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TABU

Beijo gay era 'rigorosamente não recomendado' em novelas, diz autor

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Luiz Carlos Tourinho abraçado ao ator Diogo Vilela em cena de Suave Veneno, ambos com expressões assustadas

Uálber (Diogo Vilela) e Edilberto (Luiz Carlos Tourinho), personagens gays de Suave Veneno (1998)

FERNANDA LOPES

fernanda@noticiasdatv.com

Publicado em 22/7/2024 - 10h00

Beijos e trocas de carícias entre personagens gays e lésbicas ainda hoje são alvo de tabu e/ou comoção nas novelas da Globo --basta lembrar os casos da censura aos beijos de Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman) em Vai na Fé (2023) e a empolgação em relação ao romance de Ramiro (Amaury Lorenzo) e Kelvin (Diego Martins) em Terra e Paixão (2023).

Hoje, no entanto, tramas de amor entre personagens LGBTQIA+ são mais frequentes na teledramaturgia do que eram décadas atrás. O autor Aguinaldo Silva afirma que, durante muitos anos, este tipo de cena era "não recomendado" na emissora.

O escritor aborda esta questão em seu livro mais recente, Meu Passado me Perdoa: Memórias de uma Vida Novelesca, lançado neste mês. Aguinaldo Silva relata suas histórias pessoais e sua trajetória profissional como jornalista e autor de novelas.

O novelista conta, por exemplo, que não guarda boas lembranças da novela Suave Veneno (1998). Na época de sua exibição original, a trama teve problemas de audiência, que foi ameaçada pelo que ele chama de "um fenômeno de comunicação chamado Ratinho".

Em meio a reuniões e palpites para que ele mudasse os rumos da trama, surgiu um boato de que, na tentativa de levantar a audiência, o autor escreveria o primeiro beijo gay em sua novela. Silva afirma que nunca havia falado sobre isso na vida real.

Ele, então, relata como era o posicionamento da Globo em relação a isso: "Hoje em dia gays se beijam quase todos os dias nas novelas sem que a terra trema na casa dos telespectadores por causa disso (algumas camas, talvez). Mas durante muito tempo esse tipo de cena foi rigorosamente 'não recomendado', bem como demonstrações mais efusivas de carinho entre duas pessoas do mesmo sexo".

O autor ainda conta que, em Império (2014), não pôde levar ao ar uma cena em que os personagens Cláudio (José Mayer) e Leonardo (Klebber Toledo), que eram um casal, acordavam juntos na mesma cama. "Ela [a cama] foi substituída por um sofá no qual, por mais que se grudassem um ao outro, quase não cabiam aqueles dois monumentos", completou.

Silva ressalta, por outro lado, que houve mais aceitação ao romance lésbico de Senhora do Destino (2004), protagonizado por Eleonora (Mylla Christie) e Jennifer (Bárbara Borges). As duas tiveram cenas juntas na mesma cama.

O beijo gay em Suave Veneno não aconteceu, e Aguinaldo Silva diz que nem passou pela sua cabeça escrevê-lo. "Sou pragmático e sei que, se então a escrevesse [a cena], ela seria sumariamente cortada do roteiro e eu não ganharia nada com esse gesto infantil de rebeldia além de um mal-estar que, pelo menos por parte da emissora, nunca seria esquecido", declara.

Procurada pelo Notícias da TV, a Globo não se pronunciou sobre o assunto. Caso o faça, este texto será atualizado.

No livro, ele admite que, apesar de todas as recomendações contrárias, havia "uma disputa entre os autores (declarada ou não) para ver quem conseguia liberar primeiro a cena do beijo gay numa novela".

Gloria Perez tentou em América (2005), mas o beijo entre Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) foi gravado e cortado do último capítulo, para decepção geral do elenco.

Quem conseguiu mesmo emplacar o primeiro beijo homoafetivo em uma novela das nove foi Walcyr Carrasco, com Félix (Mateus Solano) e Nicolas (Thiago Fragoso), no último capítulo de Amor à Vida (2013).


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