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Análise | Telejornalismo

Com entrevista exclusiva de líder palestino, GloboNews faz 'golaço'

Divulgação/GloboNews

O jornalista Roberto D'Ávila, da GloboNews, posa para foto com o íder palestino Mahmoud Abbas - Divulgação/GloboNews

O jornalista Roberto D'Ávila, da GloboNews, posa para foto com o íder palestino Mahmoud Abbas

CARLOS AMORIM, Especial para o Notícias da TV

Publicado em 28/4/2015 - 15h43

O telejornalismo brasileiro marcou, ontem (27) à noite, um gol de placa. A entrevista do jornalista Roberto D'Ávila com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, exibida pelo canal pago GloboNews, foi uma das melhores coisas de jornalismo na TV nos últimos tempos. Talvez a melhor. Mereceu até um espaço no Jornal Nacional, muito raro no gênero. Pena que o JN, na afobação natural de um novo formato, estreando cenário que exige malabarismos dos âncoras, exibiu um trecho de Abbas em árabe, sem legendas ou tradução. Foi até engraçado, obrigando Bonner e Vasconcellos, a dupla de apresentadores, a tentar arrumar as coisas de improviso.

Mas o que importa é que Roberto D'Ávila, com aquele jeitão elegante e discreto, deu conta do recado. Sem alterar o tom de voz, tocou nos pontos mais delicados. Aliás, o repórter penou durante um ano para conseguir a exclusiva. Foi em Hamalah, na Cisjordânia, justamente no quartel-general da antiga Organização para a Libertação da Palestina (OLP), onde Yasser Arafat comandou a resistência contra Israel. O líder palestino, com tranquilidade, afirmou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Nethanyahu, é um “extremista de direita que não deseja a paz”.

Abbas acrescentou: os palestinos, apesar da dificuldade para implantar um Estado próprio, “renunciaram à violência e acreditam na política e na diplomacia”. Quer dizer, evoluíram da luta armada contra Israel e do terrorismo (vale lembrar os ataques do grupo Setembro Negro, nos anos 1970, nas Olimpíadas de Munique) para formas pacíficas e de convencimento. Mas lamentou que Israel não aceite uma paz duradoura.

Perguntado se confiava no presidente Barack Obama, respondeu de forma transversa: os Estados Unidos “não cumpriram os compromissos assumidos com a Palestina, mas são decisivos para a solução” dos conflitos no Oriente Médio. Em relação ao Hamas, o grupo radical islâmico que governa a Faixa de Gaza e é inimigo da ANP, apesar de ser palestino, explicou: “Nossas diferenças não são religiosas ou ideológicas”, porque o Hamas quer “seu próprio Estado em Gaza”. Mahmoud Abbas foi além: o Hamas é mais útil a Israel do que aos palestinos.

Um dos pontos mais fortes da entrevista foi quando o líder palestino definiu o Estado Islâmico como “uma organização criminosa e terrorista que deve ser combatida”. Contou que os extremistas islâmicos invadiram um campo de refugiados palestinos na Síria e cometeram atrocidades. E relacionou a violência sectária à crise permanente entre árabes e judeus, que, segundo ele, só será resolvida com a criação de uma Nação palestina independente. No subtexto dessa resposta quase pudemos ouvir: é o ódio contra Israel que fomenta o terror.

O Brasil, assim como outros 194 países, reconhece o Estado palestino. Temos até uma embaixada na Cisjordânia. A respeito disso, o presidente da ANP destacou: somos um país amigo que entende os problemas do Oriente Médio. Quase disse que era amigo de Lula e Dilma Rousseff, com quem esteve ao nos visitar. Ao final, o repórter perguntou: “o senhor não se emociona, não chora de vez em quando”? Mahmoud Abbas foi seco: “Na política não cabem emoções”.

Em pouco menos de uma hora, o programa se tornou um episódio que dignifica a profissão do jornalista.  


CARLOS AMORIMé jornalista. Trabalhou na Globo, SBT, Manchete, SBT e Record. Ocupou cargos de chefia em quase todos os telejornais da Globo. Foi diretor-geral do Fantástico. Implantou o Domingo Espetacular (Record) e escreveu, produziu e dirigiu 56 teledocumentários. Ganhou o prêmio Jabuti, em 1994, pelo livro-reportagem Comando Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado e, em 2011, pelo livro Assalto ao Poder. É autor de CV_PCC - A Irmandade do Crime. Criou a série 9 mm: São Paulo, da Fox. Atualmente, dedica-se a projetos de cinema.


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