I Love Paraisópolis
Reprodução/TV Globo
Thainá Duarte e Dani Ornellas na cena de I Love Paraisópolis que substituiu apedrejamento
Para evitar mais desgastes com um segmento do público que lhe vem sendo cada vez mais arredio, a Globo cortou uma sequência da novela das sete, I Love Paraisópolis, em que uma adolescente seria apedrejada por evangélicos radicais na saída de um terreiro de umbanda. Inspirada em fato real, a cena, que iria ao ar na segunda-feira (12), foi substituída por um atropelamento mal explicado, que deixou a garota, Lilica (Thainá Duarte), com um corte na testa.
O Notícias da TV apurou que a decisão de censurar a cena foi da alta cúpula da emissora. Segundo uma fonte, executivos ficaram temerosos de a sequência parecer uma provocação gratuita aos evangélicos justamente em um momento em que a emissora tem tido dificuldades para vencer uma novela bíblica, Os Dez Mandamentos, da Record, e sofre rejeição de temáticas mais ousadas em suas novelas das nove.
A Globo, por meio de assessoria de imprensa, preferiu entrar em detalhes sobre o motivo pelo qual a sequência não foi exibida. “A trama dos personagens se desenrola atendendo a decisões dramatúrgicas e artísticas”, respondeu o setor de comunicação.
No roteiro do capítulo original entregue aos atores, Lilica e sua mãe, Deodora (Dani Ornellas), apareciam voltando do centro de umbanda, na favela de Paraisópolis, onde a garota passaria por um ritual de iniciação, e seriam abordadas pelos radicais.
“Sua macumbeira! Não tem vergonha, não? Vai pro terreiro fazer despacho e ainda leva a filha!”, gritaria um deles. “Nós vamos fazer justiça, em nome de Jesus!”, diria outro, antes de arremessar a pedra. No final da cena, os agressores seriam expulsos por Eva (Soraya Ravenle), que também é evangélica.
Texto publicado pelo Notícias da TV no último dia 3 adiantou que a cena polêmica estava prevista e gerou comentários nas redes sociais. A maioria deles sugeria que a Globo persegue evangélicos. “Isso só afasta mais os evangélicos de assistir à programação”, escreveu Edilson Filipe Silva. “A Globo nunca mostra a imagem dos evangélicos como eles realmente são, faz sempre questão de deturpar a imagem”, comentou Maiane Cruz. “Evidenciando uma situação de intolerância que realmente acontece no país”, defendeu Yuri Henrique.
A cena de I Love Paraisópolis lembraria o caso de uma menina de 11 anos que foi apedrejada ao deixar um centro de candomblé no bairro da Penha, no Rio de Janeiro, em junho deste ano. Na ocasião, a avó da garota disse que os agressores teriam gritado ofensas contra a religião delas antes de arremessar a pedra. A mesma ordem de acontecimentos foi escrita na sequência de I Love Paraisópolis.
reprodução/tv globo
Lilica (Thainá Duarte) tem corte na testa após ser atingida por carro em Paraisópolis
Atropelamento
Na cena que foi ao ar, Lilica sofreu um acidente que nada acrescentou ao andamento da trama, e o batismo no centro de umbanda foi substituído por uma consulta ao dentista. “Viu, filha, como dentista não é esse bicho de sete cabeças?”, disse Deodora. “Eu é que escovo o dente direitinho, passo fio dental”, respondeu a filha, antes de se afastar bruscamente da mãe e ser atropelada.
Enquanto a menina estava ferida no chão, Eva e Paulucha (Fabíula Nascimento) chegaram para ajudar a socorrê-la. Na sequência original, a mãe de Mari (Bruna Marquezine) faria um discurso sobre intolerância religiosa enquanto Lilica recebia o curativo na testa feito por Tomás (Dalton Vigh).
A fala foi substituída por um desabafo sobre violência no trânsito. “Mas o trânsito da nossa cidade está cada vez mais violento, né?”, disse Eva. “Infelizmente o carro pode se tornar uma arma não mão de alguém irresponsável”, completou o médico.
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