PAULO CÉSAR PEREIO
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Paulo César Pereio em vídeo gravado no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro: local ideal durante a pandemia
VINÍCIUS ANDRADE
Publicado em 28/5/2020 - 5h23
Dono de um apartamento no bairro da Bela Vista, na região central de São Paulo, Paulo César Pereio comemora a sorte de não morar sozinho em tempos de pandemia. Sob a ameaça do coronavírus, o ator de 79 anos, famoso por trabalhos no cinema e na TV, encontrou o que classifica como salvação no Retiro dos Artistas, asilo no Rio de Janeiro onde moram pessoas que já trabalharam no universo artístico.
"Salvou a minha vida. Imagina, eu tenho filhos, mas vivo sozinho", revela ele em entrevista ao Notícias da TV. Pai de quatro herdeiros, Pereio tomou a decisão de se mudar após uma conversa com a primogênita, Lara Velho. A chegada à nova casa aconteceu em dezembro, três meses antes do coronavírus forçar a quarentena.
"Eu senti que a barra estava começando a esquentar. Não foi uma premonição, mas sei lá. Eu devo ter intuído alguma coisa que ia pesar a barra. Eu fui para Rio das Ostras [onde Lara mora, no Rio de Janeiro], vi a minha família, os meus netos e depois vim pra cá", conta o ator.
"Se eu estivesse em São Paulo, eu teria que almoçar em restaurante. Eu até faço comida, mas não comida pra comer sozinho. Ali no bairro onde eu moro, em São Paulo, existem restaurantes por quilo e tal. Mas tem que sair na rua, tem que botar as caras pra sair à disposição de qualquer coronavírus que pintar por aí", explica o ex-marido de Cissa Guimarães, com quem foi casado de 1976 a 1990.
No Retiro, Pereio tem um espaço só seu e a companhia de outros 50 vizinhos do asilo, além dos 34 funcionários. O lar dos artistas reforçou os cuidados durante a pandemia, como restringir visitas e impedir a realização de eventos. Há duas semanas, todos os moradores foram testados e não houve registros de Covid-19.
"Isso aqui [o Retiro] é uma alternativa ótima para escapar da convivência com a rua. Porque atualmente a rua é risco, ainda não temos vacina pra essa porra [de coronavírus]", dispara o veterano.
O Retiro se mantém com as doações (saiba como doar clicando aqui) que recebe, já que boa parte dos moradores não têm condições financeiras de arcar com os custos. No caso de Pereio, os filhos mantêm contato com o pai frequentemente e colaboram com as finanças do asilo. A saudade não é um problema para o ator.
"Eles [filhos e netos] me telefonam sempre. São muitos meios de se comunicar de forma eletrônica. Eu lembro que, nos filmes e seriados de ficção científica de antigamente, aparecia sempre na imagem a pessoa falando em uma tela, com a cara da pessoa ali. Atualmente, a tecnologia resolveu muito o problema de saudade", opina.
Paulo César Pereio não vê o Retiro dos Artistas como um fim. Muito pelo contrário. Ele espera o término do isolamento social para ter condições de voltar ao trabalho. De acordo com o ator, as gravações para o encerramento da trilogia dos filmes Os Fuzis (1964), primeiro longa que fez na carreira, e A Queda (1976) aconteceriam agora. Mas, obviamente, as filmagens foram canceladas.
"Eu estou com um filme pra fazer com o [diretor] Ruy Guerra, que é a terceira parte de uma trilogia que ele tem. Depois de Os Fuzis, ele fez A Queda, e o meu personagem, o Pedro, é um personagem militar. A gente já estava pronto pra filmar, mas agora tudo está cancelado. O mundo está cancelado", lamenta.
Pereio é um homem de cinema. Já fez mais de 80 filmes, passando por dramas, comédia e pornochanchadas. Na TV, esteve recentemente no elenco de Magnífica 70 (2015-2018), série da HBO, e fez uma participação como Simeão na novela Jesus (2018), da Record. Na Globo, trabalhou em produções como Gabriela (1975), Roque Santeiro (1985), O Salvador da Pátria (1989), A Viagem (1994) e Duas Caras (2007).
REPRODUÇÃO/HBO
Os veteranos Joana Fomm e Paulo César Pereio em cena da série Magnífica 70, da HBO
Apesar disso, Pereio acredita que não fez tantas novelas assim. "Fiz muito menos novelas do que gostaria. Se eu estivesse fazendo novelas, eu estaria com um salário agora. Se bem que até os atores de novelas estão sem trabalhar", solta Pereio, que diz que aceitaria atuar em folhetins, caso recebesse algum convite.
Um dos motivos para ele ter se dedicado mais ao cinema do que à TV durante a carreira é que "quando você está fazendo uma novela, você não está fazendo mais nada", como ele mesmo define.
Para Pereio, atores não se aposentam, pois sempre há oportunidades de trabalho. "Sempre vai ter um personagem com uma idade semelhante. Rei Lear [de William Shakespeare] termina com 90 anos. Se eu for fazer o Rei Lear hoje, eu tenho que fazer uma maquiagem pra ficar mais velho", diz. "Enquanto tiver sopro, estamos aí".
Questionado se a passagem pelo Retiro dos Artistas é temporária, já que continua proprietário do apartamento em São Paulo, Pereio fala: "Posso morrer aqui, mas também posso ficar de forma temporária. A vida é temporária. Você não concorda?".
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