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FOLIA SEM GRAÇA

Análise: Globo se esforça, mas seu Carnaval na TV é um convite ao sono

Reprodução/TV Globo

O repórter Márcio Canuto usa óculos escuros para parecer descontraído no Carnaval da Globo - Reprodução/TV Globo

O repórter Márcio Canuto usa óculos escuros para parecer descontraído no Carnaval da Globo

LUCIANO GUARALDO

Publicado em 10/2/2018 - 4h30
Atualizado em 10/2/2018 - 6h03

Com investimento pesado em infraestrutura e a escalação de seus principais repórteres para a cobertura, é notável o esforço da Globo para transformar a exibição dos desfiles de Carnaval em um evento interessante. Porém, com mais de oito horas de evento, que se estendem madrugada adentro até as primeiras horas da manhã, não há tecnologia de ponta que prenda a atenção do público em casa.

Quem já foi ao Anhembi ou à Sapucaí pode afirmar: assistir à passagem de uma escola de samba pela avenida ao vivo é uma experiência que muda a vida. A energia da bateria e a beleza dos desfiles contagia o público no sambódromo. Nada disso, porém, é transmitido pela TV. Os 65 minutos de desfile parecem uma eternidade.

No comando da festa, Monalisa Perrone e Chico Pinheiro são esforçados: é fácil perceber que os dois fizeram a lição de casa. Os apresentadores visitam os barracões, conversam com carnavalescos e estudam o enredo de cada agremiação. Porém, mesmo com tantas informações em mãos, os dois não conseguem evitar alguns momentos de silêncio constrangedor.

Os comentaristas Aílton Graça e Alemão do Cavaco também não se saem muito melhores em suas funções. Obviamente apaixonado pelo Carnaval, o ator acha tudo lindo e só faz elogios, mesmo quando a escola na avenida enfrenta problemas com alegorias ou quando os componentes precisam correr para encerrar o desfile a tempo.

Já Alemão solta informações sobre cadência, ritmo e batida musicais como se o público de casa fosse especialista. Se um leigo sofreria para entender o que é um compasso composto 6 por 8 enquanto está desperto, esperar que compreenda isso às 4h da madrugada é absurdo.

Também chama a atenção o despreparo de alguns repórteres para a cobertura. No primeiro dia de desfiles, a repórter Patrícia Falcoski se referiu à cantora Mart'nália como "amiga" de Martinho da Vila _ela é filha do sambista. Outros jornalistas pecam pela falta de bom senso: tentar entrevistar um puxador de samba enquanto ele canta a música é, no mínimo, irritante.

Não dá para negar que a Globo tenta fazer algo interessante. Com dezenas de câmeras na avenida (e no ar), uma "bolha de vidro" para o qual leva bons personagens e uma produção caprichada, a emissora tem potencial para brilhar. Uma pena que a energia do Carnaval, de alguma forma, não se transfira para a telinha. A folia, na TV, é um convite ao sono.

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