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OPINIÃO

Briga de Marina e Samantha Schmütz expõe famosos que usam cultura só para faturar

DIVULGAÇÃO E REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Montagem com Samantha Schmütz e Marina Ruy Barbosa

Samantha Schmütz e Marina Ruy Barbosa trocaram indiretas nas redes sociais

MIGUEL ARCANJO PRADO, colunista

pauta.arcanjo@gmail.com

Publicado em 31/7/2021 - 11h41

Samantha Schmütz fez uma declaração franca nas redes sociais que gerou uma briga pública com a também atriz Marina Ruy Barbosa, a ponto de a ruiva fazer comunicado para se defender. A polêmica acabou expondo famosos que usam a cultura como trampolim para faturar milhões, mas sem um verdadeiro comprometimento com o setor no qual trabalham.

Diante do incêndio na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, na quinta (29), quando um precioso acervo cinematográfico do país ardeu em chamas, Samantha demonstrou sua revolta com jovens atrizes-influenciadoras, que fizeram um constrangedor silêncio sobre o assunto.

Como se o fato de parte da memória do cinema nacional ter virado cinzas não fosse algo importante, sobretudo para alguém que utiliza a atuação diante das telas ou eventos cinematográficos e culturais para faturar alto nas redes sociais com suas presenças VIP.

Revolta e desabafo

Em seu desabafo, Samantha mandou indireta para atrizes que estiveram "lindas" no recente Festival de Cannes, na França, onde foram apenas como contratadas de marcas para desfilar e fazer propaganda para as mesmas no tapete vermelho internacional, sem sequer concorrer com algum filme.

A fala caiu como uma bomba no colo de Marina Ruy Barbosa, que esteve em Cannes apenas para fazer publicidade mesmo. Na visão de Samantha, uma atriz que usa o cinema para ganhar milhões deveria se importar quando a cultura de seu país é destruída por impiedosas labaredas.

Lembremos o desabafo de Samantha: "Essas pessoas que usurpam da arte somente pra fazer coisas periféricas, elas usam da arte somente pra fazer publis, capas, eventos, presenças... Mas elas não estão nem aí pro cinema nacional. Essas pessoas deveriam ter vergonha na cara e nunca mais pisar num set de filmagem. Nem pra fazer figuração, que fosse", começou.

Ela prosseguiu em sua revolta: "E cadê as beldades que estavam em Cannes, desfilando seus colares? Atrizes, modelos... Cadê vocês, lindas, que foram pra Cannes? Cadê vocês que têm milhões de seguidores, que vão pra lá e desfilam vestidos de marca? Pessoas vão pra Cannes representar o cinema brasileiro, mas não venderam um ingresso", alfinetou.

Samantha chegou à conclusão: "Está tudo errado! Parem de pensar só no seu umbigo, na sua conta bancária. Meu sonho é que pseudoartistas não ocupem o lugar de verdadeiros artistas".

Marina vestiu a carapuça

O desabafo de Samantha Schmütz serviu como carapuça na cabeça de Marina Ruy Barbosa, que precisou vir a público se defender na noite de sexta (30), o que não deixou de ser uma vitória de Samantha. Afinal, Marina, sempre reticente em qualquer tema que resvale em política, teve de se pronunciar sobre o incêndio na Cinemateca após a pressão da colega de ofício.

"O incêndio à Cinemateca é uma agressão à cultura do nosso país. Estamos vendo nossa história ser queimada há tempos, nossa cultura sendo completamente abandonada. Isso é inquestionável. E é sobre isso que devemos falar", postou a atrasada Marina.

"E cobrar do governo, que é quem realmente pode fazer alguma coisa. A cobrança em relação à minha ida e participação no festival de Cannes, não deveria ser pauta e nem motivo de preocupação. Eu tenho muito orgulho de ser atriz, de trabalhar com o que eu amo desde os nove anos de idade, buscando meu espaço”, recordou.

"O fato de ter ido para o festival, contratada por uma marca para trabalhar, e estar ao lado de mulheres incríveis como Sharon Stone e Melanie Thierry, não deveria causar tamanha indignação de alguns", defendeu-se.

Marina ainda pediu: "Devemos respeitar todos os profissionais e todos os trabalhos, independentemente da nossa opinião. Não podemos nos achar no direito de desqualificar nossos colegas. Somos todos muito rápidos para cobrar. Mas lembremos: na rapidez que cobramos seremos cobrados também".

Marina pode ser cobrada, sim

Marina precisa entender que cobrar atrizes que estiveram em Cannes que se pronunciem sobre o incêndio na Cinemateca não é um ato de desrespeito, mas, sim, de coerência.

Afinal, espera-se de uma atriz que goste de frequentar festivais cinematográficos, além de estrelar novelas e longas, que ela se sensibilize quando a memória do cinema é tragada por labaredas.

Marina fatura milhões como influenciadora digital com seus quase 40 milhões de seguidores, o que faz dela uma pessoa pública. Ela precisa entender que não é uma garotinha qualquer e que a fama tem seu preço.

A fama não serve apenas para vender roupas ou cosméticos, mas carrega também responsabilidade social, sobretudo com o campo da cultura quando se é uma atriz.

Afinal, se hoje Marina ganha rios de dinheiro, é porque o mercado audiovisual brasileiro tornou seu rosto nacionalmente conhecido desde sua mais tenra infância, como ela mesma recordou. Sendo assim, é de se esperar que ela tenha comprometimento em defender em suas redes o setor que é seu ganha-pão há tanto tempo.

'Está tudo errado'

Quando Samantha fala que "está tudo errado", ao apontar marcas que usam uma atriz apenas como cabide em um festival internacional ela tem razão.

Afinal, por que as marcas não apoiam os filmes ou artistas que conseguiram ir a Cannes por seu talento e mérito? Porque não engajam tanto quanto Marina Ruy Barbosa, é o que responderão, certamente. Contudo, se não existir uma aposta do mercado em artistas e comunicadores com conteúdo, impulsionando suas carreiras, seremos reféns eternos deste ciclo publicitário imerso no vazio e no descolamento da realidade.

Se realmente as marcas pretendem ser comprometidas com a cultura, deviam apostar também em artistas e comunicadores que têm algo interessante a dizer, não apenas em rostinhos bonitos ou corpos-cabide que só reagem a um ataque tão grave à cultura, como o anunciado incêndio na Cinemateca Brasileira, após pressão pública.

Samantha Schmütz tem razão em sua indignação: o Brasil precisa de mais artistas de coragem, que não usem a cultura apenas para faturar, mas que sejam sensíveis à realidade do país e que consigam enxergar para além de seu pequeno umbigo e gigante conta bancária.


Este texto não reflete necessariamente a opinião do Notícias da TV.


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