DE HERÓI A VILÃO
Divulgação/Netflix
Robert Pattinson em O Diabo de Cada Dia (2020); personagem do ator é a encarnação do arqui-inimigo do Homem-Morcego
ANDRÉ ZULIANI
Publicado em 16/9/2020 - 16h43
Estreou nesta quarta-feira (16), na Netflix, o filme O Diabo de Cada Dia (2020). O drama tem Robert Pattinson, o novo Batman dos cinemas, em seu elenco. A expectativa dos fãs para verem o ator como o Homem-Morcego é grande, mas alguns poderão estranhar o trabalho dele no longa. Seu personagem, um pastor com atitudes macabras, de herói não tem nada. Está mais para a própria encarnação do Coringa.
A produção, aliás, é um grande crossover entre atores que vivem super-heróis e outros personagens populares das telonas. Além de Pattinson, o longa traz Tom Holland (Homem-Aranha) e Sebastian Stan (Soldado Invernal), representantes do Universo Cinematográfico da Marvel, assim como Bill Skarsgård, que viveu o perverso Pennywise nos dois filmes de It - A Coisa.
[Cuidado: possíveis spoilers abaixo]
O Diabo de Cada Dia é uma adaptação de um livro escrito por Donald Ray Pollock, publicado no Brasil como O Mal Nosso de Cada Dia (2011). A trama, que se passa no interior dos Estados Unidos dos anos 1960, divide sua narrativa soturna em capítulos simultâneos. O público acompanha três histórias focadas em personagens diferentes que, aparentemente, não apresentam qualquer conexão.
A falta de ligações, porém, não esconde as semelhanças apresentadas em cada linha narrativa. O mundo do longa dirigido por Antonio Campos é extremamente violento, e seus personagens são cercados o tempo todo por uma atmosfera sinistra, quase gótica. Mesmo assim, há muito espaço para discussão da religiosidade profunda que envolve os moradores daquela região.
Religiosidade essa que é questionada a cada atitude, principalmente nos acontecimentos envolvendo o pastor Teagardin, vivido por Pattinson. Aquele que deveria ser a voz de calma e sabedoria para os que frequentam a sua capela, composta em sua maioria por cidadãos pobres e sem estudo, se mostra um verdadeiro lobo em pele de cordeiro. E ele não é o único.
O jovem Arvin Russell, interpretado por Holland, é um rapaz cheio de traumas que busca seguir a vida de maneira correta, mas é constantemente puxado de volta para o turbilhão de mortes e horrores que compõe a sua jornada, iniciada de maneira trágica pelas atitudes de seu pai, Willard (Skarsgård).
Apesar da violência constante, o filme de Campos não chega a se definir como violento, ainda que uma de suas narrativas envolva um casal de serial killers. Se as mortes chocam, elas o fazem pela ligação com seus personagens, pelo conhecimento de suas histórias, e não por estética. O Coringa que representa o pastor vivido por Pattinson não é o palhaço assassino que mata sem piedade, mas, sim, um abusador frio e calculista --tão assustador quanto.
Em O Diabo de Cada Dia, todos os habitantes da pequena cidade de Knockemstiff, no Estado de Ohio, onde se passa grande parte da trama, parecem condenados a permanecer eternamente neste ciclo de violência.
Ainda que haja uma história sobre pais e filhos e o constante questionamento da fé e o relacionamento com Deus, o final não poderia ser menos agridoce. Todos lutam contra os demônios dentro de si e ninguém, nem mesmo Arvin, consegue fugir das consequências de suas ações.
Confira o trailer legendado do filme:
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