Crítica | Suspense policial
Reprodução/TV Globo
Os atores Bruno Gagliasso e Bárbara Paz em cena de Dupla Identidade; série da Globo
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 21/11/2014 - 19h31
Atualizado em 24/11/2014 - 19h04
Dupla Identidade, série que vai ao ar nas noites de sexta feira na Globo, guarda muitas semelhanças com produções gringas, em especial com a britânica The Fall _o roteiro que mostra os dois lados de uma mesma moeda, o do serial killer e o da polícia, além da fotografia muito próxima dos dois produtos.
Mas passados quase dois meses da estreia, Dupla Identidade já conquista espaço e delineia sua própria marca. O suspense psicológico é um atributo de roteiro pouco explorado na ficção televisiva brasileira e por isso o produto já larga em vantagem. O texto da série em nada lembra o rocambolesco enredo de Salve Jorge (2012), última novela de Gloria Perez, a autora.
A força de Dupla Identidade, sem dúvida, está na interpretação de Bruno Gagliasso. O ator vai do cinismo ao encantamento em questão de segundos e está em seu melhor desempenho na televisão. Seu olhar é um dos pontos mais impressionantes de sua atuação: louco, dissimulado, sedutor, desafiador.
O fato de ter uma nova vítima a cada episódio dá dinamismo à série (exceto nos dois últimos), e o jogo de gato e rato travado entre a polícia e o serial killer torna-se um atrativo para o público. A construção do personagem é forte, e essa fortaleza é fruto de uma extensa pesquisa que Gloria Perez fez antes de começar a escrever Dupla Identidade.
A cena em que Edu devaneia com a adolescente Tati (Brenda Sabryna) pendurada em cima da banheira onde se refresca foi muito bem realizada. A opção por uma narrativa fragmentada, não linear (a cena foi mostrada entremeada com a conversa dele com a garota) deu um ar de modernidade ao roteiro.
O mesmo pôde ser observado na sequência em que o psicopata imagina a delegada Vera (Luana Piovani) torturada da mesma maneira que a garota. Sobre essas sequências, a direção e o rock and roll da trilha sonora foram essenciais para conferir o aspecto macabro que o subtexto da série pede.
Existe, ainda, o contraponto entre a frieza e a desfaçatez de Edu com o desequilíbrio emocional de sua namorada Ray (Débora Falabella), o que só fortalece o caráter doentio do protagonista. Débora tem em mãos a personagem mais difícil do programa, pois pode subitamente não agradar ao público por ser fraca, enjoativa e pegajosa. Mas a atriz vem driblando as armadilhas e mostra-se segura em cena.
Já Luana Piovani optou por uma atuação mais mecânica, com pouca emoção, seca e dura, porém não menos sensual. Por se tratar de outra personagem central da trama, o público poderia torcer mais por ela, mas esse distanciamento que a atriz imprimiu à personagem atrapalha um pouco essa identificação imediata. Mesmo assim, também está correta dentro de um elenco marcado por atuações interessantes e surpreendentes.
Marisa Orth distancia-se de seus tipos cômicos habituais, ainda que sua Sylvia carregue um quê de humor sarcástico, e Aderbal Freire-Filho (Oto) é uma “cara nova” (no veículo) bem-vinda à televisão.
A possibilidade de uma segunda temporada da série já foi aventada pela emissora. Gloria Perez, porém, sinalizou que pretende passar a bola para uma equipe de roteiristas. Tal desprendimento pode dar mais respiro à história, uma das melhores e mais interessantes produzidas pela emissora nos últimos tempos.
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