ESPERANÇA
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Os atores Priscila Fantin e Reynaldo Gianecchini formavam o casal protagonista da novela Esperança (2002)
REDAÇÃO
Publicado em 17/6/2020 - 5h02
A novela Esperança, que estreou há exatos 18 anos na Globo, foi planejada para ser uma nova versão de Terra Nostra (1999), sucesso de 1999. Mas nem de longe a suposta continuação conseguiu repetir o bom desempenho da antecessora. Pelo contrário: além de audiência baixa, a novela teve muitos problemas, como vários atores adoentados, uma morte no elenco, um acidente em cena e um autor revoltado.
Os obstáculos começaram dois anos antes de Esperança ir ao ar. O plano inicial do autor, Benedito Ruy Barbosa, era nomear a trama como Terra Nostra 2 e ambientá-la durante a Segunda Guerra Mundial, mas a minissérie Aquarela do Brasil (2000), que teve a mesma temática, frustrou seus planos.
Por isso, o nome ficou Esperança, e a história se passou na época da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. Mas houve quem desse o apelido maldoso de "Semelhança", pela tentativa de se aproximar de Terra Nostra.
A novela estreou em 17 de junho de 2002, em meio à Copa do Mundo, o que também não ajudou. Os protagonistas eram Toni (Reynaldo Gianecchini) e Maria (Priscila Fantin), dois italianos que se apaixonavam mas eram impedidos de viver seu amor. Ela era obrigada a se casar com um homem mais velho (papel de José Mayer), e ele se envolvia com uma moça judia (Camille, interpretada por Ana Paula Arósio).
Dois meses após a estreia, Arósio e Gianecchini se feriram durante a gravação de uma cena em que Camille destruía uma estátua feita por Toni. A atriz torceu o pé, enquanto o ator teve um dente quebrado ao ser atingido por estilhaços que voaram após o golpe com uma barra de ferro.
Outros problemas de saúde (não relacionados às gravações) acometeram o elenco: Antonio Fagundes, que participou da primeira fase, ficou uma semana internado com pneumonia; Nuno Lopes, que interpretava Murruga, foi para o hospital com luxações nas pernas depois de um acidente na praia; e Gilbert Stein, que vivia o pai de Camille, teve uma crise de hipertensão.
O caso mais grave foi o do ator português Luís de Lima (1925-2002), que vivia Antonio, o pai de Murruga. Após dois meses no ar na novela, ele morreu aos 77 anos, vitima de infecção pulmonar.
Enquanto isso, o autor Benedito Ruy Barbosa também enfrentava suas dificuldades. Além de ter seu sítio assaltado, ele começou a atrasar a entrega dos roteiros.
Cenas passaram a serem gravadas em cima da hora, muitas vezes no mesmo dia em que iam ao ar. Um capítulo chegou a ser editado 20 minutos antes de entrar no ar. Com isso, cresceu o uso de flashbacks, o que não agradou ao público. A média de audiência na Grande São Paulo chegou a 27 pontos, quando o esperado era 45.
Quando a novela já estava no ar havia seis meses, em dezembro de 2002, Barbosa alegou problemas pessoais e de saúde e foi afastado de própria novela. Ele foi substituído por Walcyr Carrasco, que contou com a ajuda de Thelma Guedes.
"Eu não queria que a novela fosse ao ar junto com a Copa do Mundo e o horário político. Achei que me prejudicaria. Mas teimaram e fizeram mesmo assim. Além disso, minha mãe estava doente. Eu deixava de escrever para ir ao hospital, voltava para casa chocado, tentava escrever. Foi ficando muito difícil para mim até que, um dia, resolvi parar", disse Barbosa em depoimento ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia.
A partir do capítulo 149, a trama ganhou novos personagens e desdobramentos, fugindo da história original, o que deixou Barbosa revoltado. Edmara Barbosa, filha do autor, disse à imprensa que ele não acompanhava mais a novela, porque ficava muito irritado e tinha vontade de fumar, o que estava proibido de fazer.
"Quando ele [Carrasco] assumiu a novela, deixei de assistir. Se visse, queria bater nele. Na época, liguei para o Mário Lúcio Vaz [então diretor artístico da Globo] e disse: 'Avisa o Walcyr que, quando eu encontrar com ele, eu vou dar porrada, entendeu?'. Ele simplesmente acabou com minha novela. Não terminou como eu queria. Depois, mandou uma carta pedindo desculpas. Coitado!", falou o autor em depoimento ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo.
Ainda assim e apesar de tudo que deu errado, Carrasco conseguiu dar um rumo final à novela e levantar a audiência. Esperança chegou ao fim em fevereiro de 2003 e não deixou saudades. Nunca foi reprisada no Vale a Pena Ver de Novo nem no Viva.
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