Veterana de Elas por Elas manda a real para jovens atores: 'Confundem as coisas'

Intérprete de Maninha em Elas por Elas, Regiana Antonini se renova na troca com jovens atores --seja no palco, na sala de aula ou na novela das seis da Globo. A veterana, porém, alerta aos colegas mais novos que é preciso mais dedicação e respeito ao ofício. Sobretudo no Brasil, em que a profissão não é tão valorizada quando merece.

A artista, que está por trás de fenômenos como as peças Doidas e Santas e Tô Grávida, vê um cenário bem diferente daquele de quando começou. "Eu queria estar em cena, aprender tudo. Nós líamos, sabíamos quem eram os atores que fizeram a história do teatro e da TV. A motivação era outra. Era paixão", avalia.

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"O ator iniciante de hoje meio que confunde as coisas. Parece que estão ali, na escola, apenas para tirar o registro profissional. Não sabem quem foi Paulo Autran [1922-2007], Sérgio Britto [1923-2011], Cacilda Becker [1921-1969]", acrescenta ela, que vai além:

Eu percebo que eles não vão ao teatro, não leem nem jornal, não assistem a novelas, filmes nacionais. Ficam vendo os vídeos do TikTok. Nada contra, mas é preciso mais do que isso. Só isso emburrece, limita. É triste. Claro que existem alguns alunos que brilham e que querem mais. Infelizmente, são minoria.

Esses "gatos pingados", contudo, são responsáveis por fazê-la enxergar a profissão e também o mundo por outra ótica. Regiana atualmente dá aula em uma das escolas mais tradicionais de teatro, a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), no Rio de Janeiro.

"Não podemos ser antigos. Temos que nos movimentar também. Tenho uma filha de 21 anos que me renova a cada dia. Ela sabe de tudo e me critica: 'Muda isso, é antigo. Chega de ser cafona'. Eu adoro essa troca", completa.

Comédia com alma

Regiana é uma das responsáveis por bordões que até hoje são repetidos nas ruas, como o "vem cá, eu te conheço?", que Laura (Maria Clara Gueiros) soltava no Zorra Total (1999-2015). Não à toa, ela reforça que a comédia está longe de ser uma "arte menor".

Para a atriz, a repercussão de canais como o Porta dos Fundos ajudou a abrir a cabeça do público sobre a complexidade do gênero. Ela mesma teve um canal, chamado Neura.

"Agora está acontecendo uma coisa impressionante: todo mundo se acha engraçado no TikTok ou mesmo no Instagram. As redes sociais viraram uma vitrine. Mas fazer comédia, de verdade, é outra história", considera.

É difícil, porque o humor tem o seu próprio tempo, é matemático. O verdadeiro comediante faz esse tempo, sem pensar. Já está nele. Tenho preguiça de quem se chama de comediante e se esforça demais fazendo gracinha. Fica falso.

Por trás da cortina

Regiana costuma ser mais lembrada por parte do público pelos trabalhos na televisão, ainda que seja um sucesso fora da curva no teatro. Ela brinca com a estranheza de ver as pessoas elogiarem as suas produções na frente dela –sem nem imaginar que estão diante da cabeça por trás daquela história.

"Isso acontece muito. No Doidas e Santas, que foi um texto que escrevi para a Cissa Guimarães, livremente inspirado no livro da Martha Medeiros, todo mundo achava que o texto era dela. Falavam superbem da peça, do texto da Martha, e eu ali com cara de nabo, querendo explicar que tinha sido escrito por mim", relembra.

Ela recorda que a boa repercussão de Tô Grávida, com Fernanda Rodrigues e Paulo Vilhena, também a atravessou de forma parecida:

Todo mundo adorava, saía do teatro feliz. Passavam por mim sem ter ideia de que aquilo tudo tinha saído da minha cabeça. Eu fico feliz, com a sensação de missão cumprida, sabe? Adoro poder constatar que as pessoas saíram do teatro, mais felizes do que quando entraram, que saíram emocionadas e que vão, com certeza, guardar aquele espetáculo no coração. Escrever para teatro é um ato solitário. É você e a tela do computador. É natural as pessoas não saberem, não te reconhecerem.