Análise | Teledramaturgia
Caiuá Franco/TV Globo
Vanessa Giácomo em A Regra do Jogo: Toia ficou vingativa somente na reta final
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 16/2/2016 - 5h55
O papel mais ingrato de qualquer novela é, sem dúvida, o da mocinha. Já se foi o tempo em que aquela heroína sofredora que derramava litros de lágrimas ganhava a simpatia do público. Hoje, pelo contrário, quanto mais esperta e safa for a protagonista, melhor. Toia (Vanessa Giácomo), de A Regra do Jogo, folhetim das 21h da Globo, até carrega essas qualidades: não é barraqueira estridente mas também não é de levar desaforo pra casa. Só que ela demorou 136 capítulos para dizer a que veio.
A heroína da novela não teve até então um propósito claro. Passou por momentos delicados, como a morte da mãe, Djanira (Cássia Kis), no dia em que se casaria com Juliano (Cauã Reymond), e importantes, como a união com Romero (Alexandre Nero), mas seguiu sem objetivo a perseguir no curso da história. Agora, com a virada em sua trama, ela encontrou uma linha de chegada atrás da qual deve correr: a vingança contra Romero.
Toia voltou a ser figura central de A Regra do Jogo _posto do qual, aliás, nunca deveria ter saído. Grávida, descobriu a verdadeira identidade de Romero (com quem não teve química nenhuma, diga-se de passagem) e sua ligação com a facção que matou seu pai. Sua personalidade passou por uma reviravolta: a vingança contra Romero e a facção de Gibson (José de Abreu) guiará seus passos na reta final. Um pouco tarde, não?
Um comparativo com outra mocinha de João Emanuel Carneiro é bastante esclarecedor nesse ponto. Nina (Debora Falabella), de Avenida Brasil (2012), também carregava essa verve vingativa contra Carminha (Adriana Esteves), mas isso ficou claro no instante em que ela surgiu na história. Com Toia, o ritmo foi bem mais lento, o que, certamente, contribuiu para a apatia da personagem, não por acaso chamado de Chatoia nas redes sociais (e por Atena/Giovanna Antonelli).
Na outra ponta, Atena ganha mais destaque ainda, uma vez que é o contraponto principal de Toia. A personagem, que até então dominou a novela, já provou ser capaz das maiores artimanhas para conseguir o que quer e não sofreu rejeição. A virada tardia de Toia só fez crescer sua importância e contribuiu para que a vilã conquistasse mais espaço.
O embate entre as duas pela atenção de Romero é o único ponto de choque de Toia, mas a personagem de Antonelli mostrou-se muito mais interessante. Como a maioria das personagens de João Emanuel Carneiro, ela é contraditória. Vilanizada e humanizada ao mesmo tempo, conquistou a simpatia popular, ainda mais depois da fase em que viveu a derrocada com o surgimento de novos algozes, sem abandonar o amor desmedido pelo herói torto da história.
Atena é passional, irracional (foi ela quem entregou Romero para a polícia) e mesmo assim encantadora, características que Toia não carrega. É preciso considerar, também, que Atena traz outra qualidade: seu senso de humor, potencializado com a parceria em cena com Ascânio (Tonico Pereira), que deu muito certo.
Vanessa Giácomo está correta dentro das limitações oferecidas por sua personagem. Atriz com potencial, ela tem chances de crescer na novela daqui para a frente ao acentuar a frieza e o rancor da protagonista, mas é inegável que Toia teve seu brilho ofuscado pelo furacão de Atena. Afinal, quem é a verdadeira protagonista de A Regra do Jogo?
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