Político corrupto em Mar do Sertão, ator esconde inspirações da vida real

No decorrer de Mar do Sertão, Sabá Bodó (Welder Rodrigues) cometeu diversas estrepolias para se dar bem: desde amarrar a própria tornozeleira eletrônica a um jegue até envenenar o açude para prejudicar um rival. E, num país em que um político foge com propina dentro da cueca, e outro arremessa granadas contra a polícia para escapar de um mandado de prisão, o intérprete do corrupto tinha boas referências para o papel. Ainda assim, ele prefere mantê-las para si.

"Eu não quis citar antes das eleições e não vou citar agora também", desconversa Welder Rodrigues, em entrevista ao Notícias da TV. "Geralmente são políticos bem... Bem canalhas, e é uma opinião minha também, né? Para não misturar entretenimento com política. Agora mesmo, tem vários, vários na minha cabeça", conta, rindo.

Além das figuras políticas da vida real, o ator pesquisou "políticos folclóricos" da ficção. Só evitou um tipo: os prefeitos. Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), de O Bem-Amado (1973)? Nem pensar. "Tentei construir uma coisa nova, e é muito difícil. Mas acabei usando minhas memórias. Gosto muito de política e de história, leio muito sobre isso", explica. 

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O ritmo das gravações, porém, fez com que ele tivesse de diminuir a frequência dessas leituras. Mar do Sertão foi a primeira novela de sua carreira. Acostumado com o teatro e os humorísticos, ele até costumava brincar com Silvio de Abreu --então diretor de teledramaturgia da Globo-- que não tinha "capacidade" para fazer novela. Mas, depois de dois anos parado, sem perspectivas de voltar aos programas de humor, ele topou o desafio.

É uma experiência muito diferente da que ele estava acostumado. A demanda de texto é imensa --seu personagem aparece na maioria dos 179 capítulos da novela, sempre com diálogos longos. Por outro lado, a equipe e até o estúdio em que gravava suas cenas eram os mesmos de seus antigos programas, como Zorra (2015-2020) e Tá no Ar: A TV na TV (2014-2019). E, assim como no teatro e nos humorísticos, foi o texto que o norteou para definir a dosagem de comédia.

Claro, ele salpicou suas cenas com coisas que trazia de seus outros trabalhos. O improviso é um exemplo. "Eu não tenho uma preparação muito grande. Eu recebo e faço. É mais intuitivo do que pensado. Não costumo me programar na cena. Eu sou do teatro, né? E a gente exercita muito improviso no teatro", explica.

Welder Rodrigues em cena de novela

A vida pessoal e a profissional também acabaram se misturando. Um dos filhos de Rodrigues é um noveleiro convicto, o que influenciou na construção de seu Sabá. "A gente conversava muito sobre o que é a novela, o que a novela significa socialmente no Brasil. Isso me ajudou muito. Acho que ele gostou do resultado final. Ele não é muito de elogiar", explica.

Desde a estreia da novela, outro ponto da vida pessoal de Welder assumiu destaque. Reportagens lembraram que, nos últimos anos, o ator sofreu com várias questões de saúde. Em 1996, ele teve um derrame. Como sequelas, perdeu parte da movimentação do lado esquerdo da face e endureceu um ligamento nas costas. Tratou tudo com acupuntura, mas ainda tem suas questões quando olha para o espelho. Também teve um tumor na perna e usa uma prótese óssea há 22 anos.

Apesar de discreto --ele não compartilha quase nada da vida pessoal nas redes sociais--, Rodrigues não se importou com a repercussão. "Eu acho importante, até para quem está passando por problemas parecidos. É legal quando você tem exemplos de quem [teve uma doença] e supera, né? É muito bom. Eu adoro o exemplo de pessoas que superaram doenças terminais e tal. É sempre legal você ler", diz.

Limite no humor?

Daí, o amor do artista pelo humor também faz sentido. Ele define sua atividade como "terapêutica", um "exercício físico e espiritual". E presencia isso quase que diariamente com a companhia Melhores do Mundo, um coletivo de humor fundado em 1995, ao lado de cinco colegas.

A cada sessão, ele vê pessoas saírem "transformadas". "A gente recebe muitos, muitos elogios e agradecimentos, falando que a semana, que o dia estava ruim, que a vida não estava boa, e aí a pessoa viu a novela ou a peça, e aquilo melhorou o dia dela."

Mas ele também recebe críticas. Vê isso como "normal". Como todas as áreas da arte --a dança, a música, a pintura--, o humor pode agradar ou não. Rodrigues não leva essas críticas para o lado de debates que tentam delimitar um limite para o humor. 

A gente, no meu grupo de teatro, não se importa muito com esse debate. Quem comprou o ingresso sabe o que vai ver no palco, né? E a TV é editada. Eu realmente acho que esse é um debate mais para a academia do que para a plateia, para o público real. Tanto que o público está dando Ibope para a novela, e [o teatro] está lotado, né?

Mas ele não se furta de modificar suas peças e seu estilo de humor. "O nosso diretor final é nossa plateia, e a TV se adapta aos novos tempos", justifica. Exemplo disso é a peça Hermanoteu na Terra de Godah, apresentada pelo grupo há 26 anos. Cada sessão tem uma mudança, seja em referência a um assunto da atualidade ou ao local em que está sendo encenada. "E a empatia da peça é isso, né? Esse é o poder do teatro. Ele é ao vivo", diz.

Escrita por Mario Teixeira e dirigida por Allan Fiterman, Mar do Sertão chega ao fim nesta sexta (17). O folhetim será substituído por Amor Perfeito, trama de época escrita por Duca Rachid, Julio Fischer e Elísio Lopes Jr. O folhetim conta com Camila Queiroz como protagonista.

Leia os resumos dos próximos capítulos da novela das seis.

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