Neto), que apanhou por chamá-la de boiola.

E Adalberto vem ganhando cada vez mais espaço na história de Xana. Sua relação com a manicure Naná ainda não é clara _vale ressaltar que a dobradinha entre os atores rende bons momentos. Recentemente, Aguinaldo Silva revelou que Xana não é gay. É, no máximo, um crossdresser, um homem que gosta de se vestir de mulher, sem ter de ser classificado dentro de um gênero. O próprio (ou a própria) explicou que gosta de se vestir de mulher por “satisfação pessoal”. “Xana é Xana e ponto”, definiu, sem definir nada, a amiga Juju.

Essa volta ao armário de Xana, que no começo da história esboçou um amor platônico por Elivaldo (Rafael Losso), é uma concessão ao conservadorismo do público, que não aprovou, por exemplo, o envolvimento de Cláudio (José Mayer) e Leonardo (Klebber Toledo), na mesma novela. Aguinaldo Silva, por sua vez, também mostra-se um tanto conservador, uma vez que vive dizendo que suas novelas “são exemplares” e que beijo gay só acontece em sua própria casa.

De fato, não é preciso que Xana seja gay ou levante bandeiras em nome de alguma causa. A definição aqui nada muda o caráter da personagem, que já mostrou ser uma das mais justas da novela, mas seria, meramente, um esclarecimento para o público e uma maneira de não comprometer a personagem. Talvez mais surpresas surjam por aí...

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