Crítica | Novela das sete
Ellen Soares/TV Globo
Murilo Benício, Isabelle Drummond e Cláudia Abreu em cena de Geração Brasil, novela da Globo
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 12/8/2014 - 20h08
Atualizado em 14/8/2014 - 5h56
Passado o período da Copa do Mundo, a expectativa era a de que a trama de Geração Brasil, novela das sete da Globo, deslanchasse. Mas o que ocorreu foi o inverso: a história criou uma barriga enorme e parece não sair do lugar. A seguir, cinco motivos que explicam a frustração com Geração Brasil, como vilão tardio, tramas sem empolgação e linguagem estranha:
1. Casal morno
O casal Davi (Humberto Carrão) e Manu (Chandelly Braz) vem caindo na monotonia e corre o risco de entediar e desagradar ao público. Sem um impeditivo forte o bastante para separá-los (sim, em novela, casal só é feliz no final) o romance dos dois segue morno, sem liga. Houve o cúmulo de apresentar uma cena em que eles, em vez de se beijarem em um raro momento sozinhos, vão para o computador jogar. No mínimo estranho.
Na história, porém, não faltam alternativas para criar impeditivos a Daviela, como ficaram conhecidos: Igor (Samuel Vieira), o irmão da protagonista, é bipolar e vive se metendo em confusão, mas isso não perturba o relacionamento dos dois.
Manu tem ainda o pai preso, o que poderia potencializar o drama da mocinha; os conflitos profissionais podem surgir entre eles (e os autores já deram mostras disso, mas até agora não desenvolveram nada), e tem ainda a formação do triângulo com Megan (Isabelle Drummond), capaz de dividir a opinião do público, bem como a entrada de Artur (Dudu Azevedo) na história.
2. Linguagem de nerd
Ainda que tenha sido suavizada, a linguagem nerd causa, sim, estranhamento. A sorte da novela é que a personagem de Taís Araújo (Verônica) é muito popular e, por meio dela, que se diz “analfabyte”, há identificação com os telespectadores que não entendem muito de tecnologia. Mas um personagem só não faz uma novela, e é preciso estender esse estranhamento tecnológico para outras figuras. Tem ainda o inglês dito em cena _são expressões pequenas, mas que não são compreensíveis para todos.
3. Metalinguagem e interatividade não funcionam
Passado o concurso Geração Brasil para escolher o sucessor de Jonas Marra e o período da Copa do Mundo, o aplicativo desenvolvido para a trama, o Filmaê, parece ter sido deixado de lado _nem de longe foi uma febre como o vídeo das empreguetes de Cheias de Charme (2012).
Para tentar aproximar a história do público brasileiro, os autores investiram em um novo programa, o Geração Nem Nem, que pretende discutir a ociosidade de boa parte dos jovens brasileiros. Mas até agora o discurso politizado (e chatíssimo) não contribuiu para o andamento da novela, muito menos para a empolgação do público.
4. Tramas paralelas chatas
Frias, sem o menor sinal de empolgação, as tramas paralelas da história cumprem um único papel: cozinhar o telespectador enquanto a história principal não acontece. Barata (Leandro Hassum) é um personagem potencial e poderia ter mais espaço dentro do núcleo principal, mas a opção por focar em seu Varejão deixa a história girando em círculos e, mais uma vez, cansativa.
5. Vilania tardia
Os autores demoraram três meses para revelar que Herval (Ricardo Tozzi) é o grande vilão da história. Nesse meio tempo, a novela seguiu sem vilões, problema semelhante ao que ocorreu em Em família (2014). Glaucia Beatriz (Renata Sorrah) é a pedra no sapato do filho e cumpriria tal função, mas até agora ninguém sabe o verdadeiro motivo de sua relação conflituosa com Jonas.
Para não dizer que há uma completa ausência de maldades, tem Bóris (Flávio Pardal), antagonista de Ernesto (Felipe Abib), um personagem secundário.
Geração Brasil não chega a ser um fracasso como foi a sua antecessora, Além do Horizonte, mas está longe de ser um sucesso. É de se lamentar que uma novela com tantas expectativas chegue à sua metade esgotada e seguindo em ponto morto.
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