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Análise | Série

Mister Brau entretém ao mesmo tempo em que denuncia racismo no Brasil

Tatá Barreto/TV Globo

Lázaro Ramos em cena de Mister Brau, série da Globo que dá pratagonismo a atores negros - Tatá Barreto/TV Globo

Lázaro Ramos em cena de Mister Brau, série da Globo que dá pratagonismo a atores negros

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 24/10/2015 - 16h33

Em um dos episódios da série Mister Brau, no ar toda terça na Globo, Brau (Lázaro Ramos) corta a mão enquanto toca um tambor e precisa de um curativo. Lima (Luís Miranda), um dos músicos de sua banda, lê na embalagem que o produto é “da cor da pele” e, pronto, o conflito está instalado: da cor da pele de quem? Nem Brau nem Lima têm a coloração da cútis no mesmo tom do produto. O músico, então, tem uma visão e decide lançar um esparadrapo para negros.

O mote pode parecer bobo, mas revela uma vocação da série para discutir um assunto muito mais amplo: a presença do negro na televisão e, em menor grau, o racismo no Brasil.

Além de Ramos, Taís Araújo marca presença como Michele, a mulher, empresária e dançarina exuberante do músico de sucesso internacional que se faz presente não só por meio de seu trabalho, mas também por sua personalidade extravagante.

Eles se mudam para um condomínio de luxo e as constantes festas que promovem incomodam os vizinhos, em especial Andrea (Fernanda de Freitas). Mas fica implícito ali que não é o barulho que faz com que ela torça a boca em relação aos novos vizinhos: logo no primeiro episódio é ela quem chama a polícia ao ver Brau e Michele na piscina da mansão, acreditando que os dois são bandidos. 

Brau foi ainda acusado de racismo ao escrever uma música para a Venezuela, considerada ofensiva. Foi uma sacada subversiva que deu aos autores a chance de mostrar um texto engraçado sem deixar de cutucar também a ferida socioeconômica. O advogado Henrique (George Sauma) discursou em defesa do músico, ressaltando as discrepâncias sociais existentes no Brasil.

Trazer o negro para o protagonismo de uma série de TV é um passo que o veículo dá com certo atraso. Ainda que as novelas já tenham dado espaço para eles, a presença de atores negros em papéis de destaque e relevância é muito pequena. Com Mister Brau, a discussão volta à tona, e o seriado ganhou repercussão fora do país, como em um elogioso texto no jornal inglês The Guardian, salientando essa problemática retratada no programa.

Importante ponto da narrativa do seriado, a música tem papel central em Mister Brau e sempre foi um recurso que rende situações a ser exploradas dramaturgicamente _é bem verdade que a TV brasileira tenta, mas até hoje ainda engatinha para promover um produto ficcional em que a música também ganhe destaque.

No seriado, porém, é por meio dela que se mostra a ascensão social dos protagonistas e como eles lutam por seu espaço, sem que para isso seja preciso levantar bandeiras _o que torna a série mais leve e nada panfletária, ainda que alguns diálogos de vez em quando pendam para uma vocação de “Relatório do IBGE”, com dados estatísticos sendo falados a torto e a direito. 

Como lacuna, cabe apontar um problema com o elenco, ótimo, mas repetitivo. Luís Miranda e George Sauma também podem ser vistos fazendo humor nas noites de sábado, no Zorra. Fernanda de Freitas e Kiko Mascarenhas (Gomes) mal saíram de Tapas e Beijos e já estão no seriado que ocupou a vaga das noites de terça.

Mas muito mais do que o discurso social, a série de Jorge Furtado tem seu mérito no entretenimento a que se propõe. Equilibrada, ela diverte e ao mesmo tempo não deixa de dar voz às diversidades brasileiras.


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