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MANUELA DIAS

Por que mudanças de autora no remake de Vale Tudo soam tão equivocadas?

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Manuela Dias sorri, está com os cabelos soltos e usa uma blusa preta

Manuela Dias em reportagem do Hora 1 sobre o Upfront Globo; autora é responsável por remake

DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 17/10/2024 - 21h00

Não é à toa que Vale Tudo (1988) é considerada uma das melhores novelas da história da teledramaturgia brasileira. Também não é exagero dizer que (até infelizmente) a trama consegue dialogar bastante com a atualidade; afinal, pessoas preconceituosas tal como Odete Roitman, vilã vivida magistralmente por Beatriz Segall (1926-2018), estão espalhadas por todos os cantos. Por isso, Manuela Dias acabou mexendo num vespeiro ao propor mudanças arriscadas no remake do folhetim.

A autora responsável pela nova versão da história tem recebido diversas críticas nas redes a cada declaração que solta sobre a novela das nove.

"É uma adaptação para os dias de hoje. Isso implica em algumas adaptações. Desde adaptações tecnológicas, não existia internet, até adaptações como o alcoolismo, que não era considerado uma doença, e hoje em dia a gente sabe que é. São muitos desafios", afirmou ela à reportagem da Globo durante o Upfront 2025, realizado na noite de quarta-feira (16).

Manuela também comentou as mudanças que planeja em entrevista à Folha de S.Paulo --que gerou ainda mais ataques nesta semana. "Odete seguirá sendo uma vilã, mas sua vilania está muito ligada ao momento. Vale Tudo foi a novela da volta da democracia, e naquele momento falar mal do Brasil, ou poder falar mal, era resistência. Hoje não é mais. A gente está saturado disso. Odete não aponta caminhos, mas será diferente", explicou.

A colunista Carla Bittencourt, do Portal Leo Dias, adiantou outras alterações no perfil de Helena Roitman, interpretada por Renata Sorrah na primeira versão e que agora estará nas mãos de Paolla Oliveira. A novelista quer tirar a imagem de "pinguça" da dondoca e dar um tom sóbrio na discussão do alcoolismo.

Entretanto, parece que Manuela pouco entendeu (ou ignorou) as muitas nuances das personagens criadas por Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004).

Heleninha não era dependente apenas de bebidas alcoólicas, mas também da atenção do marido, Ivan (Antonio Fagundes), e da própria mãe. A pintora mostrava carência e sensibilidade exacerbadas, encontrando no vício justamente uma válvula de escape quando não conseguia lidar com seus sentimentos e traumas.

Eliminar ou sequer diminuir as sequências em que a mulher se embriaga representaria uma significativa perda para a história, para o telespectador e também para Paolla Oliveira --que teria a oportunidade de brilhar nas cenas dramáticas e reproduzir momentos memoráveis como a do "mambo bem caliente" e a do quebra-quebra em um bar.

Além disso, o vício de Heleninha está diretamente ligado a um dos mistérios da obra original: a morte do irmão dela. Será preciso um malabarismo por parte da autora para traçar essa relação sem explorar as recaídas da personagem na luta contra o alcoolismo.

Vilã humanizada?

Mas o que mais desagradou a grande parte dos fãs de Vale Tudo foi o discurso de Manuela Dias sobre a icônica vilã da trama. "Eu amo o Brasil. É claro que tenho críticas ao Brasil, mas não sou Odete, então minhas críticas são construtivas. O autor também fala através de seus personagens, e sinto que falar que o Brasil é uma porcaria não traz nada hoje em dia", alegou ela na conversa com a Folha.

O otimismo da escritora, porém, não condiz com o país que há poucos anos colocou na presidência uma figura controversa como Jair Bolsonaro (PL) --e que provavelmente o apoiará novamente se tiver essa chance. Aliás, Odete Roitman é a representação perfeita dos eleitores do político de extrema direita, os ditos "defensores da família tradicional brasileira".

Durante o governo Bolsonaro, inclusive, a parcela mais conservadora da sociedade fez questão de expor todo o racismo, o machismo, a LGBTfobia e tantos outros preconceitos que ainda são latentes no Brasil. Se nos anos 1980 Odete reclamava da mistura de raças no país e dos mendigos nas ruas, hoje os alvos da vilã poderiam ser os beneficiários do Bolsa Família ou de qualquer outra política pública defendida pela esquerda.

Por isso, soa equivocado considerar que o Brasil mudou tantos nos últimos 36 anos a ponto de uma figura como a matriarca dos Roitman se tornar "saturada". Pelo contrário: é plenamente capaz que muitas pessoas apoiem os discursos da vilã ainda nos dias de hoje.


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