NA DITADURA
Divulgação/Globoplay
Caetano Veloso em trecho do documentário Narciso em Férias, em que conta como foram seus dias na prisão
Entre dezembro de 1968 e fevereiro de 1969, Caetano Veloso foi preso por motivos políticos em meio à Ditadura Militar (1964-1985). No documentário Narciso em Férias, que estreou no Globoplay na segunda-feira (7), o cantor conta como foram seus 54 dias na prisão e também como foi parar lá. Ele revela que toda a situação foi causada por um apresentador da Record na época, que não ia com a cara de Veloso.
O documentário consiste num depoimento de 1h24min do cantor sobre o período em que foi prisioneiro no quartel do Exército de Marechal Deodoro, no Rio de Janeiro. Há ainda um trecho em que ele lê páginas de relatórios policiais dos interrogatórios aos quais foi submetido.
Quando foi preso, Veloso simplesmente foi levado por oficiais do Exército, sem ser informado do motivo pelo qual era considerado "criminoso". Só durante os interrogatórios ele descobriu que estava sendo acusado de ter debochado da pátria e da bandeira brasileira durante um show.
O denunciante era Randal Juliano (1925-2006), que tinha o programa Astros do Disco, na Record nos anos 1960. Juliano falou, durante a atração, que Caetano Veloso havia cantado o hino nacional no ritmo da música Tropicália, o que seria um gesto muito subversivo, de desrespeito com o país. O apresentador não apreciava o estilo musical de Veloso, nem a forma com que ele se vestia e usava seu cabelo.
O suposto deboche nunca aconteceu, mas isso não impediu que os militares levassem o cantor preso. Só após semanas na cadeia ele foi questionado sobre isso e apontou testemunhas que poderiam confirmar sua versão dos fatos. No filme, Veloso lê as perguntas absurdas que teve de responder e chega a rir. "Que coisa terrível. Eu tô rindo, mas é muito sério", comenta.
O cantor foi solto em fevereiro de 1969 e, em junho, partiu para o exílio na Inglaterra, de onde voltou só em 1972. Vinte anos depois, em 1992, Randal Juliano deu uma entrevista ao talk show Jô Soares Onze e Meia, no SBT, em que admitiu ter feito "fake news" e pediu desculpas a Veloso.
"Se eu adivinhasse, se eu intuísse, seu eu percebesse, se eu tivesse uma premonição qualquer, ou um aviso vindo de qualquer lugar desse mundo, de outro mundo, que os fatos aconteceriam da maneira como aconteceram, eu não teria feito aquele comentário", disse ele.
Além dessa história, Caetano Veloso ainda relembra no documentário: como eram seus encontros íntimos com sua então mulher, Dedé Gadelha, na cadeia; como um sargento negro e baiano lhe ajudou a suportar o confinamento; e como se sentiu mal, nervoso e debilitado ao longo de toda sua estadia com os militares.
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