Anastácia, a Mulher Sem Destino
Divulgação/TV Globo
Os atores Leila Diniz e Mario Brasini em cena da novela Anastácia, a Mulher Sem Destino
REDAÇÃO
Publicado em 28/6/2017 - 5h34
A Globo tinha apenas dois anos quando exibiu a novela mais desastrosa da história da TV: Anastácia, a Mulher Sem Destino. A trama estreou em 28 de junho de 1967 e tentou contar a trajetória de uma moça pobre que se descobria filha de um czar russo. Porém, o rumo de Anastácia e dos outros personagens se tornou tão confuso e preocupante que a emissora teve que tomar as medidas mais drásticas possíveis para tentar salvar a novela de um fracasso completo.
Pela trama rocambolesca e distante da realidade brasileira, a produção já começou mal: Anastácia (Leila Diniz) descobria sua herança real e se refugiava em uma ilha vulcânica nas Antilhas para esconder sua identidade.
Diante das reclamações dos telespectadores, a Globo pediu socorro a Janete Clair, autora já consagrada na Tupi. Ela inventou uma solução radical: matou mais de 100 personagens em um terremoto. A história avançou 20 anos e recomeçou com apenas sete personagens. O público aceitou melhor a trama, e Janete virou estrela da teledramaturgia da Globo.
"Anastácia foi importante exatamente por mostrar a flexibilidade do gênero. Janete Clair, com imenso talento para o folhetim, conseguiu salvar a novela", opina o autor e especialista em teledramaturgia Mauro Alencar.
Relembre outras sete novelas que, assim como Anastácia, tiveram muitas dificuldades, não agradaram aos telespectadores e fracassaram no Ibope:
REPRODUÇÃO/SBT
Sandra Annenberg e Ricardo Blat contracenaram na novela Cortina de Vidro, do SBT
Cortina de Vidro (1989)
A primeira novela escrita por Walcyr Carrasco atualizou o recurso do terremoto para eliminar personagens e mudar o rumo da história. A trama e a produção de Cortina de Vidro, do SBT, eram centralizadas em um edifício cilíndrico, de vidro, em São Paulo. Com audiência baixa e dificuldade para gravar no prédio, Carrasco decidiu mudar tudo e criou um incêndio, que matou vários personagens e deu início a um novo rumo na novela.
Cortina de Vidro teve Sandra Annenberg como a protagonista Ângela, após Lucélia Santos e Cássia Kis recusarem o papel. A novela não atendeu às expectativas de consolidar a teledramaturgia do SBT e foi rejeitada pelo público. No final, chocou ao mostrar a cena de um pai (interpretado por Antônio Abujamra) estuprando a própria filha (vivida por Carola Scarpa).
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Humberto Martins e Marcello Novaes interpretaram irmãos na novela das sete Vira-Lata
Vira-Lata (1996)
Carlos Lombardi enfrentou problemas em 1996, como autor de Vira-Lata. A trama das sete deixou de lado a leveza para abordar questões como racismo, sexo, drogas, violência e corrupção, e justamente por isso teve muita rejeição do público. O casal protagonista teve de ceder espaço para os coadjuvantes Fidel (Marcello Novaes) e Renata (Carolina Dieckmann), mais carismáticos.
Houve também problemas com o elenco: Andréa Beltrão, grávida, precisou se afastar, e Glória Menezes pediu para sair. À revista Veja, o autor assumiu que Vira-Lata é uma mancha em seu currículo. "Às vezes, você descobre que foi problema seu, ou um erro de escalação, ou em geral uma mistura de tudo isso. Foi o que aconteceu com Vira-Lata", disse.
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Os atores Eva Wilma, Raul Cortez e Reynaldo Gianecchini em cena de Esperança, da Globo
Esperança (2002)
Na tentativa de fazer uma nova versão de Terra Nostra (1998), Benedito Ruy Barbosa criou outra trama sobre imigração italiana no Brasil, Esperança (2002), mas gerou mesmo foi um grande problema para a Globo. Com capítulos atrasados, trama maçante e audiência em queda, Barbosa ficou doente e foi substituído por Walcyr Carrasco, que recebeu a missão de tentar salvar a trama.
