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Análise

Sem fôlego na reta final, Os Dias Eram Assim se arrasta por mais uma semana

Fotos Reprodução/TV Globo

Sophie Charlotte em cena; atriz se despede da protagonista Alice após cinco meses de trama - Fotos Reprodução/TV Globo

Sophie Charlotte em cena; atriz se despede da protagonista Alice após cinco meses de trama

MÁRCIA PEREIRA

Publicado em 8/9/2017 - 5h41

Os Dias Eram Assim se arrastará por mais dez dias até exibir seu último capítulo. Com 20,9 pontos de média em São Paulo, a novela das onze é considerada um sucesso maior do que Verdades Secretas (2015), mas chega à reta final sem fôlego. Há uma contradição entre a apatia da trama e os números de audiência, turbinados por A Força do Querer.

O que o público verá nos cinco capítulos que restam até o dia 18, uma segunda-feira? A eterna sofrência dos mocinhos e o destino trágico de alguns personagens, como manda o clichê do gênero. O assassinato de Arnaldo (Antonio Calloni) ressurgirá das cinzas para quem ainda lembrar dessa história. O grande algoz do enredo, Amaral (Marco Ricca), por ironia ou não, terminará na política e com carreira promissora.

Inicialmente pensada para ser uma novela das seis, a produção, a primeira a ganhar o título de surpersérie da Globo, começou a perder fôlego ainda no primeiro mês de exibição. Mas virou o jogo no Ibope graças a uma estratégia da emissora.

A trama sempre ia bem às segundas-feiras, exibida logo após A Força do Querer. E ia mal às quintas, quando passava depois da série Vade Retro. A Globo simplesmente trocou a novela de lugar com a finada série, e o ibope pulou da casa dos 12 pontos para mais de 20 nesse dia da semana. 

A história do folhetim ganhou alguns ajustes, mas seguiu o curso já traçado na sinopse. Mesmo assim, não conseguiu repercussão nem com cenas mais ousadas, bem dirigidas e fortes, como de estupro, assassinatos, sexo a três e tortura.

Se despede com mais pontos negativos a serem destacados do que positivos.

Entre seus acertos, estão a abordagem delicada e realista da Aids nos anos 1980, a história do país ambientando o romance em plena Ditadura Militar (1964-1985) e a boa atuação do elenco.

Confira o melhor e o pior da trama:

Beijo de Monique (Letícia Spiller) e Maria (Carla Salle); trama teve sexo a três na segunda (4)

Mocinha manipulada e cega
Alice (Sophie Charlotte) entrou em cena como uma heroína ousada, rebelde, apaixonante. Aos poucos, virou uma mulher manipulada e cega. Não perdeu alguns de seus encantos, mas foi difícil engolir tanto choro em cena.

Casal gay sem pegada, sem carisma
Uma das tramas que mais prometia era a do cantor Leon (Maurício Destri), pois encenaria a revolução sexual e exaltaria as artes. Sua paixão por Rudá (Konstantinos Sarris) foi desenvolvida, mas muitos telespectadores nem deram bola para o casal. Fora do armário, eles continuam trancados na falta de emoção que a relação passa.

Falta de ritmo e muita repetição
O ritmo pausado e didático deu sono. A trama teve ainda repetições: dois estupros seguidos; mocinha dopada pelo marido duas vezes; Amaral e Vitor surtando com seus copos de uísque nas mãos. 

Alice (Sophie Charlotte) e Renato (Renato Góes) fugiram da repressão no capítulo de estreia

Estrelas para Maria Casadevall e Julia Dalavia
Daniel de Oliveira (Vitor) fez da trama seu palco, Marco Ricca (Amaral) deu raiva várias vezes e Susana Viera (Cora) também. O elenco teve ótimos momentos em cena, mas Maria Casadevall (Rimena) e Julia Dalavia (Nanda) merecem mais aplausos. Duas personagem fortes, complexas e bem defendidas por suas intérpretes.

Aids nos anos 1980
Se Julia Dalavia comoveu com o drama da Aids na novela é porque o texto de Angela Chaves e Alessandra Poggi foi sensível e realista. Deixou todo o núcleo de Nanda atordoado. E ainda resgatou uma memória que estava esquecida e serve de alerta.

Aula de história para novas gerações
Os "Anos de Chumbo" ambientaram o folhetim e promoveram aulas de história para o brasileiro. O telespectador viu o que motivou o Golpe de 1964 e como o regime militar agiu durante anos, calando quem ia contra. Também propôs uma reflexão sobre o cenário político, mostrando esquemas de corrupção nas décadas de 1970 e 1980 _e que perduram até hoje.

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