'Humanização' 2
João Cotta/TV Globo
William Bonner, que gastou dois minutos e 14 segundos para justificar falha de Patrícia Poeta
CARLOS AMORIM - Especial para o Notícias da TV
Publicado em 6/6/2014 - 0h55
Atualizado em 7/6/2014 - 7h44
RESUMO: Ao justificar falha da colega Patrícia Poeta, flagrada fazendo alegados exercícios fonoaudiólogicos, William Bonner desperdiçou tempo considerável, mais do que o normalmente dedicado às notícias. Em um mundo repleto de conflitos, o apresentador teve comportamento infantil ao usar um espaço que deveria ser destinado a fatos relevantes
O Jornal Nacional (Globo) brindou o público, na última quarta-feira (4), com uma performance insólita. Na abertura do telejornal, logo após a escalada de notícias, o apresentador William Bonner chamou a atenção do expectador com a frase inesperada: “Antes de começar, Patrícia, eu quero dizer uma coisa que não deu tempo de dizer ontem...”.
Pronto. Quem estava em casa se preparou para uma bomba. Mas o que aconteceu foi uma longa brincadeira envolvendo o âncora do JN, Patrícia Poeta e Galvão Bueno. Durante longuíssimos dois minutos e 14 segundos, tempo muito superior à média do que é dedicado às notícias, a trinca ficou discutindo uns ruídos estranhos que Patrícia fez no ar, dois dias antes.
Descobrimos, no desenrolar da conversa supostamente divertida, que a bufada feita pela jornalista tinha sido “um exercício fonoaudiólogico”, seja lá o que isso quer dizer. Talvez algo destinado a “esquentar as cordas vocais”, coisa que também aprendemos. Bonner estava na bancada do JN, enquanto Patrícia e Bueno estavam no frio da Granja Comary, sede dos treinamentos da seleção brasileira, ao vivo. Justamente por causa desse frio, na verdade em torno de dez graus Celsius, a apresentadora precisava desse agora famoso “exercício fonoaudiólogico”, como ela disse. Bonner chegou a explicar: a tal extravagância era recomendada pela fonoaudióloga Débora Feijó, que atende ao elenco da Globo.
Aumentando o constrangimento, Bonner comentou que também faz os exercícios, mas, no carro, a caminho da emissora, ou, na redação, de modo que o público não fica sabendo. Mas, convenhamos, que importância tem isso? Em um país de tantas mazelas e emergências, em um mundo marcado por disputas e conflitos, que diferença faz descobrirmos a natureza dos ruídos estranhos produzidos pelos apresentadores de notícias?
O episódio parece ter algo a ver com o que os especialistas em comunicação costumam chamar de “infantilização do jornalismo” na televisão. Na edição da última quarta-feira, Bonner adentrou essa categoria, descrita pelos acadêmicos.
Aliás, recordar é viver. A dupla de apresentadores do JN protagonizou outros eventos semelhantes. Um ano antes, o âncora apareceu empurrando um funcionário da emissora que tentava arrumar o microfone dele, justo no momento da transmissão ao vivo. Bonner fez questão de lembrar: “Entrei para a história empurrando um profissional”. Como se isso fosse “histórico”.
Patrícia Poeta já corrigiu erros de informação do parceiro no ar. E levou um troco desagradável: ao final de uma das edições do telejornal, quando passavam os créditos de encerramento, Patrícia se levantou e levou uma bronca do colega. Um expectador, bastante gozador, fez uma dublagem hilária dessa cena e postou no YouTube. Com uma voz idêntica à de Bonner, é possível ouvir: “Não, não, não, ainda não acabou essa porra, senta aí, caralho...”. Clique aqui para conferir.
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CARLOS AMORIMé jornalista. Trabalhou na Globo, SBT, Manchete, SBT e Record. Ocupou cargos de chefia em quase todos os telejornais da Globo. Foi diretor-geral do Fantástico. Implantou o Domingo Espetacular (Record) e escreveu, produziu e dirigiu 56 teledocumentários. Ganhou o prêmio Jabuti, em 1994, pelo livro-reportagem Comando Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado e, em 2011, pelo livro Assalto ao Poder. É autor de CV_PCC - A Irmandade do Crime. Criou a série 9 mm: São Paulo, da Fox. Atualmente, dedica-se a projetos de cinema.
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