Ladrão em Travessia, Chay Suede salva novela do marasmo e escanteia mocinhos

Só está dando Ari em Travessia. O ambíguo personagem de Chay Suede desceu de cima do muro nos últimos 50 capítulos da novela das nove da Globo e movimentou a história. De embuste, o arquiteto passou para o posto vago de vilão e tem conduzido os principais conflitos da saga. Ponto para o ator, que mostra versatilidade para fazer a diferença em um folhetim que parece dar voltas em círculos desde a sua estreia, em outubro do ano passado.

Com isso, o único casal shippado da trama ficou em segundo plano --ainda mais que eles estão separados. Oto (Romulo Estrela) tem um romance com Bia (Clara Buarque) que só serve para provocar reações na ex-noiva Brisa (Lucy Alves). A mocinha, por sua vez, é uma daquelas heroínas que atiraram pedra na cruz. Um verdadeiro para-raios de problemas. 

Travessia é a primeira novela totalmente aberta desde 2020, quando a emissora paralisou as gravações da dramaturgia devido à pandemia da Covid-19. No entanto, a audácia e as reviravoltas que poderiam ter sido criadas dando um rumo diferente aos personagens foram recursos desprezados.

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A saga chega à reta final com inúmeros pontos para serem criticados. A autora Gloria Perez projetou um arco dramático bem curto --que renderia uma série, não um folhetim que terá ao todo 175 capítulos.

Ela volta nas últimas semanas da trama ao conteúdo que havia previsto na sinopse: Brisa tem de provar que é mãe de Tonho (Vicente Alvite), vai trabalhar como costureira em uma casa de shows de transformistas e se acertará com Oto. Resta saber se ela vai mesmo engravidar para que o segundo filho prove que ela é uma mulher quimera.

O marasmo de Brisa ter passado os últimos cinco meses brigando pela guarda do filho e não deslanchar sequer na área profissional é uma missão dura para Lucy Alves. A atriz até dá o seu melhor, mas o problema está no perfil da personagem.

Já perceberam que Oto também está preso ao caso do hackeamento? Romulo Estrela está brigando com unhas e dentes para que o público ame o seu protagonista, mas não é uma tarefa fácil. Agora, por exemplo, é o hacker quem está com a trama mais insossa de Travessia.

Chay Suede é o 'dono da bola' 

Ari não conseguiu ficar no triângulo amoroso porque o público rechaçou seu comportamento lá atrás, no começo da trama, quando ele trocou um grande amor pelo deslumbre de uma vida de luxo ao lado de uma garota mimada.

O ambicioso realmente se tornou capacho de Guerra (Humberto Martins), mas foi porque quis. Não dá para o telespectador comprar essa raiva que o personagem sente do empresário. O arquiteto fala que o ex-sogro usou seu filho como moeda de troca, mas Tonho foi muito mais usado pelo próprio pai.

Ari sempre deixou a criança no meio da artilharia que ele soltava para atingir Brisa. Com o golpista, Chay Suede virou o "dono da bola". Está o tempo todo tentando fazer gol, mesmo que muitas vezes só chute na trave.

Na pele do complicado Ari, ele prova mais uma vez que não é só um intérprete com carisma. Tem técnica e imprime emoção. Ao lado de Humberto Martins, Drica Moraes e Cassia Kis, o ator de 30 anos salva a frágil história das 21h que terminará no próximo dia 5.