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ELE É TERRÍVEL

Dissimulado, dúbio e aterrorizante: Como Theo virou o vilão perfeito da TV

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Emilio Dantas sorrindo, com expressão de deboche, em cena de Vai na Fé

Theo (Emilio Dantas) em cena de Vai na Fé; vilão aterroriza inimigos, mas tem mais de uma versão

FERNANDA LOPES

fernanda@noticiasdatv.com

Publicado em 24/6/2023 - 6h30

Theo (Emilio Dantas) em Vai na Fé é um personagem complexo. Trata-se claramente de um vilão: um homem que comete diversos tipos de crimes, que diz barbaridades, desrespeita mulheres e humilha até o próprio filho. Ainda assim, não é raro o folhetim exibir cenas em que ele tem boas ações, de maneira genuína. Assim, Theo representa, na ficção, a perspectiva verossímil e não maniqueísta de que ninguém é uma coisa só. Ele se constitui como uma força maligna mais problemática do que o comum para a teledramaturgia brasileira.

Nos próximos capítulos da novela das sete da Globo, o público será confrontado com o pior lado de Theo, o mais aterrorizante. Ele irá a julgamento após ser denunciado por Janaína (Tulanih), uma das mulheres que foram vítimas de abuso sexual do vilão.

Além dela, outros personagens darão depoimentos sobre crimes cometidos por ele. Lui (José Loreto), por exemplo, lembrará o dia em que Theo dopou Sol (Sheron Menezzes) nos bastidores de um show e se trancou num camarim com ela, na intenção de violentar sexualmente a mulher desacordada.

O canalha será dissimulado o bastante para negar todas as acusações. A vilania intrínseca no personagem o faz acreditar que realmente não cometeu delitos tão graves assim, já que todas as mulheres em algum momento concordaram em estar próximas a ele --o que é muitíssimo distante de consentimento para atos sexuais, mas na mente machista e misógina de Theo dá quase na mesma.

Ele ainda terá a defesa intensa deLumiar (Carolina Dieckmann). Ela de fato acreditará que seu cliente e amante não tem tanta culpa no cartório e desmantelará vários dos argumentos e histórias apresentadas nos depoimentos. Os crimes de vertente sexual nem sempre têm tantas provas possíveis de serem apresentadas num tribunal, tanto tempo após as ocorrências, e a advogada se aproveitará disso para detonar as acusações.

Tanto a loira quanto Clara (Regiane Alves) são vítimas de violências e manipulações de Theo, mas caem em armadilhas dele. O personagem apresenta uma dubiedade: ele não é tão ruim para elas quanto é e foi para outras mulheres.

A personagem de Regiane Alves releva várias atitudes do ex-marido por achar que ele não desceria a um nível tão baixo --ela mesma, cria da alta sociedade, tem dificuldade de se colocar no lugar de mulheres com menos privilégios, que enfrentaram sofrimentos maiores nas mãos do crápula.

Já Lumiar teve exemplos de boas ações de Theo. Ele de fato se jogou na frente dela e levou um tiro por ela num atentado, além de ter levado Dora (Claudia Ohana) para o hospital numa emergência.

Há telespectadores que acusam a autora de Vai na Fé, Rosane Svartman, de "passar pano" para Theo, por retratá-lo em situações em que o personagem é acolhido por Lumiar ou demonstra atos de amor e carinho com ela.

Para o público mais acostumado com a teledramaturgia maniqueísta, em que há apenas os muito maus, 100% diabólicos, e os muito bons, que são até trouxas de tão inocentes, não é tão comum a existência de um personagem que tem os dois lados --ainda que um deles, o pior, prevaleça sobre pequenos lampejos de bondade.

Theo e Rosane têm tudo para serem ainda mais criticados após o fim do julgamento, quando o vilão será inocentado pelo juiz por falta de provas dos crimes sexuais que ele cometeu. Ainda assim, ele representa uma verossimilhança, uma frustração que o brasileiro certamente reconhece muito bem: a de ver pessoas que cometeram atrocidades (publicamente ou a nível pessoal) e seguiram a vida impunemente.

Resta saber se no fim de Vai na Fé, em agosto, Theo ganhará uma punição de acordo com as atitudes terríveis que ele cometeu ao longo dos capítulos ou se seguirá os passos de Marco Aurélio (Reginaldo Faria) de Vale Tudo (1988): outro vilão marcante da TV brasileira, com traços que lembram os do personagem de Emilio Dantas, que terminou a novela dando uma banana para todos e provando que o mal às vezes é mais esperto e sai ileso.


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