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COM ALZHEIMER

Escritor e compositor Antonio Cícero morre aos 79 anos por eutanásia na Suíça

REPRODUÇÃO

Antonio Cícero usa uma roupa cerimonial, com detalhes em dourado; ele dá entrevista para a Globo

Antonio Cícero em entrevista à Globo durante posse da cadeira 27 do ABL em agosto de 2017

REDAÇÃO

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 23/10/2024 - 11h34

O escritor e compositor Antonio Cícero morreu na manhã desta quarta (23) na Suíça. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e irmão da cantora Marina Lima --que gravou alguns de seus poemas--, o autor sofria do mal de Alzheimer e decidiu se submeter a um procedimento de eutanásia. Ele deixou uma carta de despedida explicando os motivos que o levaram a escolher a morte assistida.

O crítico literário afirmou que não conseguia mais escrever, ler ou encontrar com os amigos. A memória também já apresentava falhas, a ponto de o escritor não se lembrar de eventos recentes. O filósofo definiu sua situação como "terrível" e afirmou que, enquanto ateu, era ele quem decidia se sua vida valia a pena ou não.

A morte foi confirmada pela ABL nesta manhã. Ele ocupava a cadeira 27 na instituição desde agosto de 2017. Como compositor, escreveu para a irmã as músicas Fullgás, Para Começar e À Francesa. Também é coautor de O Último Romântico, gravada por Lulu Santos, e teve parcerias com Waly Salomão, João Bosco, Orlando Morais e Adriana Calcanhotto.

Ele direciona a carta de despedida aos amigos. "Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem", começou ele.

"Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo", desabafou.

Ele, no entanto, afirmou estar lúcido o bastante para reconhecer sua "terrível situação". " convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas --senão a coisa-- mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los, confessou ele.

O escritor, então, encerrou sua despedida; "Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo", arrematou. "Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade. Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!"

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