Globoplay ignora regras do streaming e vira TV linear por Todas as Flores

Segunda novela original do Globoplay, Todas as Flores chega ao fim nesta semana com jeitão de TV aberta --e da pior maneira possível. O penúltimo capítulo vai ser disponibilizado para assinantes às 18h desta terça (30), com uma "exibição ao vivo". O mesmo vai ocorrer com o episódio derradeiro, no ar na quinta-feira (1º).

Ou seja: o telespectador mais afoito, louco para saber como a história de João Emanuel Carneiro termina, não vai poder avançar para o final do capítulo assim que ele entrar na plataforma. Todos serão obrigados a assistir ao mesmo tempo, exatamente como na TV linear --que segue uma grade fixa.

Deseja avançar as cenas do "núcleo cômico" (que esqueceu a comédia) liderado por Oberdan (Douglas Silva)? Nada feito. Para acompanhar os desfechos de Maíra (Sophie Charlotte), Zoé (Regina Casé), Vanessa (Letícia Colin) e companhia, o assinante do Globoplay vai ter que "pagar pedágio", sem pular os personagens pouco interessantes --e há muitos deles na trama!

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A estratégia tem lá seus méritos: a ideia é evitar que apressadinhos comentem tudo no Twitter antes da hora e estraguem a experiência do público. Mas, convenhamos, a cultura de novelas no Brasil foi construída em cima de spoilers. Várias revistas estampavam as reviravoltas dos folhetins em suas capas, e o próprio Notícias da TV entrega segredos das tramas no ar.

Grande parte dos espectadores não se importa em descobrir o que vai acontecer. Saber que Humberto (Fabio Assunção) morreria pelas mãos de Zoé não estragou a experiência de acompanhar a cena dramática --impulsionada pelo fato de os atores entregarem uma atuação de altíssimo nível. Para quem não quer spoilers, basta ficar longe das redes sociais. Problema resolvido.

A exibição "ao vivo" dos dois capítulos finais de Todas as Flores também não considera que, às 18h, muitos brasileiros ainda estão voltando do trabalho para casa. Se a ideia era colocar todo mundo na frente da TV (ou do computador) ao mesmo tempo para evitar spoilers, o horário escolhido é equivocado --para dizer o mínimo.

No fim das contas, tentar impor uma "grade" ao Globoplay contraria o principal diferencial do streaming: ver o que quiser, na hora que desejar. O controle da "programação" deveria ser do assinante, que está pagando por isso, e não da plataforma. Ainda há o risco de um grande número de acessos simultâneos derrubar o sistema, como acontecia no BBB.

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