O autor principal não gostou nada das mudanças de Carrasco. "Quando ele assumiu a novela, deixei de assistir. Se visse, queria bater nele. Ele acabou com a minha novela", confessou em depoimento ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo.
Esperança também teve atores insatisfeitos e se machucando em cena _Reynaldo Gianecchini ficou afastado após quebrar dentes em uma sequência com Ana Paula Arósio. A novela terminou com média de 38 pontos, nove a menos do que a antecessora, O Clone (2001).
REPRODUÇÃO/RECORDTV
Jackeline Petkovic e Luciano Szafir em cena de Metamorphoses; novela foi muito criticada
Metamorphoses (2004)
Trama que marcou o reinício da dramaturgia da Record, Metamorphoses mirou na tecnologia, mas pecou pela má qualidade do texto. As imagens, em alta definição (uma novidade para a época), foram muito elogiadas, mas os diálogos rasos, sem coerência, e a história cheia de reviravoltas não tiveram chances com o público.
Metamorphoses era para ser uma novela em torno de duas irmãs que tinham uma clínica de cirurgia plástica e eram perseguidas pela máfia, mas virou um Frankenstein. O autor Mário Prata escreveu os oito primeiros capítulos, mas abandonou o barco ao constatar que Arlette Siaretta, dona da Casablanca, uma das maiores produtoras do país, os estava reescrevendo. "Se o resultado fosse bom, eu ficaria quieto. Mas não era o caso", o autor declarou.
As expectativas da Record de que a novela atingisse 20 pontos ficaram muito abaixo do desejado. Metamorphoses chegou a ter capítulo com média de apenas 0,7, atrás da RedeTV!, e terminou com 20 capítulos a menos e média geral de 4 pontos.
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Os personagens de Evandro Mesquita e Kadu Moliterno fingiam ser mulheres em Bang Bang
Bang Bang (2005)
Novela das sete, Bang Bang frequentemente tinha menos ibope do que Malhação e a trama das seis da época, Alma Gêmea. Com temática de Velho Oeste norte-americano, homenagem aos Beatles e até referências a animações japonesas, a novela era confusa e fez com que parte do público passasse a assistir Prova de Amor, da Record, que cresceu no Ibope.
Primeira novela protagonizada por Fernanda Lima, Bang Bang também teve troca de autores: Mário Prata desistiu de escrever a trama após entregar 30 capítulos, e Carlos Lombardi entrou em seu lugar. A novela chegou a ter a duração de seus capítulos reduzida, de 55 para 45 minutos.
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Antonio Fagundes em cena gravada no centro de São Paulo para a novela Tempos Modernos
Tempos Modernos (2010)
A trama tecnológica, com um robô que interagia com Antonio Fagundes, e a pretensão de retratar a relação entre homem e máquina no século 21 não colaram. Tempos Modernos derrubou a audiência das 19h e terminou com a pior média do horário até então, 24 pontos.
A novela também tinha lutas de artes marciais no interior de um prédio no centro de São Paulo, o que não agradava e só confundia o público. Mal avaliada pela crítica e com tramas que foram cortadas antes mesmo de serem levadas ao ar (como a de Deodora, interpretada por Grazi Massafera, que nunca se revelou uma robô), foi um dos grandes fiascos da Globo.
reprodução/globo
Nathalia Timberg e Fernanda Montenegro foram rejeitadas como um casal em Babilônia
Babilônia (2015)
Babilônia chegou ao fim em agosto de 2015 com a pior média de audiência de todas as novelas das 21h: 25 pontos na Grande São Paulo. A trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga não conseguiu emplacar mesmo com um elenco estrelado. Logo de cara, teve problemas de rejeição ao apresentar um casal de lésbicas vivido por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg.
Capítulos foram reescritos, personagens que seriam gays viraram héteros e uma potencial prostituta se tornou heroína. Mas nada foi capaz de salvar a trama do fracasso. Babilônia acabou desfigurada e encurtada.
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