PERFIL
Rafael Lapone/Band
O empresário Renato Ambrosio, apresentador do Sabadão da Gente: 'Não é o bonito da televisão'
RESUMO: Dono de 11 empresas que vão faturar R$ 500 milhões em 2024, Renato Ambrosio viu a família ser despejada '20 vezes'. Hoje milionário, doa R$ 7,2 milhões por ano. Há duas semanas, se tornou apresentador de programa no horário nobre na Band.
Ele é gordinho e barrigudo, usa aparelho nos dentes e está perdendo cabelos. Apesar de passar longe da imagem padrão de apresentador, está no ar no horário nobre em rede nacional de televisão. Renato Ambrosio, 46 anos, estreou há duas semanas um programa de entretenimento na Band, nas noites de sábado --ocupando o espaço que era de João Guilherme Silva, filho de Fausto Silva.
Ambrosio é rico, um dos maiores anunciantes de Band, SBT e Record, mas não foi só por isso que virou apresentador de TV. Johnny Saad, presidente da Band, viu nele um "diamante" e alertou executivos da emissora para um apresentador de sorteios (em horário vendido) que falava para a câmera de um jeito particular e passava empatia com as classes mais humildes.
Se dependesse da Band, Ambrosio teria estreado no início deste ano, mas ele pediu tempo para estudar (e emagrecer). Desde o último dia 7, ele comanda o Sabadão da Gente, um programa zero inovador (a começar pelo nome), uma coletânea de quadros de TV popular que busca o clímax no choro de gente em dificuldade financeira.
Na estreia, o ator Caio Castro (garoto-propaganda de um dos produtos de Ambrosio) participou de um anêmico Arquivo Confidencial. Outro quadro, o Dia de Patroa, pareceu uma versão melhorada do Dia de Princesa, que Netinho de Paula fazia no Domingo da Gente, na Record no início dos anos 2000.
Ambrosio está léguas distante da desenvoltura de Luciano Huck ou Rodrigo Faro. Faltam-lhe traquejo em estúdio e um pouco mais de audácia nas entrevistas, para tentar impactar a audiência. Contudo, é inegável que tem carisma e autenticidade.
Com seu sotaque caipira e linguagem simples, ele passa "verdade", como percebeu Johnny Saad. E passar verdade é algo importante para quem vende sonhos como ele. Por isso, tem insistido em gravar quadros na rua sem pré-produção, abordando personagens de surpresa, como numa reportagem:
Comecei a perceber que aspessoas entendem atelevisão como algo manipulado. Então, eu não poderia fazer como o Gugu [Liberato], que entrava nas casas falando que iria fazer uma surpresa, mas as câmeras já estavam lá dentro. Acho que isso trouxe para as pessoas a ideia de que televisão é algo que não é sério, e isso me chocou muito."
No Sabadão, defende Renato Ambrosio, não existe "surpresa pré-combinada". "No Sabadão, eu vou bater na porta do Daniel sem o Daniel saber mesmo, sem ninguém ter avisado. Vou pedir para o porteiro: 'Amigão, me deixa subir para fazer uma surpresa para ele? Eu sou o Renato sou da televisão", explica.
Pragmático, Ambrosio sabe que esse processo deixa a produção mais cara e menos pré-roteirizada, o que dificulta a edição, e talvez tenha que aceitar a pré-produção para reduzir custos e tornar a atração mais dinâmica.
"Os dois primeiros programas euconsegui fazer nesse formato.E o terceiro também. Já estou gravando o quarto em Minas Gerais. Como é 100% sem sercombinado, é mais difícilproduzir, é cansativo, talvez eu esteja trabalhando muito mais doque outros apresentadores", lamenta. "Eu quero que as pessoas tenham a ideia de que o Renato não é o bonito da televisão, mas quando ele está passando na TV ou quando ele me achar na rua vai ser de verdade".
ReproduÇÃO/BAND
Renato Ambrosio dirige em rua à procura de entrevistados para programa
Foi pela necessidade de salvar um negócio que Ambrosio meio que sem querer querendo virou apresentador. Em 2018, ele percebeu que a política estava atrapalhando seus negócios com títulos de capitalização no Paraná. Seu produto Vale Sorte, uma Tele Sena regional, ocupava muito espaço na Rede Massa, grupo de emissoras de Carlos Massa, o Ratinho, afiliadas do SBT no Estado. As pessoas passaram a ligar os sorteios à Rede Massa e, por tabela, a Ratinho Júnior --filho do apresentador, então candidato a governador.
Ambrosio decidiu então mostrar a cara, se apresentar como dono do negócio, e passou a aparecer na televisão sorteando e entregando prêmios aos compradores de seus bilhetes. Além dos sorteios, começou a realizar "sonhos" das pessoas que lhe escreviam pedindo de celulares e dinheiro para pagar o aluguel a carros, viagens e casa própria. A audiência na TV subiu; e as vendas, também.
