Úrsula no teatro 'prende' lado drag para dublar vilã de A Pequena Sereia

Uma das pioneiras do novo teatro musical brasileiro, Andrezza Massei encarou uma situação profissional inusitada neste ano. A atriz de 46 anos foi escolhida pela Disney para dublar a vilã Úrsula no filme live-action de A Pequena Sereia, mas já tinha vivido a personagem nas duas montagens do espetáculo no Brasil, em 2019 e em 2022. Confinada em uma cabine de som no lugar do palco, ela teve de "prender" seu lado drag para incorporar a rival de Ariel (Halle Bailey).

Para quem não sabe, os animadores do desenho de 1989 se inspiraram na drag queen Divine (1945-1988), musa do cineasta John Waters (de Hairspray e Pink Flamingos), para criar o visual de Úrsula --por isso, ela usa a maquiagem carregada e tem um modo de falar exagerado, que beira o teatral. Andrezza bebeu da mesma fonte para viver a personagem no musical.

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"No teatro, com um palco daquele tamanho, não dá para fazer uma atuação minimalista, porque os detalhes se perdem, o público não consegue ver. Eu tinha que ser expansiva, fazer tudo de maneira exagerada. A imagem da drag ajudou muito aí, porque pude puxar para esse lado, abusar disso no palco", conta a atriz em conversa exclusiva com o Notícias da TV.

Já para dublar a atriz Melissa McCarthy, que vive a vilã do live-action, a artista precisou ser mais contida na atuação. "No filme, a tela é imensa e tudo é muito mais sutil, então tive que dar uma diminuída nas minhas intenções. E precisava ficar em cima do trabalho da Melissa também, não dava para fazer aquela Úrsula da Andrezza. Mas a personagem está inteirinha nos dois trabalhos: o sarcasmo, a maldade e a inveja estão tudo lá. Só que de uma maneira mais discreta (risos)", ressalta.

Antes de A Pequena Sereia, Andrezza já tinha emprestado sua voz para outras produções da Disney, como O Retorno de Mary Poppins (2018). Thor: Ragnarok (2022) e a animação Encanto (2021). Mas dublar Úrsula foi uma experiência mais difícil, ela admite, justamente por já ter vivido o papel antes.

Você precisa segurar sua construção da personagem. Surfar mais na onda da interpretação, tentar achar algo em comum com o trabalho da Melissa. É muito mais complicado assim, quando você já passou por ali, tem uma visão particular e precisa se abrir para a visão do outro. 

Bem mais fácil para Andrezza foi abraçar a representatividade do filme --Ariel é vivida pela cantora Halle Bailey e, no Brasil, ganhou a voz de Laura Castro, ambas mulheres pretas. "Eu acho importantíssimo, já passou da hora de falarmos sobre isso. E, mais do que só falarmos, colocarmos em prática também", elogia a atriz.

"Tanto a Halle quanto a Laura fizeram um trabalho maravilhoso. Não tem como não acreditar na sereia delas, independentemente de cor", continua Andrezza, que tinha contracenado com um príncipe Eric preto na montagem do musical realizada no ano passado, quando Gabriel Vicente assumiu o papel vivido originalmente por Rodrigo Negrini.

A Pequena Sereia está em cartaz nos cinemas. O elenco do filme também conta com Jonah Hauer-King (Eric), Javier Bardem (Tritão), Daveed Diggs (Sebastião), Linguado (Jacob Tremblay) e Awkwafina (Sabidão).