Novela da Globo pega emprestado vilãs de folhetins bíblicos da Record

Zefa Leonel (Andréa Beltrão) ficou incrédula com os conhecimentos bíblicos de tia Salete (Mariana Lima) no capítulo desta quarta (5) de No Rancho Fundo. Ela falou sobre a triste sina das mulheres a partir de alegorias das escrituras cristãs, comparando Deodora (Deborah Bloch) com Jezabel e a mulher de Potifar --as quais, curiosamente, também podem ser vistas em obras da Record.

A tia de Candoca (Larissa Bocchino) ficou chocada ao descobrir que a irmã está prestes a se separar de Tico (Alexandre Nero). Ela, então, falou sobre os homens que são "vítimas de Dalila, Jezabel e de todas as mulheres de Potifar".

"A serpente enrodeada na raiz do homem vai parir o leviatã da escuridão, eu estou falando da triste sina das mulheres, que tem de enterrar o filho todo dia no santo sepulcro. Da sina de Judite que cortou a cabeça do malvado Holofernes", disparou a personagem de Mariana Lima.

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"De carregar na barriga e parir o próprio inimigo, os filhos ingratos que vão abandoná-las no asilo", completou.

Ela listou exatamente três personagens que foram antagonistas de tramas bíblicas da Record: Dalila (Mel Lisboa), de Sansão e Dalila (2011); Jezabel (Lidi Lisboa), da novela homônima de 2019; e a mulher de Potifar, a Neferíades de Gênesis (2021).

A coincidência chama a atenção, mas a Bíblia obviamente não é de interesse apenas da emissora de Edir Macedo. Esse cânone influencia até hoje a construção narrativa das pessoas que foram criadas dentro de culturas judaico-cristãs.

Um dos principais medalhões da Globo, Walcyr Carrasco já fez adaptações das principais histórias da Bíblia para uma linguagem mais acessível em seus livros. Afinal, são imagens que estão no inconsciente coletivo.

"A minha experiência com as personagens bíblicas foi sempre muito rica. Quando criança, eu os via como herois. E de fato, Davi, ao vencer o gigante Golias, não é um heroi incrível? As histórias sagradas falam não só de heroísmo, mas também de amor, da capacidade de lutar pelo bem alheio, da busca de algo maior que o simples mundo material", explicou o autor, em entrevista ao colunista Bruno Astuto, da revista Época.

O remake de Renascer também já citou diversos personagens bíblicos a partir de Iolanda (Camila Morgado), que costuma a se referir a mulheres que desaprova como "filisteias".