Análise | Teledramaturgia
Inácio Moraes/ Gshow
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 13/8/2016 - 6h32
É pouco comum ver atores estreantes em novelas com um papel de destaque, principalmente aqueles capazes de movimentar a história como um todo. Lucy Alves, a Luzia de Velho Chico, foge à regra. Com um papel difícil, a atriz vê a importância de sua personagem crescer a cada dia no folhetim das nove da Globo.
Só a título de comparação, a mais experiente Dira Paes poderia ter sido uma escalação óbvia para interpretar Luzia, deixando Beatriz, a professora coadjuvante, para Lucy. Mas a direção optou pela ousadia. Deu certo: a novata encarou o desafio logo em seu debute em telenovelas e não decepcionou.
Revelada na primeira edição de The Voice Brasil (2012), Lucy estrelou o musical Nuvem de Lágrimas até que conquistou o papel na trama de Benedito Ruy Barbosa. Luzia é a personagem feminina mais complicada da história, com nuances bem maiores do que a própria mocinha, Maria Tereza (Camila Pitanga). Com ares de vilã, transita entre o amor desmedido que sente por Santo (Domingos Montagner) e a loucura que esse sentimento provoca nela.
A dificuldade de composição aumenta quando Luzia é contraposta ao carisma da protagonista. Mas a personagem tem frases de efeito e bordões, como as expressões "catraia" e "cutruvia", usadas para se referir à Tereza, que são ditas com naturalidade, coisa difícil em uma novela marcada pelo barroquismo excessivo da direção.
Na tentativa de salvar seu casamento, Luzia traz um pouco de dinamismo à modorra da história, ainda que viva metendo os pés pelas mãos. Mais recentemente, com o ego ferido, envolveu-se com Carlos Eduardo (Marcelo Serrado), mas logo sentiu o peso da culpa em sua consciência. Lucy Alves conseguiu passar ao público a angústia da personagem sem apelar para recursos interpretativos baratos.
Caiuá Franco/TV Globo
A atriz Lucy Alves ganha mais espaço em Velho Chico ao interpretar a sertaneja Luzia
Responsável pelo maior desentendimento da novela, o afastamento de Santo e Tereza, Luzia fez uso de um recurso pra lá de manjado nas telenovelas, o da carta interceptada. É primário, mas essencialmente folhetinesco. Velho Chico prova que, apesar de toda a tecnologia à disposição hoje em dia, a boa e velha carta continua funcionando.
As cenas em que Luzia se atormenta com a possibilidade do fim de seu casamento ganham um tom especial, dando à atriz a chance de mostrar seu lado musical. Ao encarnar a "louca da sanfona", Lucy mostra a multiplicidade de personalidades existente dentro de sua personagem e cresce ainda mais na trama.
Por fim, o entrecho que se avizinha, de que no passado Luzia foi estuprada e dessa violência nasceu Olívia (Giulia Buscacio), se não justifica seu temperamento indócil, ao menos explica a origem de seu amargor. Além disso, a personagem vira peça central para o desenvolvimento do romance jovem da novela, entre Olívia e Miguel (Gabriel Leone).
Visivelmente bem dirigida, Lucy Alves dispensa caras e bocas e em momento algum sente-se amedrontada diante de um papel de tamanha magnitude em sua estreia. É um talento que a Globo descobriu, lapidou e certamente saberá usar em produções futuras.
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