Empacaram no Ibope
Raphael Dias/TV Globo
Pedro (Reynaldo Gianecchini) e Tião (José Mayer) em cena violenta de A Lei do Amor
MÁRCIA PEREIRA e FERNANDA LOPES
Publicado em 14/12/2016 - 5h20
O último grande sucesso da faixa das nove da Globo foi Império, de Aguinaldo Silva, encerrada em março de 2015. De lá para cá, foram 548 capítulos de quatro novelas. A "maldição das nove" começou com a inicialmente ousada Babilônia. Depois, A Regra do Jogo, Velho Chico e A Lei do Amor sofreram para dar mais de 30 pontos no Ibope. Em muitos dias, tiveram menos audiência do que a trama das sete.
Por que isso está acontecendo com o horário mais nobre da TV brasileira? Vários fatores são apontados por especialistas em teledramaturgia. A perda de fidelidade do público das nove, que está migrando para outros tipos de programas (e de novelas), e a falta de carisma, leveza, romance e comédia nas tramas das 21h são os principais.
Mauro Alencar, autor do livro A Hollywood Brasileira e membro da Academia Internacional de Artes e Ciências da Televisão (Emmy), diz que mudanças sociais pesam muito no que está acontecendo e que o conceito de horário nobre aplicado à faixa das 21h já não reflete a realidade.
"Com a nova dinâmica social, podemos considerar faixa nobre como a compreendida entre 18h e 23h", diz o especialista, doutor em teledramaturgia pela USP (Universidade de São Paulo).
Apesar da crise das 21h, as novelas continuam em alta no gosto dos telespectadores. Globo, Record e SBT tiveram êxito com esse produto em 2016.
reprodução/tv globo
Sergio Guizé fez sucesso como o caipira Candinho de Eta Mundo Bom!, novela das seis
Público cativo
Nas faixas das 18h e das 19h, Eta Mundo Bom!, Totalmente Demais e Haja Coração bateram recordes de audiência. E as novelas das nove ainda são, disparadamente, líderes de audiência em seus horários. Mas perderam o posto de programa preferido do telespectador brasileiro.
"O público das seis é mais cativo, são senhoras, o pessoal que já está em casa. Nos outros horários, o público é diferente e migra mais facilmente. Procura outros tipos de entretenimento", comenta Maria Cristina Palma Mungioli, professora da Escola de Comunicação e Artes da USP.
Nilson Xavier, autor do Almanaque da Telenovela Brasileira e colunista do UOL, é prático na comparação entre a principal novela das nove de 2016 e o sucesso que Walcyr Carrasco atingiu às seis da tarde _Eta Mundo Bom! chegou a ter mais audiência que Velho Chico em vários capítulos.
"Eta Mundo Bom! teve uma história cativante que mexeu com arquétipos de valores familiares. Já Velho Chico não teve uma trama boa, patinou, se arrastou, não andou. Os personagens não eram tão carismáticos quanto os de Eta Mundo Bom!. Vale a pena dizer que Eta Mundo Bom! teve tudo que Velho Chico não teve", observa Xavier.
Velho Chico terminou com média final de 29 pontos na Grande São Paulo. Apesar da beleza estética e da sua repercussão, a trama de Benedito Ruy Barbosa e Bruno Luperi frustrou a meta da Globo de alcançar 35 pontos. Teve só meio ponto a mais que A Regra do Jogo (28,5), que havia elevado um pouco o patamar da faixa das 21h, derrubado por Babilônia para 25,5 pontos.
reprodução/tv globo
O ator Domingos Montagner (Santo) na cena em que foi baleado na novela Velho Chico
No ar desde 3 de outubro, A Lei do Amor está sofrendo ajustes justamente para fisgar a audiência, que está abaixo do esperado. A trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari tem média até agora de 26 pontos em São Paulo. Só três capítulos tiveram 30 ou mais pontos.
Para os críticos, as novelas das 21h investiram muito em tramas complexas, como o coronelismo de Velho Chico ou a violência em A Regra do Jogo e em A Lei do Amor. Isso afugentaria a audiência que procura romantismo, por exemplo.
As novelas das 21h estão mais contestatórias e polêmicas. Mesmo Velho Chico, que fugiu do ambiente urbano, trouxe as mazelas da política à tona. O poder desmedido é uma característica comum às três novelas das nove exibidas ao longo de 2016. "São temáticas mais complexas, que envolvem diversos lados de uma situação", aponta Maria Cristina, da USP.
"Há que se repensar a questão da audiência uma vez que há muito tempo a grande audiência de um produto audiovisual televisivo está no que se fala sobre ele, o quanto ele ultrapassa as fronteiras do fazer artístico para se inserir numa conjuntura social maior", propõe Mauro Alencar.
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