Análise | Teledramaturgia
Reprodução/TV Globo
Isabella Santoni em A Lei do Amor; personagem entra na classe das filhas mais chatas da TV
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 5/11/2016 - 7h57
Manoel Carlos fez escola. A classe das "filhas mais chatas da história da teledramaturgia nacional" acaba de ganhar uma nova aluna: Letícia (Isabella Santoni), a herdeira pentelha de Helô (Claudia Abreu), em A Lei do Amor, a novela das nove da Globo. Mimada e imatura, a personagem parece ser um misto de outras célebres rebentas das Helenas do autor de Em Família (2014).
A começar por Camila (Carolina Dieckmann), em Laços de Família (2000), com que Letícia guarda a maior semelhança por também sofrer de leucemia. Diferentemente da primeira, o calvário de Letícia com relação à doença já foi superado, mas inconscientemente ela usa a fragilidade de sua saúde para chantagear e prender a atenção não só da mãe como também do namorado, Tiago (Humberto Carrão).
A disputa que a menina vive travando com Helô faz lembrar, também, outras figuras nada agradáveis que circularam pelo Leblon de Maneco. Joyce (Clara Marins), de História de Amor (1996), e Maria Eduarda (Gabriela Duarte), de Por Amor (1998), estavam no mesmo patamar de chatice que Letícia se encontra hoje e provocavam a mesma raiva no público.
Reprodução/tv globo
Carolina Dieckmann em cena de Laços de Família em que teve de raspar os cabelos
Embora seja insuportável, Letícia tem papel central na configuração do principal conflito de A Lei do Amor: o relacionamento de Helô e Pedro (Reynaldo Gianecchini). Já está mais do que óbvio que a menina será o ponto fraco da heroína, e a tensão existente entre Letícia e Pedro tende a aumentar ainda mais quando for revelado que ele é seu verdadeiro pai, uma vez que ela já deixou bastante claro que não o suporta.
É necessário reconhecer, ainda, que Isabella Santoni, em sua primeira incursão no horário das nove, desempenha com segurança um papel difícil, a ponto de provocar nos telespectadores e nas redes sociais a torcida contra sua personagem.
Letícia não chega a ser irascível porque apresenta uma ingenuidade que pode cativar o público: é manipulada descaradamente pelo pai de criação, o inescrupuloso Tião (José Mayer), por quem ela morre de amores.
Tião usa a filha para conseguir se aproximar ainda mais da família Leitão e colocar em prática seu plano de vingança contra Magnólia (Vera Holtz). O empresário faz de tudo para que o casamento da garota ocorra, e Helô já percebeu a atuação insidiosa do marido para cima da filha.
Só que, apaixonada que é por Tiago, Letícia não percebe que está sendo vulnerável ao plano do próprio pai e, assim, se coloca contra a tentativa da mãe de livrá-la de um casamento infeliz.
Justamente em Tião está a exacerbação de um clichê das telenovelas que beira à psicanálise: a filha que idolatra o pai e o filho, Edu (Matheus Fagundes), que apoia a mãe. A configuração familiar desse núcleo deixa os polos da disputa do amor de Helô e seus filhos freudianos demais. Não chegam a ser ruins, apenas sem sutileza alguma como são apresentados ao público.
Passional, Letícia é a típica personagem que o público adora odiar. Enjoadinha e infantil, não chega a arrebatar seguidores pois ainda não disparou frases de efeito que conquistam fãs, mas não será surpresa nenhuma se surgirem por aí grupos na internet que demonstrem o quanto a odeiam, tal qual as filhas criadas por Manoel Carlos na época em que suas tramas eram levadas ao ar.
► Curta o Notícias da TV no Facebook e fique por dentro de tudo na televisão
► Siga o Notícias da TV no Twitter: @danielkastro
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.