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A MULHER REI

Viola Davis resgata histórias negras que Brasil deixou pegar fogo por descaso

MARCELLO SÁ BARRETO/AGNEWS

A atriz Viola Davis sentada em uma réplica do trono do reino de Daomé no salão nobre do Copacabana Palace

Viola Davis na coletiva de imprensa de A Mulher Rei; atriz visitou pontos históricos no Rio

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 19/9/2022 - 14h04

Viola Davis se sentou em uma réplica do trono do Reino de Daomé --atual Benin-- durante a coletiva de A Mulher Rei nesta segunda (19). O próprio rei Adandozan (1718-1818) havia presenteado o então príncipe regente D. João 6º (1767-1826) com uma peça idêntica em 1811. O objeto, no entanto, foi destruído durante o incêndio do Museu Nacional em setembro de 2018.

A atriz veio pela primeira vez ao país para resgatar não só essa, mas tantas outras narrativas negras que também viraram cinzas ao longo de quatro séculos de escravidão. Estima-se que 1,5 milhão de pessoas escravizadas vindas do Benin aportaram nas América pelo Brasil --o segundo maior contingente, perdendo apenas para Angola.

Antes do encontro com a imprensa no Copacabana Palace, na zona sul do Rio de Janeiro, Viola visitou as ruínas do maior porto receptor de escravizados no mundo. Ela esteve no Cais do Valongo, no centro da capital, no domingo (18), seguindo os passos de uma jornada ancestral.

A atriz deixou os Estados Unidos rumo à África do Sul para filmar o longa-metragem e, em seguida, atravessou o Atlântico para chegar ao Brasil. Ela, inclusive, ressaltou a importância do país sul-americano para o sucesso do filme:

Nós sabemos que milhões de escravizados deixaram a África Ocidental, e a primeira parada deles foi o Brasil. Existe um sentimento na cultura negra, seja você um afro-americano, do Caribe ou brasileiro, de que nós estamos todos conectados. Nós somos parte de um todo. Um dos pontos centrais do filme é justamente essa profunda conexão, e a contribuição do Brasil nesse sentido é imensa.

AGNEWS

A atriz Viola Davis nas ruínas do Cais do Valongo, no centro do Rio de Janeiro

Viola Davis no Cais do Valongo

Racismo e colorismo

Viola Davis sempre levantou a voz contra o racismo, principalmente para defender mulheres que como ela têm a pele retinta. A artista afirma que o colorismo é um dos piores preconceitos do mundo, que apaga pessoas com a pele mais escura –seja na vida ou na arte.

"Mulheres negras estão sempre no fundo da lista, principalmente quando temos a pele escura. Você pode até ver médicas, advogadas negras em filmes, mas sempre sem nome. Você vê as pessoas na tela, procura nos créditos e não as encontra. Estou cheia disso. Eu sei quem são esses seres humanos. São nossas mães, nossas tias."

A atriz diz que se cansou de ter a própria história apagada e se engajou como produtora do filme ao lado do marido, Julius Tennon:

Na minha vida, eu sei quem são essas mulheres. Elas são diversas, complexas e cheias de beleza. Eu quero que mulheres negras sejam humanizadas, como todos os outros. Se estamos lutando contra o colorismo e o racismo, esse é o primeiro passo. Não somos apenas um artifício da narrativa, uma metáfora.

Encontro com si mesma

Viola Davis diz que pela formação clássica, sempre interpretou papéis que já haviam sido vividos em sua maioria por atrizes brancas. Não à toa, a general Nanisca --que comanda um pelotão de elite formado apenas por mulheres em Daomé-- a fez pela primeira vez experimentar a sensação de pertencimento enquanto atuava.

"Ao assistir a A Mulher Rei, você tem que se sentar para ver mulheres negras, fortes, de cabelo crespo como heroínas durante duas horas e meia. É a chance de nós sermos vistas. Nós não estamos nos filmes de grandes cineastas. Não somos vistas na vida, nem na cultura. Não somos vistas como valiosas."

A intérprete afirma que, mesmo após vencer o Oscar e o Emmy, lida diariamente com o racismo na profissão:

Eu valho tanto quanto as Julianne Moore e as Maryl Streep. Sabemos que elas são boas, porque elas tiveram a oportunidade de mostrar. Por isso, é importante ter personagens como as do filme porque a arte imita a vida, e precisamos saber que elas também são mulheres. As pessoas não nos verem mais é inaceitável.

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