MUNDO MUDOU
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Félix (Mateus Solano) foi de vilão de Amor à Vida a protagonista e ganhou até par romântico gay
Personagem icônico da dramaturgia brasileira e responsável pelo primeiro beijo entre dois homens em uma novela, Félix Khoury não teria a mesma sorte se Amor à Vida (2013) fosse exibida em 2025. Pelo menos, segundo seu intérprete, Mateus Solano. O ator disse que o homossexual enrustido seria rejeitado pelo público nos dias de hoje.
"E o motivo é simples: meu personagem foi montado no politicamente correto", resumiu Solano em entrevista à Folha de S.Paulo neste sábado (11) para divulgar o seu monólogo O Figurante, em cartaz em São Paulo.
"As pessoas curtiam [o Félix] porque ele dizia tudo o que cada um queria dizer e não podia, pois magoaria alguém ou até poderia ser preso. Qual chefe pode hoje chamar a secretária de 'cadela'? Qual pessoa atualmente pode ser homofóbica, transfóbica, racista, gordofóbica, etarista? Félix era tudo isso e, mesmo assim, ainda era muito amado", apontou o ator.
O personagem foi criado pelo autor Walcyr Carrasco para ser o vilão de Amor à Vida: logo nos primeiros capítulos, ele jogou a sobrinha em uma caçamba de lixo. O jeito exagerado e os bordões divertidos fizeram com que Félix caísse na graça dos espectadores.
Solano engatou uma parceria cômica com a personagem de Elizabeth Savala, uma ex-chacrete que vendia hot-dog na rua com a filha, vivida por Tatá Werneck, o que só fez o antagonista ganhar ainda mais o carinho do público.
No fim, Félix fez tanto sucesso que virou protagonista: seu romance com o "carneirinho" Niko (Thiago Fragoso) resultou no primeiro beijo entre dois homens em uma novela brasileira --duas mulheres já haviam feito o mesmo em Amor e Revolução (2011), do SBT.
Não é a primeira vez que Solano aponta que Félix teria uma reação diferente nos dias de hoje. Em 2022, ele disse que o personagem seria cancelado. Na visão dele, a figura carregava "estereótipos muito fortes". "Era muito afetado. Mais afetado do que poderia ser um diretor de hospital. Hoje, não seria bem visto", declarou o artista ao jornal Extra.
Para o ator, esse pode ser o motivo de a novela nunca ter sido reprisada, apesar de sempre muito requisitada pelos fãs. Ainda assim, os trejeitos do personagem faziam sentido com a história que estava sendo construída. Era uma maneira de "brincar com os preconceitos das pessoas", avaliou ele.
"Até os mais conservadores, mais homofóbicos, olhavam para mim, davam uma risada e diziam: 'Pô, você tem que dar um beijo naquele cara [Niko]!'. Foi muito especial essa unanimidade. Com o Félix, eu consegui cumprir um dos objetivos do artista: fazer com que o público reveja seus preconceitos."
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