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Que Rei Sou Eu?

Há 30 anos, novela das sete inovou com feminismo, bruxaria e crítica política

Fotos: Divulgação/TV Globo

O ator Edson Celulari viveu o protagonista de Que Rei Sou Eu?, Jean Pierre, comparado a Collor - Fotos: Divulgação/TV Globo

O ator Edson Celulari viveu o protagonista de Que Rei Sou Eu?, Jean Pierre, comparado a Collor

REDAÇÃO

Publicado em 13/2/2019 - 5h23

Estreava há exatos 30 anos na Globo uma novela inovadora e provocativa, que usava uma trama ambientada no século 18 para fazer uma sátira do Brasil dos anos 1980. Que Rei Sou Eu? fez sucesso na faixa das sete e é considerada uma das melhores novelas já exibidas nesse horário. Tratava com humor e ousadia temas como feminismo e bruxaria e fazia relações entre seus personagens e políticos brasileiros.

De autoria de Cassiano Gabus Mendes (1927-1993), a novela havia sido apresentada à Globo pela primeira vez em 1977, mas o projeto foi rejeitado naquele ano e mais uma vez em 1983. Só em 1988, com o fim da Censura Federal, o autor recebeu a aprovação da emissora para levar adiante sua ideia.

Que Rei Sou Eu? se passava no fictício reino de Avilan, entre 1786 e 1789, período de transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. No Brasil, o ano de 1989 foi marcado pelas primeiras eleições diretas para presidente após 29 anos. A novela conseguiu fazer um paralelo entre as duas situações e colocar referências e críticas à política nacional em sua trama.

Na corte de Avilan, vários personagens tinham seus "pares" na vida real. Segundo o site Teledramaturgia, a rainha Valentine (Tereza Rachel) remetia ao então presidente José Sarney; o conselheiro Vanoli (Jorge Dória) fazia referência ao político baiano Antônio Carlos Magalhães (1927-2007) e o o bruxo Ravengar (Antônio Abujamra) era uma versão do General Golbery do Couto e Silva (1911-1987).

O ator Antônio Abujamra caracterizado como o temido bruxo/hipnotizador/médico Ravengar

Havia também quem enxergasse no protagonista-galã Jean Pierre (Edson Celulari) uma alusão a Fernando Collor de Mello. O então candidato à Presidência se colocava como o único salvador da pátria, o "caçador de marajás", e Jean Pierre era "o escolhido" para lutar pelo povo. Essa referência, no entanto, foi negada por Gabus Mendes. 

No geral, o reino de Avilan foi uma forma divertida que o autor e o diretor-geral, Jorge Fernando, encontraram de retratar as mazelas do Brasil: ambos os lugares tinham miséria, desigualdades sociais, instabilidade econômica, congelamento de preços, altos impostos e corrupção.

A única crítica que a novela não pôde fazer foi com um personagem interpretado por Chico Anysio. Ele chegou a gravar cenas como Taj Nahal, um pilantra que aplicaria um golpe na Bolsa de Avilan, trama inspirada no caso Naji Nahas, investidor libanês que respondia a um inquérito por estelionato e formação artificial de preços na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. 

Ao saber que seu cliente seria feito de piada na novela, o advogado de Nahas entrou com protesto judicial contra a Globo, afirmando que o libanês não havia sido condenado e exigiria resposta caso fosse ridicularizado. "Diante disso, a emissora decidiu não exibir a cena", diz o site Memória Globo.

Marieta Severo viveu a personagem feminista Madeleine na trama de Que Rei Sou Eu?

Feminismo e bruxaria
Além dos políticos e do herói Jean Pierre, um dos personagens de mais destaque foi Ravengar. Conselheiro-mor da rainha, ele tinha muita influência na corte e sempre conseguia o que queria. Mas nunca jogava limpo: Ravengar era uma mistura de bruxo, médico, astrólogo e hipnotizador e manipulava a todos com seus poderes.

Ravengar só não conseguia impressionar e controlar uma pessoa. Madeleine (Marieta Severo) era o objeto de desejo do bruxo, mas era casada com o conselheiro Bergeron (Daniel Filho) e lutava contra o feiticeiro e a própria rainha para preservar seu casamento. 

Madeleine ganhou repercussão em Que Rei Sou Eu? por ser a mulher mais inteligente da corte, a única que sabia ler e escrever. Ela era uma feminista, que brigava por seus direitos e não aguentava ver as mulheres submissas e sem voz.

Considerada original e um fenômeno de audiência, Que Rei Sou Eu? teve média geral de 52 pontos no Ibope da época e terminou com a vitória do povo sobre os opressores. Após invadir o castelo, o líder dos rebeldes, Jean Pierre, trocou o nome do reino de Avilan por Brasil e falou: "Ninguém vai mais explorar o trabalho do pobre. Agora, quero que gritem comigo: 'Viva o Brasil!'".

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