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HUGO GERMANO

Ator agarra oportunidade em Mar do Sertão e usa DNA de noveleiro para bombar

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Hugo Germano usa o uniforme do soldado Venâncio --blusa e boné beges-- e encara um ponto fixo; a foto foi tirada de baixo para cima, e ele está sério

Hugo Germano como sargento Venâncio em Mar do Sertão; ator resgatou clássico das novelas

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 2/11/2022 - 6h30

O sargento Venâncio (Hugo Germano) não tem lá muitas falas ou aparições em Mar do Sertão. Vira e mexe, cumpre um mandado de prisão ou repreende Sabá Bodó (Welder Rodrigues) pela farra na cela. Mesmo assim, o ator fez questão de criar um símbolo para o personagem --pelo qual passou um bom tempo escavando suas memórias de infância em frente à TV.

Se suas primeiras cenas não tivessem sido gravadas muito tempo antes, dava até para pensar que foi uma referência ao que Isabel Teixeira fez no último capítulo de Pantanal: o famoso tilintar da pulseira de Sinhozinho Malta (Lima Duarte), de Roque Santeiro (1985). Germano, no caso, substituiu o acessório pelas algemas que carrega para cima e para baixo no set da novela das seis da Globo.

"Várias vezes, o delegado (Floro Borromeu, interpretado por Leandro Daniel) fala: 'Sargento Venâncio, as pulseiras'. Eu não tinha que mostrar as algemas nem nada, mas propus uma coisa: levantar a algema e balançar. É algo que já vem das antigas novelas. O Sinhozinho Malta balançava o ouro, por exemplo. Também tem um quê do Cabo Setenta (vivido por Aramis Trindade em O Auto da Compadecida, filme de 2000), do mesmo universo", explica em entrevista ao Notícias da TV.

Se o amplo repertório em novelas pôde servir para resgatar clássicos, também pode acabar gerando a reprodução de estereótipos ou preconceitos que não cabem mais aos dias de hoje --de acordo com debates que assumiram mais protagonismo na mídia. Talvez por isso uma das cenas do ator que mais repercutiu foi em relação a um erro de grafia. Como o folhetim é ambientado no Nordeste, muitos internautas pensaram ser mais uma reprodução da velha visão em que o povo nordestino é "analfabeto" ou "burro".

Por mais que a questão esteja mais sob a alcunha do autor, Mario Teixeira, o intérprete se esforça para não repetir preconceitos --nem mesmo em relação à brincadeira do "Justiça com G" em uma das cenas. Ele, aliás, tem uma outra interpretação do momento.

"No caso da 'Justiça com G', teve aquilo do medo... Um cara tinha acabado de voltar do mundo dos mortos, isso embaralha a cabeça", explica. De fato, José Mendes/Zé Paulino (Sergio Guizé) tinha acabado de voltar a Canta Pedra, depois de dez anos em que sua morte havia sido decretada.

Tem o erro, mas a gente se pergunta: ele tá errando porque ele não sabe ou porque está querendo dizer outra coisa, querendo 'pegar' alguém? Nenhum personagem ali é o que é, sempre tem uma coisa por trás. Mas é bom gerar essa polêmica. Nordestino falando errado, preto no papel de bandido.... Se der mole, [a novela] acaba repetindo.

Representatividade é chave

Germano, afinal, tem amplo conhecimento de causa. Ele só aceitou trabalhar na novela porque sabia que teriam outros atores negros no elenco, como Mariana Sena (Lorena), Ju Colombo (Quintilha) e Déo Garcez (Catão). Ele se sentiu mais seguro por saber que colegas entenderiam sua experiência como homem negro naquele ambiente e que poderiam apoiá-lo caso necessário.

"Querendo ou não, é mais um corpo preto ali na rede Globo. E tinha uma galera boa preta, não ia me sentir sozinho. É tudo muito rápido, as coisas vão acontecendo, você não tem muito tempo de trabalho, e precisa ser acolhido. A galera branca também ajuda a colocar o corpo preto em ascensão. Não dá pra separar, tem que ser todo mundo junto. Senti isso desde a primeira conversa com o Allan [Fiterman, diretor do folhetim], então concluí que era o momento de pegar o papel e colocar toda a minha trajetória", afirma.

