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REPRODUÇÃO/BETING BOOKS
Capa do livro Joelmir Beting - O Jornalista de Economia mais Influente da História do Brasil, lançado em maio
Recém-lançada, a biografia do jornalista Joelmir Beting (1936-2012) apresenta diversos pontos curiosos e marcantes de sua carreira. Entre eles, uma proposta financeira considerada "indecente" de tão baixa feita pela Band antes de sua volta à emissora, e mais detalhes sobre sua viagem a Cuba a convite do ditador Fidel Castro (1926-2016).
O Notícias da TV conversou com Gianfranco Beting, mais conhecido como Panda, um dos filhos de Joelmir e dono da editora responsável pela produção da obra, a respeito de algumas passagens do livro Joelmir Beting - O Jornalista de Economia mais Influente da História do Brasil (2021). Confira:
Num dos trechos, Gianfranco revela que teve grande frustração com uma proposta salarial feita pela Band ao pai em 2003, pouco depois de sua saída da Globo. O trabalho envolvia o Jornal Gente, na rádio, quatro comentários gravados, que iriam ao ar ao longo do dia, o Jornal da Band e sua participação no Canal Livre, aos domingos. O valor: R$ 16 mil mensais.
Para efeito de comparação, o livro destaca que Joelmir cobrava, à época, entre R$ 15 mil e R$ 20 mil para ministrar uma de suas palestras. "Eu estou bem, não estou precisando de dinheiro. Quero mesmo é voltar a fazer televisão e rádio", teria justificado Joelmir ao filho. Inconformado, o rapaz foi à emissora para reclamar, já que, segundo a biografia, mesmo sendo bom em economia, o jornalista "era muito ruim para negociar".
"Quando soube daqueles números, e que meu pai estava com tendência a aceitá-los, falei: 'Negativo! Está totalmente fora de padrão'. 'Ah, mas pra mim tá bom'. 'Não interessa se para você está bom. A gente tem que cobrar, receber e negociar alguma coisa que seja justa em valores praticados pelo mercado'", relembra Gianfranco sobre o diálogo com o pai.
Na sequência, ele recorda o encontro com a direção da emissora: "Depois de eu ter batido o pé, falado de forma dura, definitiva, aí esses mesmos executivos voltaram atrás e fizeram uma proposta que nós consideramos mais adequada. E ele trabalhou até morrer lá".
Relembre uma das homenagens exibidas pela Band à época da morte de Joelmir Beting, durante o Brasil Urgente:
O filho do jornalista destaca que a questão ficou no passado: "Não tenho mágoa nenhuma [com a Band]. Tanto é que o primeiro exemplar foi entregue pessoalmente por mim e pelo Mauro [Beting, jornalista esportivo e outro filho de Joelmir] em mãos para o Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicação. Nem eu, nem ninguém da família, tem mágoa nenhuma. O que a gente tem é gratidão".
"Agora, aqueles executivos que fizeram a proposta que considerei e considero até hoje indecorosa, por sua parte, estavam cumprindo o papel deles. Não estou aqui para julgar", conclui.
Outra passagem de destaque no livro é a viagem de Beting a Cuba, a convite do então presidente Fidel Castro. "Foi muito surpreendente, porque meu pai nunca foi um cara socialista, de esquerda. No espectro político, meu pai era um cara mais de centro. Ele nunca, em absoluto, foi socialista ou comunista. Diria que é um cara conservador, de visão mais liberal", conta Gianfranco.
Confira uma foto do encontro abaixo:
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A biografia relata que o nome de Joelmir surgiu por intermédio de Frei Betto, adepto da teologia da libertação, que assessorava o país caribenho em questões envolvendo a Igreja e o Estado. Constam também alguns trechos de Os Juros Subversivos (1985), livro lançado pelo próprio jornalista que traz relatos sobre a viagem.
Em um deles, Joelmir relatou, em primeira pessoa: "Fidel colocou a mão em meu ombro: 'Você está aqui não apenas como jornalista, também como consultor. Primeiro, fala você. Quero ouvi-lo sobre o Brasil, a dívida, problemas tratados em sua coluna de jornal. Leio sua coluna. Depois, lhe falo das minhas ideias e meus planos sobre o assunto. Mas vamos precisar de um bom tempo. Quem sabe, de umas 10 ou 20 horas de conversação. Está bem assim?'".
