Ícone da Globo, funcionário morreu decepcionado com emissora: 'Foi covardia'

Quem acompanhou programas de auditório da Globo nos anos 1980 e 1990 certamente se lembra de Russo, assistente de palco querido por apresentadores como Xuxa Meneghel e Chacrinha (1917-1988). Ele foi demitido da emissora em 2014 e não se conformou. "Foi uma covardia o que fizeram comigo. Eu não queria parar de trabalhar", declarou.

Antonio Pedro de Souza e Silva, mais conhecido pelo apelido Russo, começou a carreira na Rádio Tupi, como assistente técnico --ele trabalhava com montagem e organização de microfones. O profissional foi para a Globo em 1965, levado por Chacrinha. O apresentador o enxergava como uma figura carismática, que se daria bem como assistente de palco na televisão. 

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Russo fez parte do elenco de apoio de Os Trapalhões (1977-1995), mas ganhou mais notoriedade no Cassino do Chacrinha. Como assistente de palco, ele brincava com a plateia (jogava bacalhau para o público, por exemplo) e com os convidados. 

O funcionário também foi assistente de Xuxa, no Planeta Xuxa (1997-2002) e de Fausto Silva, no Domingão do Faustão, entre 1989 e 2014, e do Caldeirão do Huck, entre 2008 e 2014. Ele ainda fez participações especiais em programas de humor e de dramaturgia da emissora, como Chico Total (1996) e A Diarista (2004). 

Russo foi demitido da Globo em 2014. Ele estava aposentado, mas queria continuar trabalhando. A emissora alegou que o funcionário já não tinha condições de executar suas funções como assistente de palco --ele tinha 82 anos e havia colocado cinco pontes de safena após sofrer um infarto. 

O profissional ficou muito triste com a demissão e desenvolveu um quadro depressivo. Ele deu entrevista ao UOL e falou sobre sua decepção. 

"Não posso mais ir ao Projac [atualmente chamado de Estúdios Globo]. Agora só com autorização. Não posso mais entrar lá, porque meu crachá foi cancelado. Passo mal quando chego na portaria, tento passar meu crachá na catraca e não consigo entrar porque me proibiram. Meu coração fica triste. Gosto muito de trabalhar. Não gosto de ficar parado", disse.

Fora da Globo, o assistente apareceu no Domingo Show (2014-2020) em 2016. Adriana Mello, então mulher de Russo, disse no programa da Record que a Globo manteve o plano de saúde do ex-funcionário e chegou a oferecer consultas com psicólogo, mas ele não quis.

Russo reclamou: "Eles me mandaram embora sem pai e sem mãe. Foi uma covardia o que fizeram comigo. Eu não queria parar de trabalhar". Ele ganhou um cheque de R$ 10 mil durante a participação na atração da Record. 

O assistente de palco seguiu fora da TV até o fim de sua vida. Ele teve um AVC (acidente vascular cerebral) em 2015, foi internado e se recuperou. No entanto, em 2017, desenvolveu uma infecção pulmonar. Foi para o hospital e morreu em 28 de janeiro daquele ano, vítima de falência múltipla dos órgãos. 

Faustão fez uma homenagem ao colega na edição do Domingão de 29 de janeiro de 2017. "Nós temos que registrar, infelizmente, a morte do operador de microfone que durante 46 anos trabalhou na Globo com muita competência e dignidade. O Antônio Pedro de Souza e Silva, o Russo. Catarinense, criado no Rio de Janeiro, trabalhou nos programas do Chacrinha, do Domingão, no programa da Xuxa, e que morreu aos 85 anos, deixando o trabalho com muita dignidade."