Síndrome de Tourette: Quais riscos Cara de Sapato corre se ficar no BBB 23?

Durante o Jogo da Discórdia no início do mês, Antônio Cara de Sapato foi tomado por tiques. Ele mexia o ombro freneticamente e tinha espasmos no rosto enquanto participava da dinâmica do BBB 23. O episódio deixou claro que o estresse está afetando o lutador de MMA, diagnosticado com síndrome de Tourette desde os sete anos. Os sintomas do distúrbio afloram quando o portador é exposto a níveis elevados de pressão psicológica --a principal proposta do reality.

Com comida escassa e provas que desafiam limites de resistência, o programa quer mesmo que o participante perca o prumo. É isso que gera as brigas e o tão desejado entretenimento. Mas até que ponto é saudável para o esportista? É uma questão importante, dado que o brother pode deixar o programa nesta terça (27). Seria o melhor?

Claro, o atleta deve estar sendo acompanhado pela equipe de psicólogos e psiquiatras oferecida pelo programa. As atividades físicas e os anos de tratamento também lhe dão um certo controle dos sintomas. Ainda assim, ele perdeu o autodomínio em determinados momentos. Só que tirá-lo do programa não é uma solução mágica, como afirma Fabiano de Abreu, neuropsicólogo e psicanalista.

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PSICÓLOGA EXPLICA

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"O reality não é só gerador de estresse no participante durante sua estadia na casa, mas depois também", explica o médico. "Entrevistas, julgamentos sobre suas ações dentro do programa e toda a repercussão que isso causa podem estimular o estresse e a piora dos sintomas".

Por outro lado, a saída é inevitável --afinal, uma hora ou outra, o Big Brother Brasil 23 vai chegar ao fim. Ele terá de enfrentar tudo isso, bem como uma nova rotina mais atribulada que a anterior. Para driblar os altos níveis de estresse decorrentes disso, o atleta pode se voltar para o que o fez ganhar a vida: a luta.

"É bem provável que o envolvimento com o esporte seja bastante explorado no tratamento e também por ele próprio como ferramenta de autocontrole", afirma o especialista. "A atividade física ajuda a modular a atividade cerebral por meio da liberação de hormônios neurotransmissores como dopamina e endorfina, que ajudam no relaxamento, fundamental para o controle dos sintomas da síndrome de Tourette", explica.

Mas o que é a síndrome?

Apesar de as causas ainda não terem sido desvendadas, os especialistas definem a síndrome como um distúrbio neuropsiquiátrico. Os tiques incontroláveis são o principal sintoma, mas podem se manifestar de diversas maneiras. Piscar, franzir a testa, contrair os músculos da face, bater em objetos próximos, limpar a garganta e até emitir palavras, em casos mais graves, é relacionado à síndrome. 

Quando não tratado, o distúrbio pode fazer com que os tiques variem em intensidade e frequência. Eles evoluem com o decorrer do tempo e atingem níveis drásticos se não tratados. Os sintomas que tornaram a síndrome mais conhecida, inclusive, são os de níveis mais avançados, como o uso involuntário de palavras e gestos obscenos, a formulação de insultos e a repetição de um som, palavra ou frase dita por outra pessoa.

Mas nem todos os tiques motores são relacionados ao distúrbio. Fabiano avalia que o paciente deve procurar um médico caso esses sintomas se manifestem de forma muito constante, como várias vezes por dia ou todos os dias no decorrer de meses. "Isso gera isolamento, constrangimentos, irritabilidade e ansiedade. Quando os tiques chegam a esse nível por períodos prolongados, é um forte indicador de que podem estar ligados à síndrome."

A síndrome não tem cura, e o diagnóstico é demorado. O especialista precisa observar o comportamento do paciente ao longo do tempo, descartar hipóteses e, enfim, chegar a uma conclusão.

Só depois de tudo isso é que pode se pensar em formas de tratamento. O mais comum são medicamentos psiquiátricos, além de um acompanhamento psicológico (afinal, os sintomas também podem ser relacionados ao transtorno obsessivo-compulsivo e ao transtorno do déficit de atenção com hiperatividade). Em casos de tiques localizados, o paciente pode recorrer ao botox.

A parte boa é que os tiques diminuem na idade adulta. Aliás, é por isso que a maior parte dos diagnósticos é feita antes dos 18 anos. Mas basta um episódio de estresse para que os tiques venham à tona. Somam-se a isso os traumas que o lutador passou no decorrer da vida. Em entrevista ao Extra, Wilma Monteiro, mãe dele, creditou suas crises de pânico ao assassinato de um amigo, em 2011.

"A primeira crise aconteceu depois que ele presenciou a morte do amigo. Foi bastante chocante, e acreditamos que isso foi responsável por trazer à tona as crises fortes de ansiedade", disse ela. As crises também podem desencadear sintomas da síndrome de Tourette. À época, o rapaz abandonou a carreira pois se sentia mal antes das competições.

Nos dois casos, o acompanhamento com psicoterapia e psiquiatra é imprescindível. Desde que os profissionais do BBB 23 saibam da condição dele, o provável é que ele fique bem.

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