Joelmir relembrou algumas excentricidades do líder cubano, como reuniões durante a madrugada. A conversa sobre economia cubana ocorreu entre 14h e 18h; a sobre economia brasileira, das 22h às 2h; e a sobre dívida externa, entre 23h e 6h. "Fidel não segue horários civilizados e submete seus assessores e ministros a uma agenda de bombeiro, de médico-parteiro", avaliou.
Seu filho relembra: "Ele voltou muito impressionado com a figura de Fidel Castro. Foi uma experiência inesquecível para ele. Em princípio, Fidel havia convidado para uma palestra de duas horas. Ficou tão impressionado com o que ouviu que fez um pedido: 'Você se importaria de ficar mais dois dias para que eu possa chamar meu primeiro escalão para ouvir suas ideias e conceitos?'. Meu pai ficou muito lisonjeado".
"Ele gostou muito da experiência. Acho que é algo que todo mundo gosta de imaginar, uma pessoa que, independentemente das posições políticas, do que tenha representado, ou feito, é um estadista. Voltou bastante impressionado com os charutos, com o rum, e também com a pobreza e o atraso que a ilha experimentava, e experimenta até hoje. Quem vai para Cuba sabe que aquele é um país absolutamente único sobre vários aspectos", conclui Gianfranco.
Em um vídeo disponível no site da Band, é possível assistir ao trecho de uma entrevista concedida por Fidel Castro no início dos anos 2000, em que, durante conversa com Fernando Mitre, o líder cubano elogia Joelmir: "Muito brilhante e muito bem informado".
Relembre um comentário de Joelmir Beting no Jornal da Band em 2010:
Sobre a produção do livro, Gianfranco conta: "Sempre quis escrever esse livro. Quando meu pai estava vivo, comecei e ele ficou incomodado: 'Não gostei dessa ideia'. Era uma pessoa reservada. Em vida, nunca teve interesse em ver o livro sendo escrito. Quando faleceu, em novembro de 2012, pensei: 'Agora ele não está mais aqui para impedir'".
"Mas a emoção não permitiu levar o processo adiante, porque os primeiros anos foram muito duros do ponto de vista emocional. Na verdade, eu tive um apagão afetivo. Fiquei uns dois ou três anos sem conseguir pensar nele. Era uma dor tão forte, um sentimento de vazio absoluto, quase um negacionismo", continua.
Gianfranco diz que a motivação ressurgiu há cerca de cinco anos. Pouco depois, convidou Edvaldo Pereira Lima, com quem já havia trabalhado, após uma aprovação por parte de seu irmão, Mauro, e de sua mãe, Lucila.
Relembre uma foto antiga de Joelmir Beting abaixo:
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Ao Notícias da TV, o autor da biografia revela que se surpreendeu com a relação entre o jornalista e o padre Donizetti de Lima (1882-1961), de quem foi coroinha na infância: "Ele foi o mentor intelectual do Joelmir, quem encaminhou o Joelmir para a profissão de jornalista".
Para a produção da biografia, além de pesquisa, foram feitas dezenas de entrevistas com pessoas próximas a Beting. "Minha relação com o Joelmir foi de admirador. Conheci como profissional, à distância, porque nunca tive um contato pessoal. Não o conheci em vida, mas conheci a figura pública", explica Edvaldo.
Joelmir Beting começou a carreira de jornalista em 1957, quando ainda estava na faculdade e trabalhou nos jornais O Esporte e Diário Popular. Em 1966, começou a trabalhar na Folha de S.Paulo, onde ajudou a lançar a editoria de Economia dois anos depois. Ficou no veículo durante mais de duas décadas, até ir trabalhar no Estadão em 1991.
Na televisão, se destacou em suas passagens pela Globo, entre 1985 e 2003, e pela Band, inicialmente entre 1974 e 1985 e, posteriormente, entre 2003 e 2012. O apresentador também teve passagens pelas rádios Jovem Pan, Bandeirantes, Excelsior e CBN.
"Mais do que fazer jornalismo, ele foi uma pessoa que colaborou para trazer compreensão à economia e à política. Acho que isso precisa ser lembrado", encerra Gianfranco.
Relembre um comentário de Joelmir Beting no Jornal Nacional durante a década de 1980:
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