Outro ponto essencial foi a escalação de atores nordestinos. Eles também fazem alertas sobre quaisquer cenas ofensivas, além de, claro, serem exemplos perfeitos de sotaque e costumes. E olha que o intérprete do soldado adora se debruçar sobre isso --ele passou horas para descobrir o significado de "tá rocheda" depois de ouvir a música homônima de Os Barões da Pisadinha --a expressão é comum nas periferias de Fortaleza e significa algo como "tá beleza", "ótimo" e "tudo bem".

"O Brasil está vendo aquilo e por isso, às vezes, eu fico preso em uma gíria, em uma palavra. O nordestino pode entender, mas será que a galera do Rio de Janeiro vai? Tenho que colocar algo no meu corpo, na minha expressão, para que elas entendam o significado daquela palavra. É tudo uma pesquisa. Não é só o que eu estou pensando, tem que focar no público sempre. E o povo nordestino... Não é só um sotaquezinho numa piada. Tem um respeito, uma cultura", defende.

Do Cantagalo à TV

Entender as entrelinhas de cada frase, de cada movimento, foi um exercício intenso para o ator. Ele diz que na adolescência era um "analfabeto funcional". "Lia e não entendia o que lia, queria colocar minhas ideias no papel e não sabia como", relembra. Ainda assim, a curiosidade, a vontade de contar histórias e o jeito que levava para imitar as pessoas fizeram com que ele descesse o Morro do Cantagalo, na zona sul do Rio de Janeiro, até a Gávea, também na zona sul, para participar da primeira companhia de teatro.

Ali, comecei a entender o que é ser artista, ser ator. No primeiro dia, o Márcio [Januário, diretor da companhia Completa Mente Solta] perguntou se eu gostava de ler e escrever. Eu disse: 'É...' Aí ele respondeu: 'Você precisa ler tudo. Livro, roteiro, artigo de Biologia... Ler muito. Você já é preto e pobre, não pode ser burro'. Fiz isso e, agora, já tenho dois contos publicados.

Desde aquela época, ele já havia notado o valor da representatividade. O maior incentivo do artista foi quando ele viu, pela primeira vez, um homem negro no palco, em um monólogo. "Isso da representatividade bateu bastante em mim. Eu vi que poderia falar dos meus ancestrais, passar a minha vida para outro, contar minha história", destaca.

O próprio ator se inspirou nessas histórias para seguir em frente. Com alguns, ele teve a chance de contracenar --é o caso de Cosme dos Santos, que vive Janjão na novela das seis. Outros, ele pôde interpretar no teatro, como Sebastião Bernardes de Souza Prata, o Grande Otelo (1915-1993).

Alguns ele acompanhou a trajetória por meio da interpretação, como Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum (1941-1994). Em breve, Germano aparecerá no longa-metragem Mussum, o Filme, que narra a história do músico e humorista. Ele será Rubens Fernantes, o Rubão, na primeira fase do filme

Agora, a ideia do intérprete é justamente usar a visibilidade da Globo para emplacar mais projetos nesse sentido. Como o personagem aparece pouco, ele consegue ter tempo para tocar outros projetos. Ao mesmo tempo, não perde a oportunidade de compartilhar uma cena de Venâncio e conseguir o valioso engajamento nas redes sociais.

Toda essa trajetória deixou claro que, independentemente do veículo, o que ele gosta é de contar histórias relevantes. Pode ser um protagonista na TV, sim, ou um papel menor no teatro. Não importa: ele está certo do tipo que narrativa que quer participar. Diferentemente do sargento Venâncio, que ainda não faz ideia de qual será seu futuro --embora seu intérprete saiba que será permeado por uma bela pitada da síndrome do pequeno poder. 

"O Mario (Teixeira, autor) é muito misterioso. Mas o sargento Venâncio, o delegado Floro, o Sabá Bodó, o Eudoro Cidão (Érico Brás), o padre Zezo (Nanego Lira)... Toda a galera que tá ali na muvuca... Bom, se aprontar muito, o sargento leva todo mundo preso", brinca.

Mar do Sertão é a novela da faixa das 18h da Globo. O folhetim é escrito por Mario Teixeira e dirigido por Allan Fiterman. Leia os resumos dos próximos capítulos da novela das seis.


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