EM ENTREVISTA
Victor Pollak/TV Globo
Marcius Melhem em seu último programa na Globo, o Fora de Hora: ele nega ser uma pessoa violenta
Na primeira entrevista que concedeu desde que foi acusado de assédio moral e sexual, Marcius Melhem admitiu que errou e que teve atitudes no ambiente de trabalho e pessoal que, atualmente, não cabem mais. Ele negou, no entanto, ser uma pessoa violenta ou que tenha assediado sexualmente mulheres que estavam em seu departamento na Globo.
"Depois de um ano eu consigo entender que tudo o que aconteceu e está acontecendo comigo, aconteceu a partir dos meus erros. Hoje eu entendo que eu tive comportamentos, atitudes que não cabem mais. Eu fui um homem tóxico, um marido péssimo, uma pessoa que cometeu excessos em se relacionar com pessoas dentro de seu próprio ambiente de trabalho", declarou ele em conversa de mais de uma hora com os jornalistas Mauricio Stycer e Dolores Orosco, do UOL.
"[Tem] Coisa que eu não via problema, mas hoje eu vejo todas as nuances que isso pode ter. Entendo que eu, como homem, feri pessoas, magoei pessoas, traí, fui galinha, tudo isso foram erros meus. Cada dia entendo mais, tive muita ajuda, fora terapia muito profunda, tive a ajuda de muitas amigas, muitos amigos, li muita coisa, vi muita coisa e mergulhei na minha própria lama para entender, e ainda estou entendendo, os meus erros."
Melhem afirmou que a longa reportagem publicada na revista Piauí é uma narrativa com muitas histórias inventadas, e que ele está processando a advogada Mayra Cotta e fazendo uma interpelação judicial a Dani Calabresa para que ela confirme ou desminta tudo o que foi relatado na publicação.
O comediante acredita que o caso precisa ser resolvido na Justiça, e que aceitará sua eventual pena se for condenado. Mas não acha justo ser culpado pela opinião pública quando não há nenhuma denúncia oficial contra ele. "Eu sou uma pessoa que já estou condenado pela opinião pública, já fui condenado, sem que haja uma vítima que se assuma minha vítima, e nem um processo na Justiça. Muita gente acha que já existe um processo na Justiça, mas não existe", ressaltou.
"É preciso dizer que em cima dos meus erros, e das coisas que eu efetivamente fiz, tem muita coisa sendo falada que é mentira, que eu de forma alguma fiz, e isso preciso combater. Como por exemplo esse perfil construído de que eu seria uma pessoa violenta. Embora eu confesse meus excessos, eu jamais nunca tive nenhuma relação que não fosse consensual e jamais pratiquei algum ato de violência com quem quer que seja na minha vida."
Segundo Melhem, sua relação com Dani Calabresa --única artista citada nominalmente na reportagem da Piauí-- era a melhor possível até maio do ano passado, quando eles se desentenderam por causa do humorístico Fora de Hora. Por causa disso, ressaltou ele, seria impossível ele ter passado dos limites com ela em 2017, como informou a publicação.
"Tanto a Dani Calabresa quanto eu nós sabemos como era a nossa relação, nós sabemos da amizade, da intimidade e do respeito da nossa relação. Nós sabemos em que ponto a nossa relação se deteriorou profissionalmente e isso está sendo recontado hoje de outra forma nessa matéria. É impossível aquilo ter acontecido e a gente ter durante dois anos a partir dali a relação que a gente teve, de amizade, de carinho, de parceria profissional, como se nada tivesse acontecido."
Sem querer explicar exatamente o que aconteceu na festa de 2017 (em que teria assediado Dani) para não expor a atriz e comediante, o ator e roteirista citou que a ex-mulher de Marcelo Adnet chegou a convidá-lo para ir a Disney [World] com ela uma semana depois daquela noite. "Uma pessoa que sofreu aquilo uma semana antes vai me mandar um áudio, uma semana depois, no privado, para dizer que queria ir para a Disney comigo e minhas filhas?", questionou ele.
Questionado por Stycer e Dolores se Melhem cometeu assédio moral ou sexual contra seus colaboradores, o ex-diretor de Humor da Globo fez uma reflexão. "Nunca ninguém me falou, ou chegou pra mim, ou se queixou que eu estava assediando alguém. Hoje, vejo diferente. Olho para comportamentos que tive, flertes dentro do trabalho, e vejo que alguém pode ter essa leitura. Sinceramente vejo que essa leitura pode existir. Mas, até por isso, é preciso que os casos apareçam", justificou.
"Se aparecer qualquer caso que eu tenha assediado alguém, passado do limite com alguém, que eu tenha sido inconveniente com alguém, inconsequente, eu imediatamente vou reconhecer. Estou disposto a reconhecer qualquer coisa que eu tenha feito, qualquer coisa. Eu já me expus", disse.
Melhem apontou que começou na Globo como um funcionário amigo de todo mundo e que, quando foi promovido a chefe, tentou manter essa atitude. "Eu achava, de verdade, que o barato era eu não mudar o meu comportamento, era continuar sendo amigo dos meus amigos, vivendo numa grande turma em que todo mundo tinha liberdade, intimidade. É importante contextualizar isso, porque senão fica parecendo que era um ambiente seríssimo e que eu entrava lá para tentar pegar mulheres. Não era assim, era um ambiente de liberdade, de alegria."
Ele hoje enxerga essa decisão como um erro. "Eu ali dentro, onde eu tinha poder de chefia, ter me relacionado, me envolvido com pessoas. Eu acho errado. Hoje eu entendo muita coisa que não entendia, as zonas cinzentas em que admirações profissionais podem se confundir com admirações afetivas e pessoas se relacionarem comigo não exatamente porque estavam a fim de mim, mas porque tinham uma admiração em outro lugar. E ia parecer que eu estava me aproveitando disso, entendeu?", explicou.
Sobre um possível assédio moral, Melhem afirmou que não sabe julgar se passou do limite em algum momento. "Eu sempre fui muito sincero e educado com todo mundo. O assédio moral é o terreno mais subjetivo que existe. Porque você pode falar sinceramente uma coisa para alguém, que o texto está ruim, e a pessoa achar que isso é uma ofensa, é uma forma errada de dizer. Eu não sei o que eu posso ter falado que traduza como assédio moral. Não sei de verdade, de coração."
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