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BRIGA NA JUSTIÇA

Dedé Santana é processado em R$ 285 mil por trapalhada no Nordeste

João Cotta/TV Globo

O humorista Dedé Santana em cena do programa Os Trapalhões: Nova Geração, da Globo - João Cotta/TV Globo

O humorista Dedé Santana em cena do programa Os Trapalhões: Nova Geração, da Globo

LUCIANO GUARALDO

Publicado em 24/1/2018 - 6h17

Após voltar à TV em 2017 com a nova geração de Os Trapalhões, Dedé Santana deve fazer sua próxima aparição pública nos tribunais. O comediante está sendo processado em R$ 285 mil pelo produtor Edvan Ferreira de Araújo, que acusa o trapalhão de prejudicar sua reputação após cancelar em cima da hora os shows que faria no Nordeste.

Ex-funcionário da Record em São Paulo, Araújo alega ter estreitado laços com Santana no fim da década passada, quando tentou levar o trapalhão para a emissora, em um novo programa de humor.

"Conversei com o Honorilton [Gonçalves, então vice-presidente artístico do canal] e com o Paulo Franco [diretor de Programação], mas eles acharam melhor não seguir adiante porque já tinham o Tom Cavalcante, não queriam que um anulasse o outro", lembra.

Mesmo sem emplacar o programa, Araújo e Dedé Santana mantiveram contato. Depois que saiu da Record, o produtor voltou para João Pessoa (PB) e, ciente de que o humorista só fazia shows no Sul e no Sudeste, sugeriu ajudá-lo em uma turnê pelo Nordeste. "Ele topou e me colocou como agente dele na região, para eu representá-lo com TVs, cinema, comerciais, teatro... Tinha autonomia para negociar por ele", diz.

O produtor conta ainda que, como já tinha trabalhado na cabeça de rede da Record, conseguiu credibilidade com as afiliadas do Nordeste e chegou a negociar um programa estrelado pelo trapalhão com as emissoras do SBT na região.

"Marcamos uma reunião em Fortaleza, com vários representantes das emissoras. O Dedé estava desempregado, reclamando que não tinha nada para fazer. Consegui uma boa vitrine para ele. No dia da reunião, ele não apareceu", recorda Araújo.

Segundo ele, esse foi o primeiro dos furos que levou de Santana. Com shows marcados e entrevistas na TV e em rádios para a divulgação dos espetáculos, Dedé desapareceu. "Com uma apresentação marcada para o sábado, ele me ligou às 23h de sexta e disse que não vinha. Eu já tinha feito acordo com dono de teatro, perdi dinheiro e ainda fiquei queimado", explica o produtor.

Até hoje, Edvan Araújo diz que não recuperou a coragem para trabalhar na área artística novamente. "Já estou com a credibilidade ruim, e ainda tenho medo de tentar de novo e outro artista fazer o mesmo comigo."

Sem conseguir resolver a situação com Dedé amigavelmente, Araújo recorreu à Justiça. Em março de 2016, entrou com um processo em que pede R$ 284.626,39 por perdas e danos. Apenas pelo prejuízo moral e pela exposição negativa no mercado nordestino, quer R$ 250 mil _o resto do valor corresponde a danos materiais, como um carro que alugou e gastos com gráficas para a divulgação.

Até o momento, Santana não foi notificado da ação. Ele não foi encontrado por oficiais em nenhum dos três endereços citados por Araújo no processo.

"Agora, vamos requerer ao juiz a notificação por edital. Se mesmo assim ele não comparecer, será considerado um réu à revelia", adianta José Adailson da Silva Filho, um dos advogados que defende o produtor.

'Era uma roubada, abortei', diz agente de Dedé
Vitor Lustosa, que gerencia a carreira de Dedé, confirma que o humorista cancelou sua apresentação em cima da hora, mas apresenta uma história diferente.

"Um camarada do Recife [o produtor Tom Lopes], que já tinha me procurado para fazer shows do Dedé lá e acabou fazendo uma parceria com o Edvan [Araújo], me ligou antes da nossa viagem e disse que aquilo era uma roubada", conta Lustosa.

"[Tom] Disse que não tinha porra nenhuma acontecendo de divulgação, não tinha televisão. E o Dedé já é 'puta velha' de estrada, ele sabe que sem mídia nem o Roberto Carlos consegue lotar teatro hoje em dia. O cara me fala: 'Isso vai ser um fracasso. Daqui a dois ou três dias o Dedé chega e não vai ter público'. O Dedé já estava no aeroporto de Campinas, esperando para embarcar, e a gente ainda não tinha recebido do Edvan nem a passagem de volta", lembra.

Para não frustrar o público, mesmo que pequeno, Lustosa fez uma proposta a Tom Lopes. "Falei: 'Você me garante a passagem de volta. Se der público ou não, sem problemas, pelo menos não precisamos pagar a passagem'. E aí esse camarada me disse que já estava pagando tudo do bolso, que não ia tomar o prejuízo de pagar mais duas passagens. Liguei na hora pro Dedé e mandei abortar", explica o agente.

Vitor Lustosa ainda conta que o programa de TV que Araújo diz ter negociado com as emissoras do SBT no Nordeste é uma criação dele, que também é roteirista e escreveu vários filmes estrelados por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

"Eu tinha esse projeto do Armazém do Dedé, baseado em um armazém que existe mesmo aqui no Paraná. Não sabia se eles teriam bala para fazer o programa lá, até sugeri de gravarmos em Curitiba e mandarmos pronto para lá", lembra.

A proposta do programa também não foi para a frente por causa de Araújo, segundo Lustosa. "Ele ficou responsável por negociar o pool de emissoras. O cara disse que tinha patrocínio de uma cachaça e talvez de mais duas marcas. Se tínhamos que ir até lá para alguma reunião, eu exigi as passagens de ida e volta. Não rolou", conta.

Atualmente sem contrato com a Globo, enquanto aguarda a confirmação de uma segunda temporada de Os Trapalhões, Dedé tem se dedicado ao cinema e ao teatro.

Amanhã (25), chega às telonas o longa Repartição do Tempo, uma ficção científica cômica que satiriza a burocracia das repartições governamentais. No mesmo dia, Dedé Santana estreia a peça Palhaços, dirigida por Alexandre Borges, em Brasília. O espetáculo migrará para São Paulo em março.

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