HUGO BONEMER
Reprodução/TV Globo
Hugo Bonemer durante entrevista ao telejornal RJ1 para divulgação de Ayrton Senna, o Musical
LUCIANO GUARALDO
Publicado em 13/6/2018 - 6h12
Um dos galãs da temporada de 2013 de Malhação, Hugo Bonemer decidiu abrir o jogo sobre sua sexualidade em março deste ano. Foi uma decisão corajosa. Ele confessa que foi aconselhado por colegas atores e diretores a continuar no armário para não atrapalhar sua carreira na televisão. Contudo, revela ao Notícias da TV que esconder a verdade seria mais prejudicial para seu bem-estar do que possivelmente perder alguns papéis.
"Todo mundo [recomendava que eu não falasse sobre isso], alguns atores, diretores... Mas, em algum momento da minha vida, passou a fazer mais sentido ter uma relação pautada na verdade. É muito dolorido manter um relacionamento escondido, chega um ponto em que é melhor nem ter mais", reconhece.
Bonemer admite que nem ele sabe o que vai acontecer com sua carreira. "Eu sei que alguns produtores de elenco gostam do meu trabalho. Mas não está claro como vai ficar o mercado para mim. Não vão deixar oficialmente de trabalhar comigo por esse motivo, mas talvez aconteça um afastamento gradativo. Ninguém vai dar o braço a torcer e falar: 'Não vou contratar você para esse trabalho porque você é gay'", diz.
"Estava ciente do risco quando falei sobre o assunto, mas espero também que existam produtoras que não enxerguem dessa maneira. Tudo o que eu posso é continuar fazendo o meu melhor, chegar com o texto decorado, seguir com o meu trabalho", resume o ator de 30 anos, que depois de Malhação atuou na novela Alto Astral (2015) e na primeira fase de A Lei do Amor (2016).
Ainda neste ano, ele volta à TV na segunda temporada da série A Vida Secreta dos Casais, que Bruna Lombardi estrela na HBO. Enquanto isso, no teatro, atua ao lado de Daniel Rocha no espetáculo Frames - Nossa Diferença Liberta, que começa nova temporada no Rio de Janeiro nesta sexta-feira (15).
cadu silva/divulgação
Bonemer (à dir.) com Daniel Rocha em cena do espetáculo Frames, que estreia na sexta (15)
O texto apresenta quatro histórias diferentes sobre convivência e compreensão. Em uma delas, Bonemer interpreta um personagem gay que se machuca durante um atentado a uma casa noturna _o caso faz referência ao ataque à norte-americana Pulse, em 2016. O ator já encenou a peça no ano passado, mas retorna a ela pela primeira vez desde que falou abertamente sobre ser gay.
"Eu não sei como vai ser voltar a Frames. Acho que vai mudar o entendimento do público, ele vai perceber que tem coisas que eu vou dizer ali que são mais próximas da minha realidade do que antes. Mas eu e o personagem somos muito diferentes, a única coisa que temos em comum é a orientação", filosofa.
Bonemer ainda planeja montar em São Paulo o espetáculo Yank! - O Musical, que encerrou temporada no Rio no início de maio. Na peça, sobre dois soldados que se apaixonam durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ele formava par romântico com o namorado, Conrado Helt. "Estamos procurando recursos. Já temos uma empresa que sinalizou interesse, mas precisamos de outros patrocinadores."
Ser chamado para interpretar apenas personagens gays é uma preocupação para o ator? "É, mas da mesma forma que seria só receber convites para heterossexuais. A maioria dos atores na TV fica estereotipado com personagens héteros."
Em paz
O retorno do público desde que ele saiu do armário, conta Bonemer, tem sido positivo. O ator ressalta, inclusive, que se emociona com as mensagens que recebe na internet.
"As pessoas dizem o quanto fui importante para elas. Eu fico emocionado, porque no passado eu precisei disso. Lembro que era mais novo e encontrei uma revista em que um ator falava sobre bissexualidade. Era a primeira vez que via alguém falando sobre isso, eu não tinha internet, não entendia o que eu estava sentindo. Então, eu rasguei aquela página da revista que achei na recepção do dentista e guardei comigo durante muito tempo. Eu estava angustiado e aquilo me trouxe paz, vi que não estava sozinho."
As poucas mensagens negativas não o incomodam. "Antes de ouvir a repercussão dos outros, o importante é que estou em paz. A única escolha que tenho é ficar em paz, sem crise. Não há uma questão interna minha sobre ser gay ou não, então não faz muita diferença se uma pessoa só sabe ou se 180 milhões sabem", explica.
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