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BENTO VEIGA

Inácio em Pedaço de Mim, ator luta por PCDs da dramaturgia longe do 'coitadismo'

MÁRCIO FARIAS/DIVULGAÇÃO

Bento Veiga está encostado num muro com grafites e sorri

Bento Veiga em ensaio fotográfico; ator deseja que tramas de PCDs sejam de fato representativas

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 31/8/2024 - 13h00

[Alerta: este texto traz spoiler do final de Inácio em Pedaço de Mim]

Inácio (Bento Veiga) é filho de Silvia (Palomma Duarte), mãe superprotetora e uma das personagens centrais de Pedaço de Mim. Ainda assim, ele consegue se desvencilhar do controle dela, casar-se com Bia (Amanda Spanner), dividir um apartamento com a mulher e, no fim da história, formar sua própria família. E, por ventura, ele é cego. Porém, a deficiência tem menos relevância na trama do que o enredo do personagem, diferentemente de outras histórias sobre Pessoas com Deficiência (PCDs) na dramaturgia.

Pessoas com quaisquer deficiência muitas vezes são tratados como incapazes, "coitados", sem qualquer enredo real além de servir como arco para um outro personagem, sem deficiência. Eles não são "o assunto" por si só, como define o intérprete de Inácio em entrevista ao Notícias da TV

"As pessoas com deficiência querem olhar para alguma dramaturgia que elas não estejam num lugar de coitadismo, que elas se sintam representadas da maneira como elas são e querem ser. É uma forma de elas se sentirem representadas e defendidas", argumenta o artista.

"Estar num lugar em que você pode falar sobre sua condição, que ela te causa algum obstáculo, mas que não pode te parar, é um exemplo de força. Falar sobre força nos dias de hoje é complexo, mas muito importante e necessário", completa ele.

Também há o fato de que Veiga entende a importância do tema por suas próprias experiências, ultrapassando o discurso. Ele tem retinose pigmentar, termo que abrange um conjunto de doenças que degenera progressivamente as células que captam a luz do ambiente e permitem a visão.

A condição ainda não tem cura, e a tendência é que Veiga perca a capacidade de enxergar no decorrer dos anos. O artista já tem dificuldade de ver em locais pouco iluminados, assim como o personagem dele no início do melodrama da Netflix.

Por isso, ter um personagem cego que tenha sua própria vida lhe é ainda mais caro. E ele sabe que o fato de ele também ser PCD por trás das câmeras dá ainda mais força para a narrativa de seu personagem.

"PCDs também podem sonhar em ser atores e atrizes. Quando vemos pessoas como o Ray Charles [1930-2004], o Stevie Wonder, o Andrea Bocelli, o Apl.de.ap, do Black Eyed Peas, todos cegos, nós nos inspiramos. Nós, pessoas cegas como eles, podemos sonhar em ser músicos também, como eles", discursa.

Quando você vê um ator interpretar algum personagem com a mesma deficiência que você tem, você sonha em também trabalhar com arte, sonhar em ser ator. Quanto mais atores e atrizes PCDs fizerem trabalhos representando personagens que têm algum tipo de condição, artisticamente fica verossímil e também traz essa representatividade e inclusão que é tão necessária em termos de empatia e respeito.

Planos renovados

Diante disso, o melodrama foi só sua primeira empreitada. Depois de estrear suas habilidades como ator, Veiga quer fazer outros trabalhos. "Me permito experimentar todos os tipos de expressões artísticas, claro, que tenham a ver com a minha verdade e me desafiem, de fato, como artista", diz ele.

Questionado sobre uma novela tradicional --afinal, Pedaço de Mim tem muitos elementos do folhetim clássico, além de ter sido vendido no exterior como "telenovela brasileira"--, o ator é direto: "Me traz muito interesse, sim. Quero cada vez mais poder me expressar."

João Vitti, Amanda Spinner e Bento Veiga nos bastidores de Pedaço de Mim

João Vitti, Amanda Spanner e Bento Veiga nos bastidores

Contudo, a atuação não foi o primeiro ramo profissional do artista. Bento Veiga começou a carreira artística através da música. Ele foi descoberto em suas redes sociais e escalado para a série, mas nunca deixou de cantar suas composições.

Por causa disso, novos seguidores entraram em contato com os vídeos. E muitos compararam seu estilo musical e sua voz com os de Cazuza (1958-1990). Embora não seja adepto de comparações, o artista sabe que elas são inevitáveis. "Ah, pra mim é incrível que eu seja atrelado com artistas que gosto e realmente acho que são influenciadores e têm a ver com o meu trabalho. Se for para ser comparado, que seja pelo menos com pessoas que são realmente marcantes", diz.

Ele também tem noção que, na música, "você é o que você ouve". "A música sempre tem influências daquilo que você ouviu durante a sua vida. Misturado e somado com as suas próprias vivências, com as suas próprias ideias, e com as suas próprias interpretações e reinterpretações. E o Cazuza é um artista que gosto muito, que escutei muito na minha vida, que fez muito a minha cabeça e, com certeza, é uma grande influência", completa.

Com o sucesso da série e a repercussão de seu nome, o artista pretende lançar uma coletânea de suas músicas. "Vou lançar tudo que sai do meu coração no meu quarto, de madrugada, para que o mundo possa ouvir e fazer companhia", diz.

"Quero lançar minhas músicas, contar um pouco mais da minha história, cantar sempre, por aí, pelo Brasil. Quem sabe pelo mundo? E poder fazer o que mais amo: cantar, mostrar minhas ideias, maneiras de pensar, experiências. Tudo isso através das minhas composições. E fazer shows. Fiquem atentos!", planeja ele.


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