Previsão para Vale Tudo? Silvio de Abreu tem teoria sobre fracasso de remakes

O remake de Vale Tudo (1988) é a grande aposta da Dramaturgia da Globo para 2025, quando a emissora completa 60 anos. Mas o autor Silvio de Abreu e Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana, veem a releitura do folhetim como algo muito perigoso. Convidados da nova edição do vodcast Dois Pontos, do Estadão, eles lembram que a maioria dos remakes de novelas da própria Globo não deram certo.

Abreu comandou a área de Dramaturgia da emissora até 2020. Ele tem uma teoria de que os remakes que se tornam sucesso na líder de audiência são releituras de histórias inéditas na emissora, como foi o caso de Pantanal (2022), exibido originalmente na Manchete em 1990.

"Eu tenho uma teoria que eu não sei se vale ou se não vale. Para mim, as novelas que foram da TV Globo e que foram feitas remake, nenhuma deu certo. As novelas que não eram da TV Globo, mas que foram feitas remake dentro da TV Globo, deram certo", explicou o autor. 

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Alencar concorda com Abreu. "Não é teoria, não. É exatamente isso. Por melhor que tenha sido a TV Tupi, não era tão avassaladora como a TV Globo, que realmente fez uma amálgama com a sociedade, como [jornalista] Helena Silveira [1911-1984] dizia: 'As novelas da TV Globo se tornaram verdadeiros happenings, acontecimentos sociais'", comentou o acadêmico.

Ele cita como exemplos de sucesso de remake que era de outra emissora Mulheres de Areia (1993) e A Viagem (1994). "Mas a própria Ivanir Ribeiro [1922-1995] reescreveu aquilo, reatualizou, e aquilo foi na TV Tupi, depois ninguém mais assistiu. Agora, a grande problemática do remake, eu cito o saudoso Dias Gomes [1922-1999], que dizia que Odorico Paraguaçu não era só dele. O Paulo Gracindo [1911-1995] fez junto", cravou o especialista doutor pela USP (Universidade de São Paulo).

Ele quis exemplificar que um sucesso não é só do autor, mas também tem a emoção e toda a energia imposta pelo ator. "É muito complexo, isso é muito perigoso, inclusive", completou Alencar.

Abreu reconhece que errou ao fazer o remake de Guerra dos Sexos em 2012. Em 1983, a novela tinha sido um sucesso. O problema não foi a interpretação dos atores da segunda versão, mas a fabulosa criação feita por seus antecessores, que transformaram o texto da trama em pura diversão, em uma época em que mulheres e homens estavam duelando mais por seus espaços.

"Vale Tudo é preocupante porque eles já mudaram, estão mudando várias coisas na novela. Então, aí, eu não sei também o que vai ficar, é ruim você falar de coisa que você não sabe", despistou o dramaturgo.

Abreu não deseja que façam remake de outra novela sua, como Rainha da Sucata (1990). "Quando você faz a novela, o que vai fazer ela ser um sucesso é o elenco, a época, o assunto daquele momento", opinou o autor. Para encerrar, ele pontuou que no cinema remakes não costumam fazer sucesso. 

Alencar lembrou que Ivani Ribeiro só fez remake praticamente na Globo de suas novelas de outras emissoras, mas Janete Clair (1925-1983), que era uma autora genial, nunca fez sucesso com remake. "É complexo isso, é muito difícil. Então, é muito difícil você saber se uma coisa que fez sucesso há 30 anos vai voltar a fazer sucesso agora", disse o doutor em teledramaturgia.