"Minha empresa explodiu, aumentou em cinco vezes o faturamento. Foi um negócio que eu nunca imaginei na minha vida. Eu falei: 'Será que as pessoas gostaram?'. Não entendi de verdade. Ah, vou fazer mais um, né? Foi legal, foi bacana. Mas eu acho que eu fui muito mal [como apresentador], Acho não, tenho certeza. É porque era comprado o horário mesmo", diz, rindo de si mesmo.
Ambrosio continuou comprando horários. Durante a pandemia, ganhou muito dinheiro investindo em lives com Gusttavo Lima, Wesley Safadão, Marília Mendonça (1995-2021), Bruno e Marrone e "todo mundo". Em 2022, lançou um título nacional de capitalização, o digital Viva Sorte, e fechou uma parceria com a Band, apresentando sorteios nas manhãs dos domingos. E virou garoto-propaganda de seu próprio produto.
"Deu muito certo, graças a Deus. Hoje somos líder de capitalização, passamos a Tele Sena", festeja. Viva Sorte é hoje um grande anunciante de TV aberta, estampa os uniformes do São Paulo e do Santos e detém os naming rights do clube do litoral paulista.
O Sabadão da Gente, diferentemente de tudo o que Renato Ambrosio fez até agora na TV, não é um horário comprado. Apresentador e emissora dividem despesas e receitas. Um de seus produtos, o Cartão da Gente, patrocina um quadro em que Ambrosio vai até a casa de pessoas que lhe escrevem pedindo socorro.
Ajudar é um verbo que não sai da boca do empresário e é peça fundamental de seu marketing pessoal. Ele disse ao Notícias da TV que gasta do próprio bolso cerca de R$ 600 mil todo mês, ou R$ 7,2 milhões por ano, fazendo doações a pessoas que não conhece. "Dou uma casa por semana, às vezes duas", diz.
Isso remete à sua origem pobre. Ambrosio nasceu em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, filho de um policial militar e de uma professora. Quando tinha cinco anos, seu pai foi tentar a sorte com uma madeireira no Paraná. Quebrou. "O lance da casa pra mim é algo muito forte. Eu vi meu pai e minha mãe serem despejados 20 vezes na minha infância. E eu sei como é difícil pra uma pessoa que é simples pagar aluguel", reflete.
Aos 13 anos, Renato Ambrosio voltou para a periferia de São Paulo, foi morar com os avós. Para estudar computação no centro, passava por debaixo da catraca do ônibus. Um ano depois, começou a trabalhar como office boy. Economizava o máximo que podia, fazendo trajetos a pé. Logo começou a fazer carreira no departamento financeiro da empresa de telecomunicações em que trabalhava, enquanto investia seu dinheiro na compra e venda de carros usados.
Com apenas 15 anos, Ambrosio já tinha um patrimônio de R$ 300 mil. Aos 16, era dono de um apartamento e de sua primeira farmácia. Quando atingiu a maioridade, já eram três estabelecimentos. Com o dinheiro da compra e venda de farmácias quebradas, montou uma construtora em Curitiba e abriu loteamentos no interior do Paraná. Também teve fábrica de cosméticos e distribuidora de medicamentos.
Ambrosio quebrou e se levantou duas vezes, reconhecendo que ganhou muito dinheiro com um negócio ilegal, o de máquinas para "pescar" bichos de pelúcia, com o qual chegou a arrecadar R$ 30 milhões por mês. "Todo dia tinha R$ 1 milhão no meu carro, mas pus data para acabar porque não ia legalizar. Voltei a trabalhar com farmácias porque tinha medo da ilegalidade", conta.
Há 16 anos, quando tinha 30, Ambrosio resolveu competir com a Tele Sena de Silvio Santos (1930-2024). Lançou o Vale da Sorte em cidades do interior de São Paulo e Paraná. Aos 34, já milionário, fez uma lista de 35 coisas que deveria ou poderia fazer até os 35 anos, como conhecer 50 países e comprar barco e avião.
"E aí, quando eu cheguei nos 35, que eu cumpri aquilo que queria, vi que aquilo era fútil, aquilo não ia me fazer bem. Naquele momento alguma coisa me tocou, que não era aquilo que eu tinha que fazer. Eu não tinha que viver o resto da vida usufruindo do que eu plantei. Decidi começar a cuidar de gente", fala.
"E aí, comecei por onde? Pelos meus funcionários, sabia quem ajudar. Sempre conheci todos os meus funcionários, todos. Hoje eu tenho 3.400 funcionários, todos têm meu celular, falo com todo mundo, sei o nome de cada um, sei quem é casado", diz.
"Comecei pelos funcionários e pelos meus clientes. Foi mais ou menos nessa época que eu comecei a ir para a rua, no Vale Sorte, no Paraná. E dali para cá minha vida é outra. Então hoje eu vivo 100% para cuidar de gente."
