Inteligência artificial vai afetar novelas? Walcyr Carrasco decreta: 'Não tenho medo'

A influência e as mudanças provocadas pela utilização de ferramentas de inteligência artificial têm provocado debates no meio audiovisual. Exemplos disso são as greves de atores e roteiristas em Hollywood --profissionais exigem que seus trabalhos sejam valorizados e brigam para não perderem espaço para robôs. Enquanto isso, no Brasil, Walcyr Carrasco não está tão preocupado com a inteligência artificial nas novelas. Ele acredita que a tecnologia pode trazer transformações, mas não destruirá o formato.

"Novela é uma história de famílias. Sempre parte de um eixo afetivo, de histórias de amor que são construções de famílias. Sempre tem isso. A novela tem uma sobrevivência e continuará a acontecer. Eu sou uma pessoa que não tem medo da inteligência artificial", decretou o autor, durante evento de lançamento do livro A Telenovela e o Futuro da Televisão Brasileira, de Rosane Svartman, na última quarta-feira (19) em São Paulo.

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Walcyr não é tão otimista, no entanto, em relação à ameaça da inteligência artificial na literatura. "A literatura comercial vai acabar. A inteligência artificial vai dominar. Aquele esqueminha de alguns livros, best-sellers, vai acabar. Vão fazer 500 livros por ano sem precisar de autor", acredita ele.

Interessado pelo assunto, o autor de Terra e Paixão contou que até tentou tirar uma história do ChatGPT. Ele pediu para a ferramenta virtual criar uma história em que um menino bate na mãe, mas não gostou do resultado.

"As historinhas que eles fazem são de moral extremamente formal e católica. Eu falei: 'Crie uma história sobre um menino que bate na mãe'. A resposta [do Chat GPT] foi: 'Não posso escrever essa história porque vai contra os valores da família'. Fiz várias histórias [na ferramenta], e todas têm um final feliz e moral", debochou ele.

Carrasco ainda acrescentou que, no futuro, a inteligência artificial deve aprender a imitar ainda mais os humanos, inclusive em seus erros e escapadas. Mas, ainda assim, ele crê na resiliência das novelas como produto que continuará a fazer parte das vidas dos brasileiros.

"Cada vez que surge uma novidade, há uma resposta artística surpreendente. Mas eu ainda acredito que a novela tem uma sobrevivência muito longa e uma transformação. Essa transformação eu não sei dizer qual é. Mas, quando surgiu a televisão, diziam que ia acabar o cinema. Nunca acaba. Os meios se transformam, ganham novas equações. Hoje, o streaming vive muito de cinema. Acho que as perspectivas existem", declarou.