Laura Cardoso expõe 'ignorância' de nova geração e torce o nariz para novelas de hoje

Aos 96 anos, 80 deles dedicados ao ofício de atriz, Laura Cardoso já fez de tudo na televisão. Oriunda de uma época em que o elenco era escasso e a infraestrutura, quase nula, a veterana não se deixou fisgar pela facilidade das novas tecnologias. Muito pelo contrário. Segundo ela, até existem produções decentes no ar, mas boas mesmo eram as do seu tempo --em que a naturalidade vencia a frieza de hoje.

"Não gosto de tecnologia. Enche o saco", afirmou ela, em entrevista à Folha de S.Paulo. "Tudo que é técnico é frio. Gosto mais do normal, do natural. Gosto de representar quando a vontade vem, quando o gesto vem, quando a fala vem. Eu preferia [as novelas] no meu tempo porque era difícil de se fazer", completou ela.

A atriz, inclusive, já reclamou mais de uma vez publicamente de quando uma diretora interrompeu sua interpretação no meio para ajustar equipamentos e enquadrar melhor outra atriz. O pior é que essa frieza não se limita só ao momento de gravações. A artista também acredita que os autores estão mais tímidos no desenvolvimento de histórias.

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"Sinto que a gente está mais preso. No começo, como [a televisão] era invenção, a gente tinha que criar. Saía mais espontâneo e melhor. Hoje tem muita censura. Nas falas, nos gestos, em tudo. Naquele tempo havia, mas não tanto", completou ela.

Com os atores, a queda parece ter sido ainda mais drástica. Ela reitera, mais uma vez, que existem pessoas competentes na teledramaturgia. Mas uma outra parcela nem deveria estar ali. "Tem gente que devia fazer outras coisas porque não nasceu para aquilo. [Estão lá] por ignorância, por besteira. Porque acham que sabem fazer. Não, você percebe se pertence ao meio", arrematou.

Ela sabe bem o que diz. Afinal, ostenta um currículo com mais de 80 obras televisivas, entre folhetins, seriados e minisséries. Algumas das principais são Pão-Pão, Beijo-Beijo (1983); o remake de Irmãos Coragem (1995), Caminho das Índias (2009) e o remake de Gabriela (2012). Nos últimos anos, ela esteve no ar durante a reprise de Chocolate com Pimenta (2003) --que marcou sua estreia na comédia-- e, agora, reapareceu como Isaura em Mulheres de Areia (1993).

"[Vejo minha carreira] com muita satisfação, amor e prazer. Espero que tenha deixado bons exemplos, belas lembranças de trabalhos, e que tudo de bom seja visto de novo", apontou a veterana. "Sou vaidosa, sou metida. Eu me acho", disse a artista, que não descarta a possibilidade de voltar a TV --seu último trabalho foi uma participação em A Dona do Pedaço (2019).