Como se percebe, o conceito de "cuidar de gente" de Renato Ambrosio também inclui vender títulos de capitalização que vão de R$ 0,20 a R$ 19,90 e prometem distribuir dinheiro e carros em sorteios quase diários. Mas ele destaca um diferencial em relação à Tele Sena.
REPRODUçÃO/BAND
Renato Ambrosio abraça participante de seu programa: busca do choro
Tanto o Vale Sorte do Paraná como o Viva Sorte nacional são títulos de capitalização filantrópicos. Não há resgate para quem o compra. Esse valor, que corresponde a 50% do valor pago pelos clientes, vai diretamente para duas instituições de saúde no Paraná 61 dias após a compra do cupom. Atualmente, a Santa Casa de Londrina recebe R$ 400 mil por mês do Vale Sorte, e o Hospital do Câncer de Londrina, R$ 7 milhões mensais do Viva Sorte.
Sempre fui contra o formato da Tele Sena. Porque na Tele Sena as pessoas têm direito a 50% depois de um ano. E 77% dessas pessoas nunca resgataram. Então o dinheiro não ficava para a Tele Sena, ficava no bolso do Silvio Santos. E o cara ganhava uma fortuna com isso."
"E a Tele Sena é um título que não é obrigado a ter ganhador. Se saiu não vendido, o prêmio ficava. Então eu sempre bati muito nisso. Isso não é justo. Se você prometer mil prêmios, tem que sair os mil prêmios. Eu queria que o resgate voltasse imediatamente para a pessoa, mas a lei não permitia. Eu falei: 'Então vamos fazer filantropia. O resgate vai para uma instituição'", discursa.
Neste ano, as 11 empresas de Renato Ambrosio vão faturar meio bilhão de reais. Entre elas estão redes de óticas, concessionárias de motos, franquia de implantes dentários e até fábrica de sorvete. Apesar de mais conhecidas, por causa do alto investimento em mídia, Vale Sorte e Viva Sorte não são as mais rentáveis. Estão perdendo mercado para as bets.
"Em três anos a gente caiu 50% devendas noParaná. Faz três anos que eu nãotenho um centavo de lucro com título de capitalização.Era um negócio rentável,mas o dinheiro tem trocado de mão, está indo para as bets", reclama. Por isso, Renato Ambrosio também considera abrir uma casa de aposta, apesar discursar contra a jogatina.
Ele solicitou ao Ministério da Fazenda uma licença, por R$ 30 milhões, para operar legalmente até três marcas de apostas por cotas fixas a partir do ano que vem. E já anunciou uma parceria com uma empresa norte-americana, sem revelar detalhes.
"O dinheiro do entretenimento está todolá [nas bets].Infelizmente, o meu produto não tem dopamina.O meu a pessoa compra para mudar de vida.Mas ela tem que esperar até um domingo por umsorteio, para ver se ganhou ou não.E a bet é um negócio absurdo, se aposta agora para ganhar agora, e as pessoas enxergam a betcomo segunda renda, tem gente que achaque vai ficar rica com bet", justifica.
Ambrosio diz que só vai lançar uma plataforma de apostas em "última hipótese", caso não haja mais futuro para os títulos de capitalização. "Eu acho que as pessoas podem se prejudicar muito se ficarem viciadas, se trocarem comidapor isso.Então isso é o que me incomoda.A gente protocolou [pedido para abrir bet].Vamos esperarsair a legalidade, mas eu gostaria que acapitalização sobrevivesse."
Por enquanto, sua grande aposta do empresário e apresentador é o que chama de cartão de saúde, que oferece teleconsultas e exames médicos por mensalidades de R$ 30. O Cartão de Todos é o grande player desse mercado. Ambrosio já tem um produto parecido, o Cartão da Gente, um cartão de benefícios que também oferece consultas online, sorteia casas e pode ser a "chance de receber a visita do Renato para mudar de vida no quadro Vida da Gente".
Ambrosio é casado desde os 23 anos e tem três filhas. Já frequentou igreja evangélica, porém se diz católico. Mora em Londrina. "Tenho dez carros, mas vivo dentro de avião", conta. Desde que foi convidado a apresentar programa no horário nobre, tem investido na aparência e na saúde. Emagreceu 20 quilos nos últimos cinco meses, graças a um novo medicamento (Mounjaro), que custa a partir de R$ 4.000.
Até o final do ano, pretende dar "um tapa" no sorriso. Ele quer deixar de usar o aparelho ortodôntico que segura parte dos seus dentes, que são de leite. Terá que fazer implantes, em um processo que levará três meses, com profissionais de Londrina.
E terá que fazer isso sem deixar de gravar seu programa, com o qual ainda não está plenamente confortável. Ele tem se divertido muito gravando nas ruas, distribuindo dinheiro e pagando contas com o próprio cartão de crédito. "O difícil está sendo fazer ogravado, porque o gravado para mim támuito frio", sentencia, referindo-se à parte do programa feita em estúdio.
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